Profundas fissuras sociais colocam as pessoas e o planeta em risco de colisão, segundo relatório do PNUD

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A pandemia da COVID-19 é a crise mais recente do mundo, mas não será a última, a menos que os humanos moderem as pressões sobre o planeta. É o que afirma o relatório lançado nesta terça-feira (15) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

O documento inclui um novo índice experimental sobre o progresso humano. Esse índice integra as emissões de dióxido de carbono e a pegada material dos países (medida de extração de matéria-prima no mundo para atender à demanda nacional).

Quarta, 16 de dezembro de 2020


A pandemia da COVID-19 é a crise mais recente do mundo, mas não será a última, a menos que os humanos moderem as pressões sobre o planeta. É o que afirma o relatório lançado nesta terça-feira (15) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O documento inclui um novo índice experimental sobre o progresso humano. Esse índice integra as emissões de dióxido de carbono e a pegada material dos países (medida de extração de matéria-prima no mundo para atender à demanda nacional).

“O poder que nós, humanos, exercemos sobre o planeta não tem precedentes. Diante da COVID-19, de temperaturas que quebram recordes históricos e de uma desigualdade que vem se reproduzindo, é chegado o momento de usar esse poder para redefinir o que entendemos como progresso, para que nossas pegadas de carbono e consumo não permaneçam ocultas”, disse o administrador mundial do PNUD, Achim Steiner.

A edição do 30º aniversário do Relatório de Desenvolvimento Humano, “A Próxima Fronteira: Desenvolvimento Humano e o Antropoceno”, considera que as pessoas e o planeta estão entrando em uma era geológica inteiramente nova, o Antropoceno ou era dos humanos. Nesse contexto, afirmam os autores, é chegado o momento de todos os países, ricos e pobres, redesenharem suas trajetórias de progresso, assumindo plenamente as tensões que estamos exercendo sobre a Terra e desmontando os enormes desequilíbrios de poder e de oportunidades que impedem a mudança.

O relatório apresenta uma variante experimental do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ao ajustar o IDH, que mede a saúde, a educação e o padrão de vida dos países, para incorporar dois outros elementos – emissões de dióxido de carbono e pegada material dos países -, o novo índice ilustra a transformação que pode ocorrer no campo do desenvolvimento se o bem-estar das pessoas e a integridade do planeta forem considerados conjuntamente como pedras angulares da definição do progresso humano.

O estudo apresenta aos líderes mundiais uma dura realidade: “Este relatório nos mostra a urgência de fazermos uma transformação sistêmica que nos ajude a repensar como os humanos se relacionam com o planeta e a mudar as normas sociais e os sistemas de governança para criar sociedades produtivas, inclusivas e resilientes, que trabalhem lado a lado com a natureza “, afirmou o diretor regional do PNUD para a América Latina e o Caribe, Luís Felipe López-Calva.

O Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Pressão Planetária (PHDI na sigla em inglês) traz à luz uma nova imagem do mundo com uma perspectiva menos idílica e mais sincera do progresso humano. Por exemplo, mais de 50 países saíram do grupo de desenvolvimento humano muito alto, como reflexo de sua dependência de combustíveis fósseis e sua pegada material, no entanto, países como Costa Rica, Moldávia e Panamá subiram pelo menos 30 posições, mostrando que é possível reduzir a pressão sobre o planeta.

Novas estimativas preveem que, até o ano 2100, os países mais pobres do mundo poderão enfrentar até mais 100 dias de clima extremo por ano devido à mudança global do clima, um número que pode ser cortado pela metade se o Acordo de Paris for totalmente implementado.

Apesar disso, os combustíveis fósseis continuam a receber subsídios: de acordo com dados do FMI mencionados no relatório, o custo total para as sociedades derivado dos subsídios públicos aos combustíveis fósseis – incluindo custos indiretos – é estimado em mais de US $ 5 trilhões anualmente, o que equivale a 6,5% do PIB mundial. Por outro lado, as medidas relacionadas ao reflorestamento e à melhoria da conservação florestal por si sós poderiam cobrir cerca de um quarto das ações necessárias até 2030 para evitar um aumento da temperatura global de 2°C em comparação com os níveis pré-industriais.

“A próxima fronteira do desenvolvimento humano não deve ser entendida como um dilema entre as pessoas e o meio ambiente, mas sim reconhecer que, hoje, o progresso humano sustentado por um crescimento desigual e baseado no carbono é um ciclo completamente esgotado”, afirmou o diretor do escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição.

O RDH deste ano mostra que as desigualdades entre e dentro dos países, com suas raízes profundas no colonialismo e no racismo, fazem com que as pessoas que têm mais colham os benefícios da natureza e transfiram os custos. Isso sufoca as oportunidades para quem tem menos e limita drasticamente a capacidade dessas pessoas de agirem nessa situação.

O relatório acrescenta que essas desigualdades poderiam ser enfrentadas com ações do setor público e oferece exemplos que vão desde a aplicação de regimes fiscais mais progressivos à proteção das comunidades costeiras por meio de investimentos preventivos e mecanismos de seguro, medidas que poderiam proteger até 840 milhões de pessoas nas regiões costeiras do mundo. No entanto, esforços devem ser feitos de forma concertada para que as medidas adotadas não contribuam ainda mais para o confronto das pessoas com o planeta.

Para obter mais informações sobre o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2020 e a análise do PNUD do novo Índice de Desenvolvimento Humano ajustado para as pressões planetárias, visite http://hdr.undp.org/en/2020-report

Fonte: ONU

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