Domingo, 9 de novembro de 2025
A dependência da importação de cultivares e mudas de morangueiro, um dos gargalos da produção no Brasil, pode ser reduzida em breve. O número de viveiristas licenciados que estão multiplicando a cultivar BRS DC25, batizada de Fênix e desenvolvida pela Embrapa, dobrou em apenas dois anos. Quando do seu lançamento, em 2023, 18 viveiristas aderiram à tecnologia. No ano seguinte, esse número subiu para 22, e em 2025 já são 14 novos contratos formalizados, confirmando o interesse crescente na multiplicação da Fênix. O resultado é expressivo: a produção passou de 2,5 milhões para mais de 5 milhões de mudas no período, com expectativa de ultrapassar 10 milhões em 2026.
De acordo com o pesquisador Sandro Bonow, da Embrapa Clima Temperado, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da cultivar, o aumento da produção se deve à carência de cultivares nacionais, de fácil acesso aos viveiristas, no mercado interno nas últimas décadas. “A Embrapa veio contribuir para mudar esse cenário disponibilizando uma cultivar com atributos de qualidade demandados pelo mercado brasileiro. Isso possibilitou a produção de mudas nacionais de qualidade, com preços acessíveis, disponibilizadas aos produtores no momento certo para o plantio nas condições brasileiras”, afirma.
Poucas são as instituições brasileiras envolvidas na pesquisa com o morangueiro, apesar da sua importância. A quase totalidade da produção nacional do morango é baseada em cultivares estrangeiras, o que torna o setor produtivo dependente de programas de melhoramento de outros países. Assim, cerca de 98% dos morangos consumidos no Brasil são provenientes de cultivares americanas, sendo boa parte das mudas dessas cultivares importadas principalmente do Chile, Argentina e Espanha. Seus preços oscilam entre R$ 2,30 (mudas frescas) e R$ 3,60 (mudas envasadas), com valores cotados em dólar, o que encarece a produção nacional.

Foto: SCH Morangos
O custo das mudas brasileiras da cultivar Fênix, segundo Bonow, ainda varia conforme o nível tecnológico empregado pelo viveiro e a forma de disponibilização da muda (fresca ou envasada), mas, de forma geral, o preço é mais acessível e as mudas estão disponíveis no momento certo para o plantio em cada região produtora do País. “É possível que o produtor tenha a muda na melhor época de plantio para sua região, aumentando sua janela de produção. E uma das características da cultivar Fênix, que é a precocidade, faz com que os morangos da cultivar possam ser comercializados antes do pico da safra tradicional, elevando os lucros”, explica.
Características e desempenho no campo
A cultivar Fênix se destaca por características que atendem às principais demandas dos produtores: precocidade, produtividade, boa conservação em pós-colheita, o que se traduz em durabilidade na prateleira. “Ela caiu também no gosto do consumidor. É muito saborosa, com um destaque para o calibre da fruta, teores de açúcar e acidez equilibrados, aroma e cor intensa. Tem ótima aceitação no mercado e facilidade de venda”, ressalta Bonow.
O rendimento da cultivar é alto, podendo variando de 900 gramas em sistema semi-hidropônico a 1.600 kg por planta no sistema tradicional a campo sob túnel baixo. O plantio, feito entre março e abril, permite o início de colheita entre maio e junho, uma colheita que se estende por até sete meses, ampliando a janela de produção, o que representa vantagem comercial em períodos de menor oferta no mercado.
“O fato de a cultivar ser precoce, com plantio na época ideal, permite ao produtor antecipar sua colheita e aproveitar melhores preços”, reforça o pesquisador Luís Eduardo Antunes, envolvido no projeto. “A combinação entre qualidade da fruta, precocidade de produção e resiliência da planta faz da Fênix uma aliada importante para tornar o País soberano na produção de mudas”, conclui.
Foto: Marcos Albertini
| Lançamento e expansãoA cultivar foi apresentada ao público em agosto de 2023, durante a Expointer, uma das principais feiras agrícolas do País. No mesmo ano, foram produzidas cerca de 20 mil matrizes, que geraram cerca de 2,5 milhões de mudas. Em 2025, com a adesão de novos viveiristas licenciados, a produção já ultrapassa 5 milhões de unidades/ano, especialmente nas Regiões Sul e Sudeste do País, com destaque para Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais.Para Luís Eduardo Antunes, os sinais de crescimento são claros. Ele projeta uma produção que pode alcançar 10 milhões de mudas em 2026, dada a ampliação do interesse por parte dos produtores. E faz uma analogia: “Um campo de futebol, equivalente a um hectare, comporta cerca de 50 mil mudas. O Brasil possui aproximadamente 7 mil hectares dedicados ao cultivo de morango. Se todos fossem plantados anualmente, teríamos um potencial de 350 milhões de mudas por ano”.“Atualmente, cerca de 70 milhões de mudas são importadas por empresas privadas a cada ano. A cultivar Fênix ocupa uma fatia ainda pequena do mercado, mas vem chamando atenção de consumidores pela qualidade das frutas. Empresários estrangeiros já sinalizaram interesse, especialmente da Europa, de representar a genética brasileira em países mediterrâneos, face às evidências de mudanças climáticas nestas regiões produtoras”, afirma Antunes, destacando o potencial de exportação da cultivar. Foto: SCH Morangos |
| Histórico do programa de melhoramentoO programa de melhoramento genético do morangueiro da Embrapa teve seu auge entre 1960 e 1980. Após um período de inatividade na década de 1990, foi retomado em 2010 com foco no desenvolvimento de cultivares com adaptação ao clima brasileiro, resistência a pragas e qualidade do morango.O trabalho incluiu, inicialmente, a formação de um banco genético, que passou pela caracterização quanto a características de interesse dos acessos. A partir de cruzamentos dirigidos, foram identificadas várias seleções potenciais de se tornarem cultivares, as quais foram avaliadas em diferentes regiões do Brasil, em parceria com o setor produtivo nacional, resultando na identificação da BRS Fênix como cultivar de alto potencial. “A Fênix é a primeira cultivar comercial gerada nessa nova fase do programa de melhoramento genético de morangueiro da Embrapa.”, conta Sandro Bonow.A cultivar foi inicialmente recomendada para as regiões produtoras do Sul e Sudeste do Brasil, onde já havia sido avaliada por vários anos, ainda na fase de testes. No mês de setembro de 2025 foi recomendada para plantio nas condições climáticas da região produtora de Brazlândia, no Centro-Oeste. Essa recomendação ocorreu após validação junto ao setor produtivo naquela região, e aprovação pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). “Novas regiões para as quais a Fênix ainda não é recomendada estão sendo alvo de pesquisas visando conhecer sua adaptação para cultivo como é o caso do estado da Bahia na região da Chapada Diamantina” , conclui Bonow. Foto: SCH Morangos |
Fonte: Embrapa Bahia / A Fênix, caracterizada por teor de açúcar e acidez equilibrados e aroma e cor intensa, entre outros atributos, tem ótima aceitação no mercado e facilidade de venda