‘Nós, negros, não somos o problema. Nós fazemos parte da solução”, declara o educador
Por Matheus Simoni e Juliana Rodrigues no dia 10 de Agosto de 2020 ⋅ 14:20
Pesquisador, antropólogo e professor, Helio Santos detalhou os problemas causados pelo racismo no Brasil ao longo de quatro séculos de escravidão. Em entrevista a Mário Kertész hoje (10), durante o Jornal da Metrópole no Ar da Rádio Metrópole, ele comentou os impactos da Covid-19 na população negra.
“Na verdade, esse é o tema mais antigo do Brasil. A luta contra o racismo começa no século XVI, no Quilombo de Palmares. É o ativismo social mais longo do Brasil. O problema todo é a invisibilidade, que durante muito tempo existiu. Neste momento, sofremos no planeta com a Covid-19. A primeira coisa que se procura hoje é estudar, conhecer a doença e sobretudo produzir a vacina. Ou seja, quando você tem um problema, você procura produzir conhecimento. O Brasil não cuidou disso”, afirma.
“O Brasil é um país que se autoatribuiu limites. Nós preferimos ficar entre os dez mais ricos, mas não crescer mais, ficar naquele limite de 25, 30%. É isso que acontece no Brasil. Tem um componente psicopatológico, porque tem a ver com a negação: Eu prefiro ficar na posição que eu estou do que incluir os negros. Isso é resultado da escravidão colonial, que durou três séculos e meio”, acrescenta o professor.
Ainda de acordo com Santos, nem mesmo o fato do país ter nascido na região Nordeste possibilitou um avanço da região e mais investimentos. “Aqui no Nordeste que começa o Brasil, com a exploração da cana de açúcar, o crescimento estava aqui. No entanto, a região desenvolvida é o Sul do Brasil. Por quê? Porque pra onde foi a imigração, o estado brasileiro colocou muito dinheiro. Onde você investe, você tem resultado. Aqueles que ficaram aqui durante 350 anos construindo o Brasil, quando houve a abolição, vem o 14 de maio, como escreveu o querido Jorge Portugal. O dia seguinte, 14 de maio, é o dia mais longo do Brasil. Ele nos atinge aqui hoje, neste momento, se a gente sair pelas ruas, for para a periferia, a gente vê restos deste dia”, conta
Helio Santos também é ex-presidente do Fundo Baobá e co-fundador da aceleradora Vale do Dendê, além de integrar, atualmente, o conselho da OXFAM Brasil. A sigla vem de Oxford e Famine (Oxford Committee for Famine Reliefe/Comitê de Oxford para o Alívio da Fome). Para ele, é necessário trazer a questão racial para buscar desenvolvimento.
“Não é figura de linguagem: nós somos o país mais desigual do mundo. Não dá pra comparar com Botswana. Temos uma infraestrutura comercial e econômica pujante, não é possível que ainda hoje as mães pobres não sejam treinadas para ferver água e impedir que as crianças morram de diarreia. Nós, negros, não somos o problema. Nós fazemos parte da solução”, declara o educador.
Fonte: Metro 1