Fred Schwaller – Sábado, 3 de fevereiro de 2024
Pesquisa aponta mais de 6 milhões de mortes evitadas na UE desde 1988. Menos tabagismo e melhor diagnóstico e tratamento motivam tendência – mas alguns países registram leve alta da mortalidade na população mais jovem.
Um novo estudo com dados da União Europeia (UE) e do Reino Unido indica que, em geral, as mortes por câncer colorretal, também conhecido como câncer de intestino, estão diminuindo. O levantamento, publicado na revista especializada Annals of Oncology, indica que a doença está ceifando menos vidas do que há 30 anos.
De acordo com os dados, 6,2 milhões de mortes por todos os tipos de câncer foram evitadas na UE desde 1988, e 1,3 milhão de mortes foram evitadas no Reino Unido. A pesquisa usou dados populacionais da Organização Mundial da Saúde (OMS) para prever as mortes relacionadas ao câncer para 2024 em todas as formas da enfermidade.
“A queda nas taxas de mortalidade por câncer colorretal foi de 4,8% em homens e 9,5% em mulheres. O motivo da queda é a diminuição das taxas de tabagismo, juntamente com um melhor diagnóstico e melhor tratamento para o câncer”, disse à DW Carlo La Vecchia, da Università degli Studi di Milano, de Milão, Itália, que liderou o estudo.
As maiores reduções nas taxas de mortalidade por câncer colorretal são para pessoas com mais de 70 anos de idade. Mas há uma redução geral na incidência e mortalidade do câncer de intestino, constatação que La Vecchia descreveu como “motivo para otimismo”.
“As taxas de mortalidade do câncer colorretal costumavam ser de 50% a 60%, mas agora caíram para 20% a 30%. Isso é uma grande conquista”, comentou Michael Bretthauer, professor de medicina da Universidade de Oslo, Noruega.
A redução nas taxas de mortalidade se deve a melhores técnicas com uso de colonoscopia, em que o tecido canceroso no intestino inferior e no reto é removido cirurgicamente, assim como melhores medicamentos para o tratamento do câncer e melhores métodos de exame para detectar a doença mais cedo.
Mortalidade cresceu na faixa etária abaixo dos 50
O estudo também constatou que as taxas de mortalidade por câncer colorretal estão aumentando em pessoas com menos de 50 anos de idade.
As taxas de mortalidade em pessoas mais jovens na Itália, Polônia e Espanha, para homens, e na Alemanha, para mulheres, aumentaram de 5% a 7%, enquanto as taxas no Reino Unido aumentaram 26%.
“Vemos uma reversão das tendências para pessoas com menos de 50 anos. Um crescimento maior no Reino Unido e também observado em outros países europeus. Podemos associar isso ao aumento do rastreamento de cânceres colorretais e a taxas mais altas de obesidade, que é um fator de risco”, disse La Vecchia.
No entanto, Bretthauer ressalta que os números absolutos de pessoas com menos de 50 anos de idade que sofrem de câncer colorretal são extremamente baixos e não são motivo de preocupação.
“Tem havido muito alarde na mídia sobre o aumento do número de cânceres colorretais em jovens, mas se analisarmos o risco absoluto em vez do risco relativo, as taxas são muito baixas”, ponderou Bretthauer.
As taxas de mortalidade em alemães com menos de 50 anos, por exemplo, são de 2,53 por 100 mil pessoas, em comparação com 164 por 100 mil pessoas com mais de 70 anos.
“O câncer colorretal é principalmente uma doença da terceira idade. É por isso que vemos incidências menores da doença em países em desenvolvimento com populações mais jovens”, disse Bretthauer. “Se você tem 30 ou 40 anos de idade, o risco é muito baixo.”
O que causa o câncer colorretal?
Os cientistas entendem os “fatores de risco” que podem influenciar a doença, mas não completamente como eles causam o câncer, disse Bretthauer.
O tabagismo, a obesidade e a dieta são fatores de risco bem estabelecidos, por exemplo, mas não se sabe bem como eles afetam diretamente a doença.
“A obesidade é um fator de risco importante, mas não é tão alto quanto o tabagismo. A dieta também é fundamental, mas as evidências são muito variadas. Por exemplo, é provável que não haja associação entre carne vermelha e câncer colorretal. Mas não sabemos realmente os mecanismos por trás de como esses fatores podem causar cânceres colorretais”, disse Bretthauer.
Álcool é fator de risco
Parar de beber pode reduzir a probabilidade de ter câncer colorretal. Um relatório da OMS publicado em dezembro de 2023 concluiu que o consumo de álcool é um fator de risco para os câncer colorretal.
Beatrice Lauby-Secretan, que dirige a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês) da OMS e liderou a realização do estudo, disse que há ligações diretas entre o consumo de álcool e o câncer colorretal.
“O etanol, o principal álcool das bebidas alcoólicas, é transformado em acetaldeído. O acetaldeído é genotóxico e causa danos ao DNA, levando a mutações carcinogênicas. O acetaldeído altera a composição do microbioma intestinal, o que leva à permeabilidade intestinal. Isso, por sua vez, desencadeia a inflamação, que é conhecida por aumentar o risco de câncer”, disse Lauby-Secretan à DW por e-mail.
Reduzir ou interromper o consumo de álcool pode, então, reverter os efeitos de longo prazo do álcool sobre o corpo, principalmente pela diminuição dos danos ao DNA em poucos meses após a interrupção, disse Lauby-Secretan.
As taxas de câncer estão aumentando no mundo devido ao envelhecimento crescente da população. Lauby-Secretan disse que a maneira mais eficaz de combater o problema é por meio de mudanças no estilo de vida. “Evitar o fumo, reduzir o consumo de álcool e manter um peso saudável, ajuda a reduzir o risco de desenvolvimento de câncer.”
Fonte: DW