Gilberto Carvalho, secretário nacional de Economia Solidária, explica a história, o funcionamento e as ações para impulsionar essa modalidade de gestão coletiva com resultados compartilhados
Em Tauá, no Ceará, e em Mossoró, no Rio Grande do Norte, duas cooperativas cultivam algodão por meio do manejo agroecológico. O algodão orgânico segue para Belo Horizonte, onde uma antiga fábrica falida, ocupada pelos trabalhadores e transformada em empreendimento econômico solidário, produz o fio. Em Porto Alegre, outra cooperativa pega essa matéria prima e fabrica a malha, que por sua vez será convertida em confecção por mais uma cooperativa – que sob o conceito do comércio justo e sustentável, disputa seu lugar no mercado.
Um dos clientes alcançados na ponta dessa rede é a Nossa Senhora da Conceição, conjunto de hospitais públicos federais vinculados ao Ministério da Saúde. Os enxovais usados em seus leitos são, então, produtos de uma rede. Essa rede funciona de maneira autogestionária, do campo ao consumidor, e seu resultados são também compartilhados de maneira igualitária pelos trabalhadores e trabalhadoras que formam a Justa Trama, uma corrente formada por elos desse modelo produtivo chamado economia solidária.
O exemplo de gestão coletiva e resultados compartilhados foi descrito pelo secretário nacional de Economia Popular Solidária do Ministério do Trabalho, Gilberto Carvalho. Em entrevista ao programa A Voz do Brasil na última terça-feira (3/12), Carvalho explica as origens, o funcionamento e falou sobre o futuro dessa modalidade. E mais diversas áreas de atividade – na agricultura, na indústria, na coleta de recicláveis, no comércio, no crédito. Segundo ele, trata-se não apenas de um modelo econômico produtivo, capaz de unir pessoas, criar trabalho e renda, promover sustentabilidade, estimular o consumo consciente e o comércio justo. “A economia solidária é um modo de vida”, define.
Como forma de estimular o crescimento e a consolidação dessa forma de organização produtiva, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionará no próximo 11 de dezembro a Lei 6606, que regulamenta a economia solidária e a oficializa como parte integrante da economia nacional – aprovada no Congresso Nacional depois de 12 anos de batalhas.
Paul Singer
Além disso, entre o final deste ano e início do próximo, a Secretaria Nacional de Economia Popular Solidária (Senaes, vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego) pretende levar a campo cerca de 1 mil agentes de economia solidária. A iniciativa faz parte do Programa de Formação Paul Singer – economista, primeiro secretário da Senaes, criada em 2003 e principal precursor da atividade no país.
“Serão pessoas que vão trabalhar lá na base para estimular o surgimento de novos empreendimentos. Tem lá o Minha Casa, Minha Vida, então alguém vai lá para ajudar o pessoal a fazer uma horta comunitária, a fazer um comércio socializado lá dentro daquele empreendimento, a fazer uma cooperativa de consumo”, exemplifica. “São as formas mais diversas. E esses agentes passarão, então, para um programa de formação.”
“Tudo isso induz, na verdade, a uma nova filosofia de vida. Não é apenas um meio de economia, mas também é cultura de vida onde você cultiva um novo modo de produção, onde os trabalhadores são os donos, respeitam a terra, respeitam o planeta. Um novo modo de comercialização, onde ganha quem produz, quem consome e quem comercializa, de maneira também igualitária. E um novo modo de consumo, num tempo em que a gente prega que o consumismo exacerbado que destrói o planeta não faz sentido.”
Confira a entrevista de Gilberto Carvalho em A Voz do Brasil no link a seguir: