Enfermidade continua sendo uma preocupação significativa de saúde pública
A doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é uma enfermidade negligenciada, mas potencialmente fatal, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi.
Identificada pela primeira vez em 1909 pelo médico brasileiro Carlos Chagas, a doença continua sendo uma preocupação significativa de saúde pública, especialmente em regiões da América Latina.
Segundo cardiologista a Ana Luisa Caldas, especialista na área pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, a doença é dividida em duas fases: aguda e crônica, podendo afetar principalmente o coração e o sistema gastrointestinal.
O protozoário é transmitido principalmente por insetos vetores conhecidos como barbeiros. “Esses insetos se infectam ao sugar o sangue de pessoas ou animais contaminados e, posteriormente, eliminam o parasita em suas fezes, que podem entrar no corpo humano por meio de pequenas feridas ou mucosas”, explica Caldas.
Além da transmissão clássica pelo barbeiro, a doença pode ser transmitida oralmente, por meio da ingestão de alimentos contaminados com fezes de barbeiros infectados, como caldo de cana e açaí, ou ainda por via materno-fetal, transfusões sanguíneas e transplantes de órgãos.
Sintomas e diagnóstico
Os sintomas da doença de Chagas variam conforme a fase da infecção. Durante a fase aguda, que pode ser assintomática ou apresentar sinais inespecíficos como febre, dor no corpo e inchaço local, o diagnóstico precoce é crucial para evitar complicações graves.
“Na fase crônica, a doença pode evoluir de forma silenciosa, mas até 40% dos pacientes podem desenvolver problemas cardíacos graves, como insuficiência cardíaca, arritmias e até morte súbita“, alerta Caldas.
Carlos Eduardo Abrahão, especialista em cardiologia e cirurgia cardiovascular pelo Hospital São Vicente de Paulo (HSVP-RJ), acrescenta que a doença pode se manifestar também por meio de inchaço nos linfonodos, fígado e baço.
Tratamento e prevenção
O tratamento da condição é mais eficaz na fase aguda, quando o protozoário pode ser erradicado com medicamentos antiparasitários como benzonidazol e nifurtimox.
“Infelizmente, esses medicamentos podem causar efeitos colaterais severos, como náuseas e manchas na pele, o que limita sua tolerância por parte dos pacientes”, observa Caldas.
Na fase crônica, o tratamento é direcionado às complicações específicas, como insuficiência cardíaca e distúrbios gastrointestinais, uma vez que a erradicação do parasita não tem mostrado benefícios significativos nesta fase.
Para evitar a doença, o recomendado é implementar medidas de controle vetorial, como a melhoria das condições habitacionais e o uso de inseticidas nas áreas endêmicas.
Além disso, é crucial aumentar a vigilância sanitária, especialmente em áreas rurais e na Amazônia, onde vetores silvestres são mais difíceis de controlar.
A recente descoberta de uma nova espécie de vetor, Panstrongylus noireaui, enfatiza a necessidade contínua de esforços em pesquisa e saúde pública.
Desafios e perspectivas
A doença de Chagas permanece subdiagnosticada e subtratada, afetando principalmente populações de baixa renda em áreas rurais.
“A falta de recursos para pesquisa e tratamento, bem como a limitada conscientização pública, contribuem para a perpetuação desta doença negligenciada”, comenta Abrahão.
O especialista destaca que, enquanto países desenvolvidos conseguem controlar a transmissão por meio de doações de sangue, as áreas mais pobres continuam lutando contra as condições inadequadas de saneamento e habitação.
Por fim, os especialistas reforçam que a condição é um problema de saúde pública complexo que requer uma abordagem multifacetada, incluindo prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado.
Fonte: CNN Brasil / Foto: Reprodução/