No coração da Ásia Central, o Cazaquistão — país de vastas estepes e raízes nômades — mantém vivas tradições ancestrais que atravessam gerações e continuam a desempenhar um papel central na construção da identidade nacional.

Os rituais de passagem, realizados ao longo do ciclo da vida, expressam valores como respeito, solidariedade, espiritualidade e senso de coletividade, conectando passado e presente em uma sociedade que valoriza profundamente suas origens.

O nascimento de uma criança é celebrado com ritos que combinam simbolismo espiritual e integração comunitária. Nos primeiros quarenta dias de vida, mãe e bebê permanecem em resguardo, protegidos pelo ritual do shildekhan, que garante cuidado físico e espiritual. Ao final desse período, realiza-se o kyrkynan shygaru, cerimônia de purificação em que a criança é banhada com água, prata e flores, sendo então apresentada formalmente à comunidade. Outro momento marcante ocorre quando o bebê é colocado pela primeira vez no besik — berço tradicional de madeira. Conduzido por mulheres mais velhas da família, o ritual do besikke salu simboliza proteção ancestral e continuidade entre as gerações.

Quando a criança começa a caminhar, celebra-se o tusau kesu, cerimônia em que cordões simbólicos amarrados às pernas são cortados por uma pessoa respeitada da comunidade. O gesto, aparentemente simples, carrega significado profundo: representa confiança na autonomia da criança e reforça o papel coletivo na condução de sua jornada.
Na juventude, meninos e meninas são introduzidos gradualmente às responsabilidades da vida adulta, aprendendo por meio da experiência e do convívio familiar. Os meninos desenvolvem habilidades com cavalos e aprendem a lidar com a natureza; as meninas são instruídas nos valores da hospitalidade e nos saberes do cotidiano doméstico — fundamentos da cultura cazaque. Um dos marcos mais importantes desse período é o sundet toi, cerimônia de circuncisão realizada entre os cinco e treze anos de idade. A celebração, que reúne familiares e vizinhos, simboliza a transição para uma nova etapa da vida, reforçando vínculos sociais e solidariedade comunitária.
A chegada à vida adulta é marcada por ritos que reconhecem a maturidade social do indivíduo. O casamento, em especial, representa a união de duas famílias, mais do que apenas de duas pessoas. O processo envolve o noivado, a despedida da noiva (kyz uzatu) e a entrega do dote simbólico (kalym). A oferta de um cavalo ou de gado ao jovem marca sua prontidão para assumir responsabilidades familiares — uma honra respeitada e preservada na cultura tradicional do país.
Apesar das transformações provocadas pela modernização e pela urbanização, o Cazaquistão segue fiel à preservação desses rituais, reafirmando o compromisso com sua identidade cultural e a coesão de sua sociedade. As práticas continuam a desempenhar um papel essencial na formação de cidadãos conscientes de sua história e de seu pertencimento coletivo. Compreender esses costumes é fundamental para captar a essência da cultura cazaque — um povo que, ao manter vivas suas tradições, transmite uma visão de mundo baseada na dignidade, na coletividade e no respeito à ancestralidade.
Em tempos de rápidas mudanças globais, o exemplo do Cazaquistão destaca a importância das tradições como pilares da identidade, da coesão social e do diálogo entre culturas. Mais do que ritos, esses costumes revelam maneiras de viver e conviver com sabedoria e humanidade.
Fonte: Diplomacia Business / Foto: ummet.kz