Apesar do Acordo de Paz, Colômbia tem oito conflitos armados em andamento

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Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), disputas no país seguem violando o Direito Humanitário Internacional

Passados sete anos da assinatura do Acordo de Paz, a Colômbia não é um país em guerra, mas em guerras. Segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV)há em andamento no país sul-americano oito conflitos armados de caráter não internacional. Um a mais do que o registrado em 2022.

Os dados fazem parte de um relatório divulgado nesta quarta-feira (3) pela organização internacional e revelam que os conflitos no país têm se expandido para outras regiões. Além disso, eles envolvem não somente as forças do Estado e grupos armados irregulares, mas também disputas territoriais entre os próprios grupos paramilitares.

De acordo com a CICV, dos oito conflitos armados, três deles são entre o Estado colombiano e os seguintes grupos, respectivamente: o Exército de Libertação Nacional (ELN), as Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (AGC) e as antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc-EP) que atualmente não respeitam o Acordo de Paz.

Os outros cinco conflitos são entre grupos armados não estatais: um entre o ELN e as AGC; e os quatro restantes, entre as antigas FARC-EP com os grupos Segunda Marquetalia, os Comandos de la Fronteira – Exército Bolivariano, o ELN e as AGC. Esse último conflito foi classificado recentemente pelo CICV.

Impacto humanitário

A continuação dos conflitos armados no território colombiano traz uma série de consequências às comunidades que se veem em meio a essas disputas territoriais. Segundo o CICV, o deslocamento em massa atingiu 50.236 pessoas no país no ano passado, uma diminuição de 13% em relação a 2022.

No entanto, chegou a outros departamentos como Amazonas, Huila, Meta e La Guajira, que em 2022 não tinham registrado deslocamentos em massa, mas em 2023 tiveram mais de mil pessoas afetadas.

Vítimas de artefatos explosivos

Durante 2023, foram registradas 380 vítimas diretas de minas antipessoal, restos explosivos de guerra, artefatos lançados e artefatos de detonação controlada na Colômbia.

Do total de vítimas registradas, 54 % corresponde à população civil, 40,5% à força pública e 5,5 % a grupos armados não estatais. Dessas, 61 morreram.

Isso representa uma diminuição de 27% em relação a 2022. Mas, segundo a Cruz Vermelha, não significa uma redução da presença, uso e abandono de artefatos explosivos, mas uma mudança na forma de uso, já que, paralelamente, houve um aumento significativo no número de vítimas por artefatos ativados pela própria vítima.

Confinamento

As disputas territoriais e a presença de artefatos explosivos levaram ao confinamento de 47.013 pessoas, o que representa um aumento de 19% no âmbito nacional em comparação com 2022, aponta o relatório.

“Na Colômbia existem comunidades inteiras que não podem circular livremente através dos seus território porque o medo e a ansiedade continuam a condicionar a vida destas pessoas”, afirma Lorenzo Caraffi, chefe da delegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha no país.

Segundo a organização, a presença, seja de um único artefato ou de sua suspeita, pode deixar uma comunidade inteira confinada por longos períodos ou, em ocasiões, de maneira intermitente. Isso limita o acesso a recursos essenciais como fontes de água, educação e cuidados de saúde.

Desaparecidos

Desde a entrada em vigor do Acordo de Paz em 2016 até dezembro de 2023, 1.476 pessoas desapareceram na Colômbia devido aos conflitos armados e à violência, alerta a CICV.

Somente em 2023, foram 222 casos documentados pela organização, sendo que 75% deles foram registrados em Arauca, Cauca, Nariño, Norte de Santander, Chocó e Valle del Cauca, regiões historicamente afetadas por esses conflitos.

Ainda segundo o relatório, desses 222 casos, 49 correspondem ao desaparecimento de crianças e adolescentes.

“A análise dessa problemática destaca a vulnerabilidade que enfrentam a infância e a juventude em meio aos conflitos armados e à violência. O desaparecimento de menores de idade tem um impacto psicológico e psicossocial duradouro nas comunidades, pois representa uma tragédia que vai além da perda individual e coloca em risco o futuro da sociedade”, pontua o relatório.

Acordo de Paz

Assinado em novembro de 2016 pelo então presidente colombiano Juan Manuel Santos e as Farc, o acordo de paz colocou fim a um guerra civil de meio século entre o governo colombiano e a guerrilha e foi considerado um marco histórico na história recente do país. Contudo, desde então, muitos aspectos desse acordo ainda não garantiram o fim dos conflitos armados e muito menos a segurança da população rural colombiana.

Muitos lugares antes controlados pelas Farc passaram a ser alvo de disputa entre outros grupos paramilitares com a retirada da guerrilha e a incapacidade do governo colombiano de se fazer presente nessas regiões.

Gustavo Petro, ex-guerrilheiro e primeiro presidente de esquerda da Colômbia, foi eleito em 2022 justamente com a promessa de encerrar de vez o conflito armado no país. Ele defende uma política de “paz total” e retomou as negociações entre o governo e os grupos paramilitares como o Exército de Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha ativa do país, que estavam suspensos desde 2019. O cessar-fogo foi renovado no início deste ano e está previsto para durar até 15 de julho.

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Fonte: SBT News