Foto: Metropress/Tácio Moreira

De tanque vazio e saco cheio: Embasa supera Coelba em queixas e não consegue afastar fantasma da privatização

Bahia

Replicando modus operandi da Coelba, Embasa tenta melhorar relacionamento com classe política enquanto lidera ranking de queixas no Procon

A história parece se repetir e mudar apenas de nome ou de serviço. O leitor do Jornal Metropole já deve estar bem acostumado com essa narrativa: uma empresa de um dos setores mais imprescindível para a cidade deixa a desejar em seu fornecimento e atendimento aos consumidores, mas emprega todos os esforços possíveis para agradar a classe política ao sentir qualquer risco de rompimento de contrato. Não, desta vez, não estamos falando da Coelba, mas da Embasa. Empresa de economia mista que há oito anos lidera o ranking de reclamações do Procon (Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor).

Para nossa surpresa, a empresa conseguiu superar até mesmo a Coelba e essa não é uma tarefa fácil. Só neste ano, já da Embasa foram mais de dois mil atendimentos no Procon para reclamações relacionadas à Embasa. É como se a cada dia quase oito baianos tivessem queixas a fazer sobre o fornecimento de água, saneamento e os transtornos causados por trabalhos de manutenção nas redes da empresa.

A maior parte das reclamações vem das cobranças indevidas ou serviços não fornecidos. Mas existem ainda aqueles que sequer registram queixas, enquanto precisam enfrentar a regular falta de água ou até, se der sorte, o aparecimento dela, mas de madrugada, suja, escura, com gosto estranho e causando coceira no corpo. Não são raros os casos de localidades que acabam passando até cinco dias sem água. E ainda assim as contas, essas sim, não param de chegar em casa. A solução encontrada pela população é contratar carros-pipas, comprar galões de água mineral, reutilizar água suja e mudar totalmente a rotina por falhas de uma empresa que diz ter como missão a excelência na prestação de seus serviços.

O problema dos consumidores vai além das torneiras. Os meios de comunicação parecem interditados e a população largada à sorte. A reportagem buscou respostas, mas, assim como os consumidores, não teve retorno. O Jornal Metropole selecionou abaixo algumas das mais recentes queixas de ouvintes.

O que diz a população
Joaldo Santana: Moro em Castelo Branco e, desde que mudei para o final de linha, muitos moradores se queixam que por aqui o problema da falta de água é crônico. Água só chega, muitas vezes, de madrugada.

Doria Carvalho: Moro na Avenida Fernandes da Cunha Mares. Quero fazer uma denúncia. Aqui a água chega com péssima qualidade, com uma cor marrom.

Iracema Santos: Nós, moradores da Vila Ana Silva, na Cidade Nova, estamos pedindo à Embasa para vir tampar com asfalto os buracos que ela deixou na rua.

Abimael Santos: Sou líder comunitário de Fazenda Couto e tem lugar que a água não sobe e não desce. A Embasa tem feito intervenções, mas coloca um asfalto frio, que quando chove rompe parecendo um sonrisal.

A preferência da Embasa
A atenção, no entanto, não falta a um outro público. Desde o início deste ano, Embasa e Prefeitura intensificaram uma já eterna negociação sobre a renovação e regularização do contrato. Já são 13 anos de irregularidade e, de lá para cá, pelo menos duas mudanças influenciariam na relação da empresa com a gestão municipal. A prefeitura tem colocado condições para a renovação. Entre elas, cerca de 15% de participação do faturamento da empresa e maior investimento em Salvador, que garante mais de 40% da receita da Embasa. Do outro lado, a estatal promete um volume de R$ 8,5 bilhões em projetos nos próximos dez anos e cogita criar uma subsidiária com participação da gestão municipal.

A artilharia da Embasa só não atinge o consumidor. A Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) também é um dos seus alvos. O presidente da empresa prometeu que faria visitas mensais à Casa para discutir as demandas com parlamentares. À Metropole, o próprio Leonardo Goés, disse que isso ajudaria a melhorar a relação com os municípios. Mas esse modus operandi o leitor já conhece: classe política sim, população não.

Fantasma da privatização
O serviço que não funciona cria solo fértil para a permanência de um fantasma que ronda as estatais: a privatização. No início deste ano, o governo estadual chegou a repudiar informações de que estaria dando prosseguimento à privatização da empresa baiana, mas no ano passado este cenário se tornou uma possibilidade mais próxima do que nunca. Foi sancionado o projeto de lei estadual para adequar a estatal ao Marco Legal do Saneamento. O texto autorizava que a Embasa se associasse a outras empresas. Na época, o projeto não pegou nada bem e profissionais da área protestavam intensamente. Mas, foi em vão. Assim como têm sido as reclamações dos consumidores.

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Fonte: Metro1