Para lembrar o centenário da morte de Rui Barbosa (1849-1923), a Faculdade de Direito da USP convida o público para a exposição Rui Barbosa – Marcos de Uma Atuação Plural. Até junho de 2024, será possível conferir os feitos da vida e obra daquele que foi um dos maiores juristas do Brasil. “Uma personalidade plural. Rui Barbosa atuou em vários setores da vida nacional, política e jurídica. Foi um excelente jurista e diplomata, uma figura muito importante do seu século”, define a professora Ivette Senise Ferreira, presidente da Comissão do Museu da Faculdade de Direito da USP.
A mostra apresenta diferentes contribuições de Barbosa em vida, com ênfase na participação do jurista na Faculdade de Direito. “Quando começamos a pesquisar a vida e a atuação de Rui Barbosa, nós nos deparamos com um material imenso em todos os setores da vida política e jurídica. Precisamos fazer uma condensação, porque temos um espaço pequeno de exposição na faculdade”, explica Ivette.
Tanto nos objetos presentes em vitrines quanto naqueles representados visualmente em painéis, notam-se alguns dos marcos da atuação política, jurídica e social de Barbosa. A partir de seus textos, isso fica ainda mais evidente. De acordo com Heloisa Maria Silveira Barbuy, professora sênior do Museu da Faculdade de Direito, os textos do jurista “sempre defendiam valores humanos e com base no direito, o que é o ponto central da faculdade”.
Um desses textos é lembrado até hoje: a Oração aos Moços, seu famoso discurso como paraninfo da formatura da turma de 1920. Nessa obra, publicada pela primeira primeira vez em outubro de 1921 na revista acadêmica Dionysos, Barbosa defende a luta pelas verdades constitucional, eleitoral e republicana.
A professora Ivette Senise Ferreira – Foto: Reprodução/FD-USP
Desde que ingressou no curso de Direito, em 1866, ainda em Pernambuco, até o fim da vida, Barbosa valorizou fortemente a sua formação acadêmica. Em novembro de 1917, ao receber o título de Professor Honorário da Faculdade de Direito de São Paulo – o primeiro a alcançar tal feito – o intelectual declarou: “Graduado no seu seio há 47 anos, ainda não cessou de amar a memória dos mestres que a ilustravam, nem de bendizer a escola onde se formou para a luta pela justiça, que tem sido o objeto de toda a minha vida”.
Rui Barbosa: “Um homem do mundo”
Nascido em 5 de novembro de 1849, em Salvador, Bahia, Rui Barbosa de Oliveira ocupou uma extensa lista de cargos durante a vida: foi advogado, tribuno, jurista, diplomata, escritor, jornalista, orador, deputado e senador.
Em 1866, ingressou na Faculdade de Direito do Recife, hoje ligada à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em que estudou durante dois anos e participou da associação acadêmica abolicionista fundada por Castro Alves, que era seu colega de curso. Em 1868, ambos se transferiram para o Curso Jurídico da Faculdade de Direito de São Paulo – que seria incorporada à USP em 1934, ano de fundação da Universidade – onde Barbosa concluiu os estudos.
Formado, voltou para a Bahia, onde inaugurou sua atuação no Tribunal do Júri. Já conhecido, iniciou sua carreira política no gabinete de Deodoro da Fonseca e, posteriormente, com a ascensão de Floriano Peixoto, combateu o militarismo vigente à época.
Sua presença na Universidade se fortaleceu com a sua atuação como político. Em 1909, quando se tornou candidato civil à Presidência da República, inovou as formas de fazer política: foi o primeiro candidato à Presidência que percorreu diferentes regiões do Brasil para promover a sua campanha eleitoral – estratégia que, desde então, é comum no País.
Em 18 de dezembro daquele ano, o jurista retornou à Faculdade Direito, a fim de promover a sua candidatura. “Isso aconteceu com muito apoio dos estudantes, que eram mobilizados e participantes de grupos políticos de São Paulo, além de antigos alunos. A faculdade foi, desde o início, um centro de efervescência política de defesa de valores democráticos – e Rui Barbosa foi uma figura muito importante no fortalecimento desses valores”, explica Heloisa Barbuy. Ainda que soubesse que não havia chances de vencer as eleições, Barbosa fazia questão de concorrer em prol de um Brasil mais moderno e mais democrático, conta a professora.
A professora Heloisa Barbuy – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Rui Barbosa, a quem a professora Ivette Senise Ferreira se refere como “um homem do mundo” e “que pertencia a toda parte”, teve ampla e significativa participação na diplomacia brasileira. Seus feitos foram importantes de tal maneira que, até hoje, ecoam na justiça, política e história brasileiras.
Na Segunda Conferência da Paz, que ocorreu em Haia, na Holanda, em 1907, Rui Barbosa foi nomeado Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Brasil, a fim de representar o País. As Conferências da Paz foram reuniões diplomáticas que abriram espaço para um sistema de relações internacionais que, após a Segunda Guerra Mundial, daria origem à Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945.
“Nessa conferência, ele foi um defensor incansável de um ideal de cooperação entre as nações e da criação de instituições internacionais para a promoção da paz e da justiça”, explica Ivette.
Desde o período em que estudou até as suas atividades como ex-aluno, visitante e homem público, os prédios históricos da faculdade que fica localizada no Largo São Francisco, no centro de São Paulo, estão repletos de artefatos e feitos simbólicos que marcam a presença do jurista no local.
“Além de suas contribuições na política, no direito e na própria sociedade, Rui Barbosa foi um defensor da educação e da cultura igual para todos, um grande incentivador da criação de bibliotecas públicas para a leitura”, acrescenta a professora Ivette. “Ele deixou um legado muito grande de luta pela democracia, pela justiça social e pelos direitos humanos. Inspirou muitos alunos da Faculdade de Direito a continuarem a lutar pelos mesmos ideais que ele lutava e a contribuir para a construção de um Brasil melhor e mais justo para todos.”
A exposição Rui Barbosa – Marcos de Uma Atuação Plural fica em cartaz até junho de 2024, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas, no Museu da Faculdade de Direito da USP (Largo São Francisco, 95, primeiro andar, Centro, São Paulo). Entrada grátis. Mais informações estão disponíveis no site da Faculdade de Direito da USP.
*Estagiária sob supervisão de Roberto C. G. Castro
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
Fonte: Jornal da USP