Trabalhar sentado por longos períodos, sem pausas, pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares

Bahia Brasil Ciências saúde

Raquel Casarotto explica como otimizar o ambiente de trabalho e quais exercícios realizar para evitar o comportamento sedentário

Radio USP

Por Julio Silva* – Quarta, 1 de maio de 2024

Estudo feito pela Universidade Médica de Taipei, em Taiwan, acompanhou cerca de 480 mil pessoas ao longo de 20 anos e indicou que trabalhar muito tempo sentado pode aumentar em até 16% o risco de morte precoce. Raquel Casarotto, professora do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (Fofito) da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo, discorre sobre os riscos associados a passar longos períodos nessa posição e como ajustar o corpo ao ambiente de trabalho.

Raquel Casarotto – Research Gate

Segundo a docente, passar longos períodos trabalhando sentado aumenta o risco de surgimento dos chamados problemas musculoesqueléticos, que são distúrbios e lesões que ocorrem nos músculos, nervos, articulações, cartilagens e discos da coluna vertebral e costumam ser acompanhados de dores e incômodos. Ela conta que os problemas posturais mais comuns afetam duas regiões da coluna: a cervical, que fica na região do pescoço, e a lombar, a parte de baixo das costas.

“Além das dores na coluna cervical, na região do pescoço, e na coluna lombar, que é a parte de baixo da coluna, se uma pessoa trabalha sentado e tem um posto de trabalho que não está ajustado adequadamente a ela, também podem ocorrer dores em outros locais, como no ombro, no joelho, no quadril, tornozelo e nos membros superiores, como punho e cotovelos”, afirma.

Problemas vasculares

De acordo com a especialista, além dos problemas musculoesqueléticos, essa forma de trabalho também pode provocar um comportamento sedentário que, por sua vez, acarreta em problemas de saúde mais graves. Uma das complicações relacionadas a essa conduta é o aumento da resistência à insulina que, segundo ela, é responsável por causar o aparecimento da diabete tipo 2.

Conforme Raquel, outra dificuldade causada pelo comportamento sedentário é o aumento da quantidade de lipídios na circulação sanguínea, que causa obstrução vascular, também conhecida como aterosclerose. Ela afirma que as doenças cardiovasculares mais comuns decorrentes do entupimento das artérias são os infartos e os acidentes vasculares cerebrais (AVCs), popularmente conhecido como derrames.

“Além desses problemas mais comuns, pode-se ter também a obstrução vascular periférica, que, dependendo da gravidade, pode causar até a amputação de membros. Então, essas doenças todas são causadas pelo aumento de lipídios circulantes, por isso, é importante evitar esse comportamento sedentário”, discorre.

Como evitar

Como explica a professora, é importante que os indivíduos que trabalham longos períodos sentados não fiquem nessa posição em seu tempo de lazer fora do ambiente de trabalho. Ela alerta que mesmo a prática de atividades físicas isoladamente não é capaz de amenizar os transtornos causados por permanecer muito tempo sentado e, portanto, para reduzir esses efeitos é importante organizar pausas para se movimentar durante a jornada de trabalho.

“Esses problemas ocorrem independentemente da prática de atividades físicas. Então, se uma pessoa fica oito horas sentado no trabalho, depois mais três horas sentado vendo televisão e então vai correr uma hora na academia não adianta nada, isso ainda vai aumentar o risco para todas essas doenças vasculares”, avalia.

Segundo a docente, os trabalhadores frequentemente precisam se movimentar dentro do espaço da própria empresa. Ela conta que os especialistas fazem algumas sugestões básicas sobre como se exercitar no local de trabalho e que fazem total diferença para o bem-estar e o combate a doenças. 

“Temos aquelas orientações básicas: se for trabalhar de condução, desce um ponto antes para andar mais. Durante o trabalho é importante organizar pausas, sair para andar, levar um documento, tomar um café, ir ao banheiro, andar mais dentro da própria empresa. Se tem andares, vai para um andar, depois para o outro”, orienta.

Postos de trabalho

De acordo com Raquel Casarotto, as pausas e movimentações no trabalho reduzem os riscos de adquirir as doenças cardiovasculares, mas, para amenizar os problemas musculoesqueléticos, é fundamental ajustar o ambiente de trabalho. Ela diz que os trabalhadores que têm essas dores geralmente possuem cadeiras que não estão adequadas às medidas antropométricas do seu corpo, além de uma disposição ruim do mobiliário.

Conforme a professora, as variáveis relacionadas ao ambiente de trabalho que geram mais dores no sistema musculoesquelético envolvem utilizar cadeiras que apoiam apenas a região lombar, ter o mouse afastado do teclado, ter a cabeça inclinada 45º para baixo e trabalhar mantendo os dois braços acima do nível da mesa. Ela alerta, contudo, que não adianta ter o posto de trabalho adequado e continuar sentado por longas horas, pois os problemas vão continuar.

“O ideal é, quando você ficar cansado, começar a se sentir incomodado, você levantar, tem um trabalho que mostra que, a partir de 40 minutos sentado, já começam a aparecer os sinais de fadiga. Não temos uma recomendação precisa de horas, mas a recomendação em geral, que nós especialistas damos, é que a cada uma hora as pessoas se levantem”, finaliza.

Jornal da USP no Ar 
Jornal da USP no Ar é uma parceria da Rádio USP com a Escola Politécnica e o Instituto de Estudos Avançados. No ar, pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h e às 16h45. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular. 

Fonte: Jornal USP / Passar longos períodos trabalhando sentado aumenta o risco de surgimento dos chamados problemas musculoesqueléticos – Fotomontagem de Jornal da USP com imagens de yanalya/Freepik

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *