Por Welber Santos (Portal Ipirá City) – Segunda, 20 de maio de 2024
Por pedagogia entendo como um conjunto de ideias, concepções de mundo, educação, sociedade, vida, que, agenciadas com a prática, seja capaz de materializar-se no cotidiano. É a práxis!
De modo tradicional, primeiro nos apropriamos da teoria para em seguida tentar colocá-la na prática. Ari subverteu essa ordem. Primeiro se dedicou literalmente de corpo e alma para a cidade de Ipirá. Se doou por inteiro. Esqueceu-se até de si próprio, relegando vaidades e até sonhos pessoais ao acaso. Caso desse para realizar, tudo bem. Se não, estaria satisfeito nas lutas coletivas. Essas sim lhes produziam gozos múltiplos intelectuais.
Diante de qualquer injustiça, de desequilíbrio social como a acumulação excessiva de capital por uns poucos, virava literalmente uma fera. Gritava. Partia pra cima, pois, o todo era maior do que as partes. O coletivo se sobrepunha ao individual.
Nessa construção pedagógica, tinha uma capacidade enorme, gigante e inigualável de perdoar quem já lhe fez injúrias, injustiça e violência simbólica. Perdoava sim, mas sem jamais esquecer. Acima de qualquer crença que possa existir nesse mundo, tinha um coração que cabiam todos. Era impressionante essa capacidade de amar: as pessoas, a educação, a luta por toda classe trabalhadora. Ah, e como amava também os animais. Aliás, scooby (o cachorro da família) deve tá muito choroso.
Que pedagogia! Ari materializou Che Guevara em “hay que endurecerse pero sin, perder la ternura jamás”. Brigava, gritava, argumentava, ao tempo que se abria completamente à escuta e ao diálogo. Materializou Paulo Freire quando vivia do “esperançar”. Não um esperançar líquido e sem substância largado a todo instante nos caminhos entrecortados do mundo digital. O esperançar de Ari era verbo. Ação. Reflexão. Uma dialética permanente. Esperançar era e sempre foi acreditar numa educação; num mundo melhor, numa Ipirá idealizada, mas sempre atento às condições materiais e circunstanciais dadas da realidade da vida. Portanto, um esperançar Freiriano. Firme.
Toda classe trabalhadora perde. A educação perde. Nossa cidade fica órfã de um grande líder e mais ainda de um ser humano digno de todas as honras.
Mas sua pedagogia, que ultrapassou os muros da escola, fica. É eterna e simbólica e vai se perpetuar em seus ensinamentos práticos com toda carga de amorosidade que espalhou e deixou entre nós. A pedagogia Arismariana é amorosa, terna, o que significa dizer que amor e luta são extremamente conciliáveis, agenciáveis e passíveis de conviverem lado a lado. Amar é lutar pelo bem comum. Obrigado Ari!
Welber Santos