O prefeito eleito de Serra Preta Franklin Leite (DEM) expôs em praça pública, na manhã deste sábado (9) uma frota de veículos sucateada, inclusive com ambulância e ônibus escolares, para prestar contas à comunidade e denunciar as condições em que encontrou a prefeitura municipal, em diversas áreas da administração.
Ele relatou dívidas milionárias da prefeitura com o INSS, além de outros problemas como sucateamento das unidades de saúde do município, e falta de pagamento de contas de água e luz que giram em torno de 568 mil reais, só da Embasa. Ao Acorda Cidade o prefeito destacou que terá grandes dificuldades para administrar a cidade e que as contas do município estão zeradas.
Nem mesmo um lugar para trabalhar ele afirmou não ter ainda porque o prédio encontra-se em situação de destruição total, e os engenheiros informaram previamente que existe a possibilidade de precisar demoli-lo.
“Encontrei uma prefeitura totalmente destruída, telhado quebrado, paredes rachadas e com infiltração, piso cedendo, a laje da prefeitura está praticamente como uma piscina, e a análise do engenheiro e das arquitetas foi muito triste pra mim. Eu não imaginava me eleger prefeito de Serra Preta e até o dia de hoje eu não ter um lugar pra ficar na prefeitura. A engenheira me disse que não poderia me dar um laudo definitivo, mas de forma prévia disse que, possivelmente, aquele prédio precisará ser demolido, porque não tem condições de ser recuperado. Isso pra mim foi uma notícia muito triste, porque nós não imaginávamos que iríamos encontrar uma prefeitura onde os servidores que estão ali para trabalhar na área contábil, financeira, recursos humanos, onde gerenciam os trabalhos principais do município, não tenham as mínimas condições de trabalhar naquele local. É uma indignação não só minha, mas de todos os servidores e do nosso grupo”, declarou durante discurso na Praça do Bravo de Serra Preta.
O prefeito enfatizou que a prefeitura está em estado de abandono e que computadores e documentos que ajudariam no levantamento total da situação da prefeitura não foram encontrados.
“A nossa prefeitura está abandonada, totalmente destruída, sem o servidor principal, sem computadores, sem processo de pagamento, nós não temos informações de restos a pagar, pois não ficaram documentos na prefeitura, não ficaram computadores com as informações. Nós não temos a conciliação bancária que é de obrigação do ex-gestor passar para a futura administração. Encontramos os hospitais e nossas unidades de saúde totalmente sucateados. Para o Hospital do Bravo funcionar no dia primeiro eu precisei comprar colher, xícara, garrafa de café e lençóis para os pacientes, não encontramos nenhum detergente em nenhum órgão público de Serra Preta”, relatou.
O prefeito disse ainda que uma força-tarefa foi criada para solucionar os problemas, e pediu paciência para a população “porque o município está totalmente destruído”.
“Estamos fazendo uma força tarefa para proporcionar ao povo um atendimento de excelência, mas friso mais uma vez tenham um pouco de compreensão e um pouco de paciência porque estamos assumindo o município sucateado. Totalmente destruído. Macas, mesas, equipamentos, todos enferrujados e destruídos. O centro cirúrgico está totalmente destruído, não temos equipamentos para realização de exames (..). Os servidores que trabalharam no hospital e nos Postos de Saúde da Família foram humilhados pela gestão passada. Nós iremos aos poucos restabelecer o funcionamento de tudo, reconstruir Serra Preta, mas vou frisar em todos os momentos: calma pessoal, paciência, vamos ter compreensão, vamos organizar a casa aos poucos. Eu recebi o município com as contas públicas totalmente zeradas. Algumas contas que têm recursos já estão empenhadas para serem pagas. A situação de Serra Preta está de A a Z na pior situação possível e as pessoas precisam ter conhecimento”, disse.
Dívidas e salários atrasados
De acordo com o prefeito eleito, Serra Preta tem com a Coelba uma dívida de mais de 180 mil reais, mas o valor pode ser ainda maior porque ainda não conseguiu fazer o levantamento inteiro das dívidas. Com a Embasa o débito é de R$ 568.572,92, já com o Instituto Nacional de Previdência Social (INSS), o município deve 25.604.980,32.
