Por Claire Cain Miller
Milhões de pais, na maior parte mães, deixaram de trabalhar porque a pandemia obrigou o fechamento de creches e escolas. Mas, para muitos que mantiveram seus empregos, as demandas com os filhos também afetaram sua atividade, embora de maneira menos visível. Eles têm trabalhado menos horas, recusaram novas atribuições, ou decidiram não aceitar uma promoção ou procurar um novo emprego.
É o que os economistas chamam de margem intensiva – o quanto as pessoas trabalham em oposição a quantos estão na ativa. E isso é mais difícil de ser quantificado nas estatísticas oficiais de emprego. Mas há evidências de que os pais que estão empregados retardaram sua carreira enquanto o retorno das creches e escolas continua prejudicado. E isso tem efeitos de curto prazo sobre sua vida profissional e também de longo prazo sobre suas carreiras, segundo uma pesquisa, porque os empregadores dos Estados Unidos costumam penalizar as pessoas que trabalham menos do que costuma ser o seu pleno rendimento.
“Acho que muitas mulheres que não foram obrigadas a sair de casa se consideram com sorte, mas foram forçadas a se calar, assumir uma posição menos exigente, de nível inferior”, disse Maria Rapier, que tem três filhos e deixou seu emprego onde dirigia um departamento e participava de reuniões da diretoria. “Mesmo que mantenham o emprego, elas não conseguem colaborar plenamente porque metade do tempo ficam olhando seu laptop para ver como estão os filhos e a roupa suja amontoando.”
“Estou aqui sentada inserindo dados e sei que, com minha formação e experiência, poderia estar na mesa onde decisões são tomadas”, afirmou. “Isso foi um choque para o meu ego. Mas também para minha profissão porque sou boa no tocante à tomada de decisões estratégicas.”
Pesquisa realizada pela Mourning Consult para o The New York Times durante o ano escolar, das 468 mães que trabalham fora e responderam à pesquisa, um terço respondeu ter trabalhado menos horas durante a pandemia para cuidar dos filhos e um quinto passou a trabalhar em meio período.
Segundo a pesquisa, 28% recusaram novas responsabilidades no emprego, 23% não se candidataram a um novo trabalho e 16% não buscaram uma promoção.
O Census Bureau – agência americana de pesquisas estatísticas – realiza pesquisas com as famílias semanalmente. No último registro, cobrindo de 23 de junho a cinco de julho, 26% das pessoas inquiridas com filhos impossibilitados de ir à creche ou à escola por causa da pandemia disseram que um adulto na casa teve de reduzir as horas de trabalho pagas na última semana por causa do problema. Um quarto pediu demissão para cuidar das crianças, e um quinto usou ausências remuneradas, como férias ou dias sem trabalhar por causa de doença, para se ocupar da família.
“Ninguém fala sobre isso”, disse Misty Heggeness, economista do Census Bureau. “Apesar de essas pessoas estarem na ativa, veremos uma queda no campo da igualdade de gênero se não dermos atenção à margem intensiva.”
Mães sozinhas que não vivem com outro adulto em idade ativa foram as que tiveram a maior redução nas horas trabalhadas e são as que têm menos probabilidade de recuperar esse tempo, segundo dados da pesquisa do Census Bureau.
Fonte: The New York Times