Os distúrbios e saques na África do Sul, que já deixaram ao menos 212 mortos, foram provocados e planejados – afirmou o presidente Cyril Ramaphosa nesta sexta-feira (16), na província de Kwazulu-Natal (leste), epicentro da violência.
A situação “volta gradualmente, mas firmemente, à normalidade”, declarou a ministra da Presidência, Khumbudzo Ntshavheni, em coletiva de imprensa na qual informou que o saldo de mortos aumentou de 117 para 212 mortos.
A maioria das novas mortes (89) correspondem à região de Kwazulu-Natal, que registrou 1.488 novos incidentes na noite anterior. Já na região de Joanesburgo, capital econômica do país que acrescentou outras seis vítimas, a situação parece mais tranquila.
O presidente Ramaphosa, que visitou o local pela primeira vez desde o início da violência em 9 de julho, disse em Durban – o grande porto de Kwazulu-Natal – que os instigadores desta violência serão perseguidos.
“Foram provocados, há pessoas que planejaram e coordenaram isso. Vamos processar essas pessoas. Identificamos um bom número delas. Não permitiremos a anarquia e o caos” no país, acrescentou Ramaphosa.
A polícia sul-africana investiga 12 suspeitos de estarem por trás da explosão de violência dos últimos dias.
Na quinta-feira (15), o governo anunciou que “uma dessas pessoas já foi detida, e a vigilância das outras 11 foi reforçada”.
Os primeiros incidentes explodiram na semana passada, um dia depois da prisão do ex-presidente Jacob Zuma. Ele foi condenado a passar 15 meses atrás das grades por desacato à Justiça.
Os incidentes se espalharam para a região metropolitana de Joanesburgo, em meio ao desemprego galopante e às novas restrições para combater a pandemia da covid-19 no país.
Autoridades sanitárias locais e a Organização Mundial da Saúde (OMS) expressaram preocupação com o fato de que as recentes manifestações e os saques em massa vão causar um aumento dos casos.
A África do Sul passa por uma terceira onda terrivelmente mortal, alimentada pela variante Delta do coronavírus. É o país africano mais afetado pela covid-19, com 2,2 milhões de casos e quase 66.000 mortes.
Nesta primeira visita ao local dos incidentes desde o início da crise, uma das mais graves desde o fim do Apartheid, o presidente garantiu que está em contato permanente com as autoridades da província e policiais.
“Poderíamos ter feito melhor. Fomos surpreendidos pela situação’, admitiu, respondendo às críticas à ação do governo.
Mas esta situação “poderia ter sido muito pior”, se a polícia não tivesse agido, avaliou ele.
O presidente também prometeu que até 25 mil soldados, dez vezes mais do que no início da semana, serão destacados para garantir a relativa calma restaurada em Joanesburgo.
Até o momento, mais de 2.500 pessoas foram presas, de acordo com o último balanço.
Após chegar de helicóptero ao subúrbio de Alexandra, ao norte de Joanesburgo, o comandante do Exército Rudzani Maphwanya prometeu que não permitirá que ninguém “desafie a autoridade do Estado”.
Os distúrbios afetaram as redes de abastecimento e transporte e geraram receios de uma escassez de alimentos e produtos de primeira necessidade. A ministra da Agricultura, Thoko Didiza, pediu para ninguém entrar em pânico.
“Temos reservas alimentares suficientes no país”, afirmou.
Em Durban, no entanto, há filas nos supermercados, nos quais os clientes reclamam de falta de pão.
Em Joanesburgo, em pleno inverno, continuam as tarefas de reparação e limpeza. Os destroços são consideráveis e muitos dos comerciantes afetados não possuíam seguro.
Em Kwazulu-Natal a situação era mais instável, principalmente em Phoenix, perto de Durban, onde 20 homens morreram esta semana em um contexto de forte tensão racial.
A comunidade indiana é acusada de ter feito justiça com as próprias mãos contra vândalos que morreram, todos eles negros.
Fonte: EM