Exposição explora as relações entre luz, cor e diferentes materiais

cultura

Em cartaz no Espaço das Artes da USP até 11 de outubro, no__entre traz produções que intercalam as obras de dois estudantes de Artes Visuais

Está em cartaz no Espaço das Artes (EdA) da USP desde 23 de setembro a exposição no__entre. Parte de uma mostra de três exposições que acontecem no EdA, no__entre tem curadoria e produção de Antonio Yudi e Vinicius Barbosa, estudantes de Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. O nome da exposição se justifica na sua proposta: intercalar e encontrar os pontos em comum entre a obra de um e a obra de outro, em produções que se fazem por meio de diferentes materiais, como alumínio, acrílico e parafina. no__entre fica em cartaz até o dia 11 de outubro, com entrada grátis.

Ocultação e revelação

A primeira sala da exposição já é um retrato daquilo que se propõe: nas paredes, as obras de Yudi e de Barbosa aparecem intercaladas. Livro, de Vinícius Barbosa, é construída a partir da coleta de imagens, em geral recortes, que são coladas em peças de gesso de uma forma que lembra páginas abertas — por isso o nome Livro. Sobre as imagens, o artista aplicou uma camada de parafina, o que traz, para ele, como resultado, uma sensação dúbia de ocultação e de revelação: “Eu gosto do efeito que a parafina traz, de não conseguir ter a nitidez exata da imagem, então parece que se está escondendo algo dentro dela, mas ao mesmo tempo é possível ver. Não está plenamente escondida, nem revelada”, explica. A mesma ideia do uso da parafina aparece em Janelas, também na primeira sala.

Homem cabeludo e de bigode.
Antonio Yudi – Foto: Arquivo pessoal
Quadros na parede.
Quadros na parede.

Para Vinícius Barbosa, o grande diferencial da parafina é a capacidade que ela tem de encapsular algo  — no caso, uma imagem —, retirado do seu espaço de circulação natural – Fotos: Marcos Santos/USP Imagens

Homem cabeludo, de óculos e barba.
Vinícius Barbosa – Foto: Arquivo pessoal

Dentre as obras de Antonio Yudi na sala, pode-se destacar Igreja Bandeiras, esculturas em metal com partes em acrílico e em parafina. Barbosa destaca que Yudi tem bastante de sua origem artística fundada no desenho em papel, o que se comprova quando esse desenho é transposto para a superfície tridimensional: “Quando você sinaliza esse desenho, a luz faz com que ele projete uma sombra, que é um segundo desenho que o próprio desenho cria”, analisa.

A obra Casa, por sua vez, fica no meio da sala, pois mescla características de ambos os artistas. “A Casa é um ‘entre’ dessa exposição: uma peça de gravura em alumínio com a presença do acrílico — a estrutura feita pelo Antonio com o material de sua pesquisa — e o uso da parafina, o material com que eu trabalho com mais facilidade. Esses trabalhos são encontros, por isso escolhemos colocá-los no meio”, revela.

Uma sala com uma caixa transparente no meio.

As obras em no_entre são todas de nomes simples e diretos em relação ao seu significado. Em Igrejas Bandeiras, por exemplo, Antonio Yudi trabalha com o conceito de autômato, já que o desenho criado por ele produz, na presença de luz, um novo desenho – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Na segunda sala, é possível encontrar a obra mais antiga da exposição, a primeira que os artistas realizaram em conjunto: Encontro. Trata-se de estampas de gravuras em metal que ambos fizeram e que, de certa forma, acabam conversando e seus signos, “se encontrando” no meio da obra. “A partir da matriz, você imprime a estampa e pode ir fazendo alterações, como tirar uma informação muito pesada por meio de raspagem. É algo específico da gravura em metal que permite que você vá trabalhando o desenho”, explica.

Quadros numa parede.

A gravura em metal é feita a partir de uma matriz de cobre e com o uso da prensa para imprimir, método que hoje é menos usual graças à presença da impressora digital — Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Ao lado de Encontro estão a continuação de Livro, em um trabalho que pode ser manipulado por quem visita a exposição, e a continuação de Bandeiras, que aparece presa ao teto. No caso de Bandeiras, a obra já havia sido exposta no Espaço das Artes há alguns meses, no Laboratório do Semestre, exposição geral do curso de graduação de Artes Visuais da ECA. No entanto, como também trabalha o uso do metal, da solda, da parafina e do acrílico atentando-se às questões cromáticas, foi escolhida para no__entre também.

Sala com três painéis no dela, firmados sobre uma base de concreto.
Bandeirinhas semelhantes às de festas juninas penduradas numa parede.

A exposição é complementada na segunda sala, com outras versões de Livro (Vinicius Barbosa), à esquerda, e de Bandeiras (Antonio Yudi), à direita – Fotos: Marcos Santos/USP Imagens

Completa a exposição a obra Parede. Para a produção da obra, Barbosa alinhou pequenos quadrados de parafina, com o uso de cera de abelha e de corantes de diferentes tipos para formar uma sequência de blocos coloridos — cada um de uma cor, e cuja expressão cromática seria diferente se a ordem dos quadrados fosse outra. “A cor só existe em relação, então ela só existe porque está do lado dessas cores, senão seria diferente. Uso do espaço e das frestas, aparecendo para depois mostrar a extensão total”, esclarece o artista.

Parede com uma faixa de várias cores pintada ao longo dela.
Parede com uma faixa de várias cores.

Ao todo, são 123 blocos de 123 cores diferentes, que começam em uma sala e terminam em outra, atravessando a divisão que existe entre elas – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A exposição no__entre fica em cartaz até 11 de outubro, de segunda a sexta-feira, das 10h às 20h, no Espaço das Artes (Rua da Praça do Relógio, 160, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 2648-1426.

*Estagiário sob supervisão de Roberto C. G. Castro

**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado

Fonte: Jornal da USP / Foto: Marcos Santos/USP Imagens


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