5 livros sobre a morte que nos ensinam a viver com coragem

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morte, essa senhora de preto que insiste em nos acompanhar desde o primeiro suspiro, é ao mesmo tempo temida e ignorada. Preferimos fingir que ela não existe, como se, ao desviar o olhar, pudéssemos enganá-la. Mas, no fundo, sabemos que ela está ali, pacientemente aguardando o momento de nos lembrar que somos finitos. E talvez seja justamente essa consciência que nos impulsiona a buscar sentido, a amar com mais intensidade e a viver com mais coragem.

Encarar a morte de frente pode parecer assustador, mas também é libertador. Quando aceitamos nossa mortalidade, deixamos de lado as preocupações triviais e passamos a valorizar o que realmente importa. A literatura, com sua capacidade de explorar os recantos mais profundos da alma humana, oferece um caminho para essa reflexão. Por meio das palavras de grandes autores, somos convidados a contemplar o fim não como uma tragédia, mas como parte integrante da jornada.

Nesta seleção, a Revsta Bula traz cinco obras que abordam a morte sob diferentes perspectivas, desafiando-nos a repensar nossas crenças e medos. São livros que não apenas falam sobre o fim, mas que nos ensinam a viver com mais autenticidade e coragem. Prepare-se para uma leitura transformadora, que, ao invés de nos conduzir à escuridão, nos ilumina com sabedoria e humanidade.

Brancura (2023), Jon Fosse

Um homem dirige sem rumo até uma floresta, onde a neve começa a cair. Em vez de buscar abrigo, ele adentra a mata escura, encontrando uma figura de brancura reluzente. A narrativa, marcada por um fluxo de consciência hipnótico, conduz o leitor por uma jornada onírica que desafia as fronteiras entre realidade e sonho. Fosse explora temas como morte, fé e transcendência, criando uma atmosfera que evoca a repetição de uma oração. A escrita minimalista e a cadência meditativa convidam à introspecção, transformando a leitura em uma experiência quase mística. Neste breve romance, o autor norueguês, laureado com o Nobel de Literatura, oferece uma reflexão profunda sobre a existência e o desconhecido. A obra é uma porta de entrada para o universo literário de Fosse, onde o silêncio e o não dito têm tanto peso quanto as palavras.

A Negação da Morte (1973), Ernest Becker

Becker propõe que grande parte do comportamento humano é motivado pela tentativa de negar a própria mortalidade. Através de uma análise que combina psicologia, filosofia e antropologia, ele argumenta que criamos sistemas de crenças e culturas para lidar com o terror da morte. A obra desafia o leitor a confrontar seus medos mais profundos, sugerindo que apenas ao aceitar nossa finitude podemos viver plenamente. Premiado com o Pulitzer, o livro é uma investigação corajosa sobre a condição humana, explorando como o medo da morte influencia desde as ações individuais até os grandes movimentos sociais. Becker não oferece soluções fáceis, mas convida à reflexão sincera sobre o que significa ser mortal. Uma leitura essencial para quem busca compreender os mecanismos que regem nossas vidas e sociedades. Resta a pergunta: estamos vivendo ou apenas fugindo da morte?

Enquanto Agonizo (1930), William Faulkner

A família Bundren atravessa o Mississippi para enterrar a matriarca Addie, enfrentando uma série de obstáculos que testam seus limites físicos e emocionais. Narrado por quinze personagens diferentes, o romance utiliza o fluxo de consciência para mergulhar nas complexidades da mente humana. Faulkner explora temas como morte, identidade e o absurdo da existência, revelando as contradições e fragilidades de seus personagens. A linguagem densa e poética desafia o leitor, mas recompensa com uma compreensão mais profunda da condição humana. A jornada dos Bundren é tanto física quanto espiritual, refletindo sobre o peso das promessas e o significado da morte. Considerado um dos maiores romances do século 20, a obra é um retrato poderoso da luta entre o desejo de sentido e a inevitabilidade do fim. Uma leitura que confronta e transforma.

As Intermitências da Morte (2005), José Saramago

Em um país fictício, a morte decide tirar férias, e ninguém mais morre. O caos se instala: hospitais superlotados, funerárias falidas, famílias desesperadas. Saramago utiliza essa premissa para satirizar instituições como a Igreja, o Estado e a mídia, expondo a hipocrisia e o absurdo da sociedade. Com seu estilo característico de frases longas e pontuação peculiar, o autor conduz o leitor por uma reflexão profunda sobre a vida, a morte e o amor. A narrativa ganha um tom mais íntimo quando a própria morte se apaixona por um homem que deveria ter morrido. A obra mistura humor, filosofia e crítica social, questionando o valor que damos à vida apenas quando confrontados com sua ausência. Um convite a repensar nossas certezas e a abraçar a incerteza com coragem.

O Desespero Humano (1849), Søren Kierkegaard

Kierkegaard explora o desespero como a doença até a morte, uma condição espiritual que surge da desconexão entre o eu e seu propósito divino. Para ele, o verdadeiro desespero não é causado por perdas externas, mas pela falta de alinhamento com o próprio eu e com Deus. A obra desafia o leitor a confrontar suas escolhas e a autenticidade de sua existência. Com uma abordagem existencialista, o filósofo dinamarquês propõe que apenas ao reconhecer e enfrentar esse desespero podemos alcançar a verdadeira liberdade. A linguagem densa e filosófica exige atenção, mas oferece insights profundos sobre a natureza humana. Uma leitura que, embora escrita no século 19, permanece relevante, especialmente em tempos de crise de identidade e propósito. Kierkegaard nos lembra que a morte não é o fim mais temível, mas sim uma vida vivida sem autenticidade.

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.

Fonte: Bula Conteúdo / Foto: Reprodução

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