Riqueza em fios e tradição: trajes típicos do Cazaquistão reafirmam identidade nacional

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Entre a estética e a espiritualidade, vestimentas tradicionais cazaques se tornam símbolo de resistência cultural e inspiração para a moda contemporânea

O Cazaquistão, nação soberana situada no coração da Eurásia, é herdeiro de uma tradição milenar que floresce entre as vastas estepes e montanhas da Ásia Central. Entre os diversos elementos que compõem sua identidade cultural, o vestuário tradicional se destaca como expressão autêntica de um povo que preserva, com orgulho, as marcas de sua história, espiritualidade e relação ancestral com a terra.

Muito além da função prática, os trajes típicos cazaques são verdadeiras manifestações artísticas. Traduzem valores coletivos, saberes transmitidos por gerações e a riqueza simbólica de uma cultura forjada no nomadismo, na resistência e na beleza.

Forma, função e espiritualidade
Tradicionalmente, essas vestimentas foram moldadas pelas exigências da vida nômade, combinando conforto térmico e sofisticação estética. O clima extremo das estepes — com invernos rigorosos e verões secos — influenciou a escolha de materiais como lã, couro, feltro e peles. Já tecidos como linho, algodão e seda eram reservados para festividades e ocasiões especiais.

Com o passar do tempo, os trajes ganharam ornamentos preciosos: bordados em fios de ouro e prata, miçangas, pedras semipreciosas e padrões geométricos com significados espirituais e protetores.

Vestimenta feminina: elegância com simbolismo
O traje tradicional feminino tem como base o koylek, um vestido longo de mangas compridas, geralmente confeccionado em seda ou veludo. Sobre ele, é usado o kamzol, colete sem mangas ricamente bordado e decorado com espelhos e fios metálicos.

Um dos acessórios mais emblemáticos é o saukele, o tradicional cocar de noiva — alto, cônico e ricamente adornado. Considerado sagrado, representa a transição para uma nova fase da vida, marcada por fertilidade, bênçãos e prosperidade. Muitas vezes, sua confecção levava anos, sendo passado de geração em geração.

O traje masculino: força e tradição
A vestimenta masculina tem como peça central o shapan, túnica longa geralmente feita de lã ou algodão, usada sozinha ou sobre camisas e calças largas. Ornamentado com padrões bordados, o shapan varia em cores conforme a região e o tipo de evento.

Durante o inverno, os homens usam o ton, manto espesso de pele ou feltro. Na cabeça, o borik ou o tymaq — chapéus confeccionados em lã, couro ou pele de raposa — oferecem proteção contra os ventos das planícies. Cintos de couro trabalhado e botas de cano alto completam o conjunto, reforçando o elo com a tradição guerreira nômade.

Símbolos tecidos à mão
Cada detalhe no traje carrega significados profundos. Os padrões bordados evocam proteção espiritual, boa sorte e bênçãos. As cores também são simbólicas: vermelho representa vitalidade; branco, pureza; dourado, prosperidade. Além disso, o vestuário servia como marcador de status social, etnia, idade e ocasião — diferenciando roupas do cotidiano das usadas em cerimônias ou celebrações solenes.

Presença viva na cultura contemporânea
Hoje, os trajes típicos seguem presentes na vida cultural do Cazaquistão. Durante o Nauryz Meyrami — o Ano Novo cazaque, celebrado em março — é comum vê-los em danças, rituais, apresentações e festividades. Também marcam presença em casamentos, aniversários, festivais folclóricos e eventos de representação cultural no exterior.

Desde a independência do país, em 1991, houve uma significativa valorização da herança nacional. Estilistas cazaques passaram a reinterpretar os trajes tradicionais com elementos contemporâneos, promovendo uma fusão entre passado e presente.

Foto: Instagram.com / aidakaumenova_official

Moda com identidade
Entre os principais nomes da moda autoral cazaque estão Aida Kaumenova, Liya Bekzhanova e Saltanat Baimukhamedova — estilistas que levam a estética local a passarelas internacionais.

Aida Kaumenova é reconhecida por seu trabalho sofisticado, que une tecidos nobres e bordados artesanais meticulosos. Suas peças evocam a delicadeza e a força da mulher cazaque moderna, mantendo um glamour atemporal entre o clássico e o contemporâneo.

Liya Bekzhanova, por sua vez, imprime uma abordagem mais urbana e minimalista. Com cortes limpos, modelagens versáteis e paleta cromática sóbria, suas criações incorporam símbolos tribais e naturais reinterpretados, conectando tradição e funcionalidade.

Já Saltanat Baimukhamedova, fundadora da marca Salta, é considerada pioneira na internacionalização da moda cazaque. Com ousadia e visão cosmopolita, leva a simbologia cultural do país a desfiles em Paris, Milão e outras capitais da moda. Suas coleções combinam joias tribais, chapéus tradicionais e bordados ancestrais com design contemporâneo e cortes assimétricos.

Foto: Ebay

Tradição em movimento
Hoje, versões estilizadas do kamzol ou do shapan aparecem em desfiles de moda, recepções diplomáticas, exposições de arte e campanhas de promoção cultural. Iniciativas governamentais e privadas também incentivam a preservação e o ensino das técnicas artesanais envolvidas em sua confecção.

Mais do que peças de vestuário, os trajes típicos cazaques são testemunhos vivos de uma história resiliente e criativa. Vestir-se à maneira cazaque continua sendo um gesto de respeito às raízes, uma afirmação de soberania cultural e uma forma de dialogar com o mundo — por meio da beleza, da arte e da memória coletiva.

Fonte: Diplomacia Business / Foto: Reprodução


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