Promessas de grandes lucros em curtos intervalos de tempo criam armadilha, que corresponde a 43% das fraudes financeiras no País envolvendo criptomoedas, também usadas nos jogos virtuais denominados NFTs
Por: Vinícius Botelho – Segunda, 6 de dezembro de 2021
Um estudo divulgado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aponta que 43% dos crimes financeiros do País estão relacionados a criptomoedas, dinheiro virtual que vem ganhando cada vez mais espaço no mercado. Mas a promessa de altos lucros em curto prazo é sedutora e atrai pessoas ambiciosas e com pouco conhecimento de mercado, que acabam sendo vítimas de golpes realizados por falsas corretoras.
Como todo investimento, as criptomoedas, por natureza, sofrem variações de preço ao longo do tempo, seja valorizando ou desvalorizando, e as promessas feitas pelos golpistas de lucros exorbitantes é incoerente com a realidade do mercado. É o que conta a professora da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, Cristina Godoy.
Segundo Cristina, o WhatsApp é o principal meio de divulgação utilizado pelos golpistas para investimentos em criptomoedas, correspondendo a 20,5% dos casos. Redes sociais e e-mails também são outras duas vertentes utilizadas para alcançar novas vítimas. Homens de 30 a 39 anos com renda familiar de dois a cinco salários mínimos, com ensino superior completo ou pós-graduação, são o perfil mais comum entre as vítimas de fraudes financeiras relacionadas a criptomoedas, aponta a professora.
Estudar as corretoras é fundamental para evitar golpes
As corretoras, também chamadas de exchanges, são as mediadoras contratadas para fazer a mediação entre o cliente e o mercado de criptomoedas. São elas que serão responsáveis pela carteira de investimentos do contratante. Para Cristina, “é importante avaliar alguns critérios antes de decidir qual corretora é a ideal”, levando em consideração fatores como “localidade, existência de CNPJ, quadro societário, ações judiciais, informações sobre a liquidez e notícias sobre a corretora”, evitando contratar criminosos ao invés de profissionais qualificados.
Como denunciar golpes de criptomoedas
Para Victor Estevão, consultor de criptomoedas, a melhor forma de denunciar crimes financeiros dessa origem é através da Polícia Federal e da mídia. Ele acredita que, “se tivéssemos a regulação das exchanges no Brasil, a população poderia encontrar suporte nos Procons ou pequenas causas”, auxiliando as vítimas dessas fraudes.
Os investimentos em criptomoedas podem ser uma excelente maneira de impulsionar seu patrimônio, desde que sejam feitos com inteligência e cuidado, conta Estevão. De acordo com o consultor, o melhor caminho para começar a investir é “investindo pouco, começando com um valor que você não se abalaria se, porventura, acabasse perdendo”.
Ele acredita que “tudo é capacitação, conhecimento, curso” e, caso não seja do perfil do cliente o interesse pelo estudo, a melhor conduta é “não deixar seu dinheiro na mão de terceiros”, escolhendo uma corretora capacitada e com renome para investir com consciência e cuidado.
As criptomoedas no universo dos jogos
As criptomoedas também estão no universo dos games, como nos jogos NFTs, sigla para non-fungible token (ou token não fungível), que remete a produtos totalmente digitais, sem versão física, que possuem valor de mercado, como obras de arte, fotos, vídeos e moedas colecionáveis.
A nova modalidade dos games possui um sistema chamado play-to-earn, (jogar para ganhar, em português) e recompensa seus jogadores com criptomoedas por objetivos e conquistas alcançadas dentro do jogo.
Um dos jogos mais famosos do segmento, o Axie Infinity registrou cerca de 2,5 milhões de transações, totalizando aproximadamente US$ 700 milhões movimentados dentro da plataforma do game.
Registrados a partir de um sistema chamado BlockChain, os jogos NFTs possuem a “mesma tecnologia que possibilita o registro das criptomoedas, garantindo uma informação confiável com um registro que não pode ser modificado, com um nível de segurança muito alto”, conta Marcelo Botelho, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP.
As empresas responsáveis pelos jogos NFTs arrecadam a partir dos investimentos iniciais necessários para ingressar no game, gerando ganhos posteriores com taxas pagas nas negociações internas, explica Botelho.
Segundo o professor, para iniciar no game, “o investimento inicial supera os R$ 5 mil” e, “conforme o jogador vai avançando no jogo, o retorno vem a partir da comercialização de itens e personagens obtidos no game ao longo do tempo”.
Jogos NFTs também possuem riscos
Marcelo acredita que os jogos NFTs “proporcionam um novo mercado que está se abrindo”, além de “trazer oportunidades”, mas, como todo investimento, possui riscos e deve ser analisado com base em perfis do investidor e flutuações de mercado. Esses investimentos recebem o nome de “altamente especulativos”, com “potencial de grande variação que podem não ocorrer”, necessitando assim de um senso crítico por parte do investidor.
O investidor e gamer Nicolas Ribeiro conta que “é possível ganhar dinheiro com o mercado de jogos NFTs”, mas alerta para as promessas de novos jogos que solicitam investimentos iniciais e não saem do papel. “Qualquer um pode criar um jogo e dizer que está precisando de dinheiro para desenvolver, mentindo nas imagens e depois tudo desaparece, como se nada tivesse acontecido”, conta.
Fonte: Jornal USP