OMS aponta que a cárie é a segunda doença mais comum do mundo e só perde para o resfriado. Veja como prevenir
Pelo menos 16 milhões de pessoas no Brasil não têm nenhum dente, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A maioria das pessoas afetadas são idosos.
O que pode causar a perda dentária? São vários fatores: falta de cuidados com a higiene bucal, adiar o tratamento que precisa ser feito e até o uso de alguns medicamentos.
Em um hospital odontológico de São Paulo, por exemplo, nove em cada dez pacientes chegam com a saúde da boca comprometida por causa da demora em buscar tratamento. No caso da enfermeira Andréa Tavares, a razão foi o medo de ir ao dentista.
“Eu iniciava o tratamento e o medo era tanto que eu chegava a sentar na cadeira, mas pedia pra levantar e ir embora. Percebia que nem anestesia tirando a dor adiantava pra mim. Com isso, eu saía do primeiro atendimento e não voltava mais”, disse
Enquanto o tempo passava, as lesões de cárie foram se multiplicando em sua boca, o que tornou impossível a recuperação dos dentes.
“Eles fizeram a parte da limpeza, higiene, e conforme foram fazendo restauração, canal, foram vendo que tinha muito o que fazer, e aí eles optaram pela prótese dentária, o que mudou todo o tratamento”, conta
Com a prótese, Tavares ganhou autoestima e uma oportunidade de emprego. Mais do que isso: qualidade de vida. Principal vilã da saúde bucal, a cárie é a segunda doença mais comum do mundo, só ficando atrás do resfriado, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). São quase três bilhões de pessoas afetadas pelo problema em nível global.
O que é a cárie?
Elas surgem a partir de bactérias que se alimentam dos restos de alimento depositados nos dentes. Esses microrganismos formam placas e produzem um ácido que, aos poucos, vai corroendo os minerais que formam o dente, até formar um buraco.
A cárie é considerada uma doença crônica não transmissível e, em 2015, o gasto com seu tratamento em todo o mundo foi de 245 bilhões de dólares, segundo estudo da Universidade britânica Kings College London.
Como prevenir a cárie?
O flúor é um mineral poderoso na prevenção da doença. A dentista Gabriela Couto explica que ele promove a remineralização do dente, ou seja, consegue pegar o cálcio da saliva e devolver para os dentes. O mecanismo impede a bactéria, que normalmente habita a boca, de fazer os temidos “buraquinhos”.
Segundo a especialista, a concentração do produto em consultórios odontológicos é “muito maior” do que em soluções caseiras. No entanto, a maioria das pastas de dente disponibilizadas no mercado também conta com o mineral, em menor escala.
A alimentação também é um fator importante para a formação da cárie. Segundo a diretora da Faculdade de Odontologia da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD), Sofia Takeda, é importante pensar no açúcar que ingerimos. Seja pela frequência em que consumimos alimentos açucarados ou pela forma em que o açúcar aparece no alimento.
“Quanto mais grudento [o alimento], mais tempo fica sobre os dentes”, alerta
Flúor pode ser encontrado na água encanada
No Brasil, uma lei aprovada em 1974 obriga qualquer estação de tratamento de água a ajustar a concentração do fluoreto, para que seja capaz de auxiliar na prevenção de alguns casos de cárie, de acordo com o professor titular de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) Paulo Frazão. O produto é colocado na etapa final do tratamento, quando a água já está filtrada.
Apesar de não exigir alta tecnologia e ter um custo baixo, nove capitais brasileiras não cumprem a legislação: Porto Velho, Rio Branco, Boa Vista, Belém, Natal, João Pessoa, Recife, Maceió e Teresina.
O projeto “Sorriso saudável, futuro brilhante”, idealizado pela Colgate, leva há mais de 30 anos a importância da saúde bucal para todo o Brasil. As ações incluem orientação para crianças e adultos sobre a necessidade da escovação correta e o uso do flúor. Saiba mais.
Acesso ao dentista
Os dados de prevenção e tratamento são preocupantes. Segundo o IBGE e o Ibope, no Brasil, 20 milhões de brasileiros nunca foram ao dentista. Outras 39 milhões de pessoas usam próteses dentárias, sendo que uma em cada cinco delas tem entre 25 e 44 anos.
Atendimento odontológico no SUS
Em 2023, foi sancionada uma lei que obriga municípios, estados e a União a fornecer o tratamento para a saúde bucal da população pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a fila de espera para os serviços é grande. Pode chegar a três meses em São Paulo, por exemplo. Maranhão e Pará são os estados com o menor número de dentistas para atender a população.
Metade das crianças até 5 anos têm cárie
Para a Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas, os dados do Ministério da Saúde são alarmantes: 50% das crianças de 0 a 5 anos têm cárie. Um dos motivos é a falta de orientação sobre como se alimentar corretamente e como escovar os dentes.
O estudante de odontologia Daniel Nozaki diz que a cárie é comum entre as crianças por causa do consumo de produtos industrializados e que, muitas vezes, os pais também acabam deixando de lado a escovação.
Takeda ressalta que, ainda que na escola exista orientação para os professores, as crianças passam a maior parte do tempo em casa. Daí a importância de esclarecer os pais e responsáveis.
Tratamento odontológico por I.A
Em quase 150 anos, os tratamentos e a qualidade dos serviços oferecidos pela odontologia evoluíram muito. Esse universo, que hoje já conta com a inteligência artificial, tem um poder transformador que vai além do sorriso.
Hoje, a I.A consegue até mesmo guiar cirurgias bucais. Além disso, já existe um equipamento que trata a cárie com laser. O desafio, porém, é ampliar o acesso à tecnologia: ainda há poucas máquinas como essa disponíveis no Brasil.
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Fonte: SBT News