Brasil deve investir até 2% do PIB ao ano em energia limpa até 2030

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Relatório da Moody’s Rating alerta que o país precisa acelerar a descarbonização e eliminar o desmatamento para atingir o carbono zero em 2050

O Brasil precisará investir entre 1% e 2% do PIB por ano até 2030 para cumprir sua meta de neutralidade de carbono em 2050, segundo relatório da Moody’s Ratings. A agência afirma que, embora o país tenha vantagens comparativas — como matriz elétrica limpa e abundância de biocombustíveis e minerais essenciais —, o desafio está em equilibrar o custo da transição com a vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas.

Soluções baseadas na natureza são cruciais

O estudo destaca que as soluções baseadas na natureza (SbN) serão o principal pilar para conter os custos da descarbonização e evitar aumento excessivo da dívida pública. Agricultura, uso da terra e silvicultura representam 60% das emissões nacionais e quase metade das exportações brasileiras. “Eliminar o desmatamento e expandir o reflorestamento são fundamentais para compensar as emissões da atividade agrícola”, afirma.

A agência avalia que os esforços atuais de mitigação ainda são insuficientes. Mesmo com a meta de reduzir entre 59% e 67% das emissões até 2035, as reduções projetadas não colocariam o país no caminho do “net zero”. Para a Moody’s, um plano mais agressivo exigiria cortes próximos de 85% até 2035, considerando o histórico de emissões do Brasil.

Custo bilionário da transição

A projeção da Moody’s indica que, no cenário de neutralidade de carbono, os investimentos necessários para descarbonizar energia, transporte e indústria somariam até 2% do PIB anual até 2030. O governo responderia por cerca de 40% do aporte, e o setor privado, por 60%, o que poderia elevar a dívida/PIB em até 8,5 pontos percentuais até 2040 Moody’s Ratings_Brasil_Soluções….

O relatório também aponta que, embora o setor energético responda por apenas 5% das emissões nacionais, há necessidade de expandir a geração solar e eólica, já que a contribuição hidrelétrica se estabilizou. A Moody’s observa que a eletrificação dos transportes, edifícios e indústrias é essencial para reduzir outros 25% das emissões atuais.

Riscos econômicos e ambientais

O documento alerta que eventos climáticos extremos — como secas, enchentes e incêndios — podem reduzir o PIB brasileiro em até 20% até 2050 se não houver adaptação adequada. O impacto ameaça setores estratégicos, incluindo a agricultura e a geração hidrelétrica, além de comprometer o papel da Amazônia como sumidouro de carbono.

A agência cita estudos do Banco Mundial e do FMI, que estimam investimentos ideais de 0,25% a 0,5% do PIB ao ano em adaptação climática, especialmente na agricultura, para mitigar perdas futuras de produtividade. Sem medidas preventivas, o país poderia ver queda de até 2% na produção agrícola e aumento das importações de alimentos.

Seguro climático ainda é exceção

Outro ponto de atenção é o baixo índice de cobertura de seguros climáticos. Segundo o relatório, apenas 20% da agricultura brasileira estava segurada em 2022, com concentração nas regiões Sul e Sudeste. “Os prêmios e sinistros aumentam durante secas e enchentes, e a cobertura nas áreas mais pobres é quase inexistente”, destaca.

Oportunidades e gargalos

Apesar dos riscos, a agência reconhece que o Brasil tem forte potencial de liderança na transição energética global. O país é referência em biocombustíveis (que respondem por um quarto do suprimento de energia) e possui reservas estratégicas de minerais críticos como níquel, grafite e manganês. No entanto, a Moody’s alerta que o país precisa de governança sólida e rigor ambiental para evitar que a expansão mineral e agrícola agrave o desmatamento ou os impactos sociais.

“A descarbonização pode gerar ganhos de exportação no longo prazo, mas esses ganhos não serão suficientes para compensar os custos domésticos da transição sem políticas de incentivo e adaptação,” resume o relatório.

Fonte: Money Report / Foto: Reprodução

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