“O município de Serra Preta deve mais de 25 milhões ao INSS e foi parcelado agora pelo ex-prefeito Rogério Serafim (PTN) o montante de nove milhões de reais. O INSS de Novembro não foi pago. No dia 10, dia 20, dia 30 acontecem os repasses do FPM, como dia 10 é domingo, foi antecipado para o dia 8, o recurso do FPM, o que aconteceu? Esse recurso não tivemos acesso porque foi de imediato resgatado para pagamento do INSS do mês de novembro no valor de 130 mil reais, ou seja, foi sequestrado o valor de 130 mil do FPM das contas da prefeitura para pagamento no INSS do mês de novembro, que o ex-prefeito não pagou” destacou.
Além das dívidas, o prefeito tomou conhecimento depois da posse que os agentes comunitários de saúde e os agentes de combate às endemias estão com salários atrasados.
“Essa situação nós deveríamos saber durante a transição de governo porque nós assumimos a prefeitura no dia 1 de janeiro, mas precisaríamos ter documentos na prefeitura”, afirmou.
Franklin disse que está com uma caixa preta nas mãos e que vai iniciar a administração do zero
“Eu me surpreendi quando soube que documentos desapareceram da prefeitura, documentos que eu ainda estou fazendo o levantamento para ter certeza de qual é o teor e o motivo que levou esse material ter sido furtado da prefeitura, os computadores desapareceram em todas as repartições e secretarias. Os programas com informações precisas foram apagados, para gente alimentar o sistema de saúde, da educação, de desenvolvimento social e receber os recursos. Estou hoje com uma caixa preta na mão, não tenho informações sobre o município, e vou começar do zero com a nossa equipe, que quero parabenizar pelo empenho para iniciar o processo de solução de tantos problemas que estamos enfrentando”, informou o gestor municipal ao Acorda Cidade.
De acordo com ele, a principal dificuldade está na falta das informações necessárias e documentação.
“A prefeitura foi deixada de um modo que não temos nenhuma informação. Eu só soube que os servidores estavam sem receber salários porque eles mesmos me procuraram para falar que não receberam o salário do mês de dezembro. Nós não podemos assumir gastos da gestão passada, a Lei de Responsabilidade Fiscal, não nos permite isso e, portanto, o ex-prefeito tem obrigação de nos deixar alguma documentação nos informando das pendências que ficaram para a próxima gestão, deixando os restos a pagar e saldo em conta para gente honrar com as dívidas da gestão passada”, explicou.
O gestor contou que um mutirão de limpeza está sendo realizado na cidade para retirar lixo de ruas e o serviço de limpeza não estava sendo realizado há meses.
“A gente está assumindo uma administração muito difícil os órgãos todos sucateados, as ruas destruídas, esgoto a céu aberto, a limpeza pública da cidade não vem sendo feita há alguns meses, para você ter uma ideia até urubus em praça pública tivemos o desprazer de enfrentar nestes últimos dias de mutirão de limpeza que montados desde o dia 1º. Estamos com algumas caçambas tirando entulhos e mais entulhos, hoje faz nove dias com as caçambas trabalhando e nós não tiramos um terço do lixo que a gente precisa tirar dos nossos distritos, das nossas sedes e dos nossos povoados. Fizemos a campanha sabendo que Serra Preta estava passando por momentos difíceis, presenciamos isso ao longo destes últimos quatro anos, uma administração que não tinha a sensibilidade de ouvir as pessoas e os servidores públicos, nem de atender a demanda e os anseios do município, mas eu me surpreendi porque após eu assumir eu pude perceber que a situação era muito pior do que eu imaginava. Estou atendendo as pessoas em outros órgãos, no meio da rua, na minha residência, porque a prefeitura não tem a mínima condição de realizar atendimentos, muito menos os servidores.”
Com índice de desenvolvimento humano considerado baixo, 5,66, Serra Preta localizada no semiárido baiano, uma das regiões mais pobres do Brasil. A principal fonte de renda vem de benefícios da Previdência Social, serviços públicos e do programa Bolsa Família.
Fonte: Acorda Cidade