Segunda, 1 de julho de 2024
Genebra, 25 de junho de 2024 – Relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) recentemente destaca que 2,6 milhões de mortes por ano podem ser atribuídas ao consumo de álcool, representando 4,7% de todas as mortes. O documento também destaca que 0,6 milhão de mortes por ano estão relacionadas ao uso de drogas psicoativas. O relatório de status global sobre álcool, saúde e o tratamento de transtornos por uso de substâncias chama a atenção para o fato de que a maior parte dessas mortes (2 milhões de mortes por conta do álcool e 0,4 milhão por conta de drogas) ocorreram entre homens.
No relatório, com base em dados coletados em 2019, a OMS fornece uma atualização abrangente sobre status do consumo e o impacto na saúde pública do uso de álcool e drogas. De acordo com o levantamento, cerca de 400 milhões de pessoas sofriam de transtornos relacionados ao uso de álcool e drogas, das quais 209 milhões eram dependentes de álcool.
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que “o uso de substâncias [álcool e outras drogas] prejudica seriamente a saúde, aumenta o risco de doenças crônicas e transtornos mentais e causa milhões de mortes evitáveis todos os anos. É uma tragédia para as famílias e sociedades e aumenta a probabilidade de acidentes, lesões e violência. Para tornar nossas sociedades mais equitativas e saudáveis, precisamos implementar urgentemente medidas fortes para reduzir as consequências negativas do uso de álcool e garantir tratamentos para transtorno por uso de substâncias mais econômicos e acessíveis para todas as pessoas”.
O relatório destaca ainda a necessidade urgente de acelerar as ações em todo o mundo para atingir a meta 3.5 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, reduzindo o consumo de álcool e drogas e melhorando o acesso ao tratamento de qualidade para os transtornos relacionados ao uso de substâncias.
Consequências do consumo de álcool para a saúde
Apesar de alguma redução nas taxas de mortalidade relacionadas ao álcool desde 2010, o número total de mortes devido ao consumo de álcool permanece inaceitavelmente alto chegando a 2,6 milhões em 2019, com os números mais altos na região europeia e na região africana.
As taxas de mortalidade devido ao consumo de álcool por litro de álcool consumido são mais altas em países de baixa renda e mais baixas em países de alta renda.
De todas as mortes atribuíveis ao álcool em 2019, estima-se que 1,6 milhão de mortes foram causadas por doenças não transmissíveis, incluindo 474 mil mortes por doenças cardiovasculares e 401 mil por câncer.
Cerca de 724 mil mortes foram causadas por lesões, como as decorrentes de acidentes de trânsito, lesões autoprovocadas e violência interpessoal. Outras 284 mil mortes foram associadas a doenças transmissíveis. Por exemplo, foi demonstrado que o consumo de álcool aumenta o risco de transmissão do HIV, resultante de um maior risco de sexo desprotegido e do aumento do risco de infecção e mortalidade por tuberculose, suprimindo uma gama de respostas imunológicas.
A maior proporção (13%) de mortes atribuíveis ao álcool em 2019 ocorreu entre jovens de 20 a 39 anos.
Tendências de consumo de álcool
O consumo total de álcool per capita na população mundial diminuiu ligeiramente de 5,7 litros em 2010 para 5,5 litros em 2019. Os maiores níveis de consumo per capita em 2019 foram observados na Região Europeia da OMS (9,2 litros) e na Região das Américas (7,5 litros).
O nível de consumo de álcool per capita equivale, em média, a 27 gramas de álcool puro por dia, aproximadamente equivalente a dois copos de vinho, duas garrafas de cerveja ou duas doses de destilados. Esse nível e frequência de consumo estão associados a riscos aumentados de inúmeras condições de saúde, além de mortalidade e deficiência associadas.
Em 2019, 38% dos consumidores regulares se envolveram em episódios de consumo excessivo de álcool, definido como a ingestão de pelo menos 60g de álcool em uma ou mais ocasiões no mês anterior – equivalente a cerca de 4 ou 5 copos de vinho, garrafas de cerveja ou doses de destilados. Os dados indicam que o consumo excessivo e persistente de álcool foi mais prevalente entre os homens.
Globalmente, 23,5% dos jovens de 15 a 19 anos eram consumidores regulares de álcool. As taxas mais altas nessa faixa etária foram observadas na Região Europeia (45,9%), seguida pelas Américas (43,9%).
Lacunas no tratamento de transtornos por uso de substâncias
Existem opções de tratamento eficazes para transtornos por uso de substâncias, mas a cobertura permanece baixa. A proporção de pessoas em contato com serviços de tratamento variou de menos de 1% a 35% em 2019, nos países que forneceram esses dados.
A maioria dos 145 países que informaram dados não tinha uma linha orçamentária específica ou informações sobre os gastos governamentais para o tratamento de transtornos por uso de substâncias. Embora grupos de ajuda mútua e apoio de colegas sejam recursos úteis para pessoas nessa situação, quase metade dos países que responderam relataram que não oferecem tais grupos de apoio.
O estigma, a discriminação e os equívocos sobre a eficácia do tratamento contribuem para essas lacunas críticas na prestação de tratamento, assim como a contínua baixa priorização dos transtornos por uso de substâncias pelas agências de saúde e desenvolvimento.
Ações para o progresso
Para acelerar o progresso rumo ao cumprimento da meta 3.5 do ODS e reduzir a carga social e de saúde atribuível ao uso de substâncias, os governos e parceiros precisam intensificar as ações em 8 áreas estratégicas. Essas áreas incluem:
- aumentar a conscientização por meio de uma campanha de defesa global coordenada;
- fortalecer a capacidade de prevenção e tratamento dos sistemas de saúde e assistência social
- ampliar o treinamento de profissionais de saúde;
- assumir novamente o compromisso com a implementação do Plano de Ação Global sobre o Álcool 2022-2030, com foco no pacote SAFER;
- acelerar os esforços internacionais de capacitação e transferência de conhecimento;
- envolver organizações da sociedade civil, associações profissionais e pessoas com experiências vividas;
- melhorar os sistemas de monitoramento em vários níveis e a capacidade de pesquisa correspondente; e
- ampliar a mobilização de recursos, a alocação e os mecanismos inovadores de financiamento para fortalecer a capacidade dos sistemas sociais e de saúde.
Notas para o editor
O relatório anterior da OMS sobre a meta 3.5 do ODS foi publicado em 2018. O relatório divulgado hoje estava programado para 2022, após o intervalo de tempo habitual de cerca de 3 anos, mas foi adiado devido aos desafios associados à pandemia da COVID-19.
A meta de saúde 3.5 dos ODSs pede para “fortalecer a prevenção e o tratamento do abuso de substâncias, incluindo o abuso de narcóticos e o uso de álcool” e tem dois indicadores: 3.5.1 – cobertura de intervenções de tratamento (farmacológico, psicossocial e serviços de reabilitação e cuidados posteriores) para transtornos relacionados ao uso de substâncias, e o indicador 3.5.2 – consumo per capita de álcool (com 15 anos ou mais) em um ano civil em litros de álcool puro.
A pesquisa global da OMS sobre o progresso da meta 3.5 dos ODS foi realizada em 2019-2020. Dos 194 Estados Membros da OMS, 154 (79,4%) responderam à pesquisa. O Plano de Ação Global da OMS para o Álcool 2022-2030 é um plano abrangente para orientar ainda mais a implementação da estratégia global da OMS de 2010 para reduzir o uso nocivo do álcool, com o objetivo de reduzir os danos relacionados ao álcool em todo o mundo.
Fonte: OPAS / iStock/Tinnakorn Jorruang Imagem