Barravelhense, da tribo Pataxó, foi o grande vencedor do torneio, que aconteceu no CT do Bahia
O futebol é um sonho para qualquer um. Com os indígenas não é diferente, e ontem alguns deles tiveram a chance de mostrar o talento no Centro de Treinamento Evaristo de Macedo, do Bahia, que sediou a final da 1º Copa Indígena de Futebol, com a participação de povos de diferentes etnias. Na decisão, o time Barravelhense, da tribo Pataxó, venceu por 3×0 a equipe Água Vermelha, do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, e levou o troféu para casa. O jogo terminou tal como foi iniciado: com rituais étnicos que celebravam as culturas presentes no campo.
A competição, iniciada em 30 de outubro, reuniu oito equipes formadas por jogadores das etnias Tupinambá, Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe e teve apoio do Núcleo de Ações Afirmativas do Bahia.
O coordenador do grupo, Tiago César afirmou que o clube entende que é papel deles promover a transformação social através do esporte com um programa que leve em consideração a diversidade e a inclusão, além de defender de maneira permanente a luta pelos direitos humanos. “O esporte tem essa capacidade de unir e de promover uma só voz, um só encantamento, gerar sonho e uma aproximação das pessoas”, declarou.
Bahia apoiou realização da 1ª Copa Indígena de Futebol (Foto: Paula Fróes/CORREIO) |
O tupinambá Iran Vieira, 28 anos, que fez parte de uma das equipes eliminadas antes da final, explica que sua aldeia nunca teve uma oportunidade de ser vista antes da competição promovida pelo Bahia. “Eu acredito que as portas vão se abrir mais para os povos indígenas depois desse campeonato, mas eu não posso mais me profissionalizar por causa da minha idade. Espero que um dia eu consiga dar oportunidade para que os meus filhos sigam o que eu não consegui”, se emocionou.
Treinador do time vencedor, Everton Braz afirma que, para fomentar o esporte na localidade, a maior dificuldade que a Aldeia Barra Velha – localizada a 170km de Porto Seguro, no sul da Bahia – enfrenta é a falta de recursos para investir no esporte, mas que muitas crianças da tribo almejam ser jogadoras de futebol.
“Nós temos muitos atletas que querem participar das competições, mas como que a gente vai investir? Precisamos de dinheiro para transporte, implantação de escolinhas e de campos, além da falta de equipamentos, como bola, chuteira e colete”, explicou Braz.
O discurso da dificuldade em ser visto e ter oportunidades de se profissionalizar era comum entre os indígenas. Para Luan Ramos, 19, da tribo Pataxó, se tornar profissional significa poder ajudar e impulsionar o esporte dentro da Aldeia Barra Velha. Segundo ele, as competições são bem comuns onde ele mora e, desde de quando o jogador era uma criança, a tribo realizava competições em comemoração ao Dia do Índio, em 19 de abril.
Já Gerlan de Jesus, também de 19, da tribo Tupinambá, o tempo de ser profissional já passou. “Já estou velho para ser recrutado. Nossa intenção agora é ajudar os mais novos. Eu nunca nem tive o sonho de me profissionalizar porque a gente nunca teve esperança de ser visto”, relata.
Vice-campeão, Aruantan da Silva, 22, celebrou a participação na competição e entende que todos os povos participantes do evento são vencedores, já que tiveram a chance de serem vistos por um time grande como o Bahia.
“Eu tive três oportunidades de jogar em times profissionais, mas não tinha documento de identidade e não pude ir. Hoje, eu vivo um futebol amador e, mesmo sem me profissionalizar, eu nunca vou deixar de jogar futebol. Aqui no campo a gente esquece tudo e é só alegria, perdendo ou ganhando. No momento do jogo nós somos rivais, mas quando acaba todo mundo é amigo, irmão”, contou.
Segundo o pataxó da Aldeia Barra Velha, Surui Braz, eles buscam cada vez mais espaço para os jovens dentro do esporte profissional e esperam conseguir mais recursos financeiros para investir na prática esportiva dentro da comunidade. “Estamos esperançosos, isso com certeza vai ajudar nossos povos”, concluiu.
Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro
Fonte: Correio da Bahia / Foto: Paula Fróes/CORREIO