Desde surgimento da variante, menos de um terço dos territórios sequenciou casos para identificar possível mutação, diz levantamento da CNN
Quando cientistas sul-africanos anunciaram que haviam detectado uma nova variante do coronavírus com um número preocupantemente alto de mutações, eles foram aplaudidos pela rapidez com que foram capazes de detectá-la.
O país foi elogiado por ter um programa robusto de sequenciamento genômico, que lhes permitiu identificar as propriedades potencialmente preocupantes da variante agora conhecida como Ômicron.
Quando os vírus se espalham pelas populações, eles sofrem mutações. A maioria delas não altera significativamente o comportamento de um vírus, mas algumas podem ser preocupantes.
O sequenciamento genômico envolve a decodificação do material genético de um vírus para detectar as mutações e determinar qual efeito elas podem ter sobre o vírus – por exemplo, se elas podem torná-lo mais transmissível ou mais perigoso em termos da gravidade da doença que ele causa.
O processo é feito em um laboratório, separadamente dos testes de coronavírus. Ele pode levar de algumas horas a várias semanas – e cada país tem uma abordagem diferente.
Esforços de sequenciamento em todo o mundo deixam muito espaço para melhorias, mas a descoberta da África do Sul da variante Ômicron é um exemplo de como esforços concentrados podem fazer uma grande diferença.
“A identificação da Ômicron destaca a contínua importância e necessidade de vigilância genômica da SARS-CoV-2, bem como o acesso a amostras relevantes para fazer isso”, disse Sharon Peacock, professora de Saúde Pública e Microbiologia na Universidade de Cambridge, acrescentando que o Ministério da Saúde da África do Sul e seus cientistas “devem ser aplaudidos por sua resposta, sua ciência e por soar o alarme para o mundo”.
Nos últimos 30 dias, durante os quais a Ômicron chegou aos holofotes globais, menos de um terço dos países e territórios sequenciou casos para identificar como o vírus mudou ao longo do tempo, de acordo com a análise da CNN dos dados reportados à iniciativa científica global GISAID.
Quase um terço dos 241 países e territórios rastreados pela Gisaid não conseguiram sequenciar mais de 100 amostras durante o curso da pandemia.
No mês passado, quando a variante Ômicron se tornou a última variante de preocupação, apenas uma dúzia de países realizou sequenciamento para mais de 5% de seus casos Covid-19.
Eles são a Dinamarca, Bahrain, Israel, Camboja, Suécia, Reino Unido, Gana, Luxemburgo, Senegal, Aruba, Nova Zelândia e Botsuana.
Outros 63 países sequenciaram um pequeno número de casos no mês passado, mas mais de 100 outros que o haviam feito anteriormente na pandemia não relataram nenhuma sequencia no último mês.
No entanto, os números não contam a história toda. Alguns países foram capazes de sequenciar grandes proporções de seus casos porque seus níveis gerais de infecção não são muito altos. Este foi o caso da Dinamarca, Bahrein e Israel, por exemplo, que não estão atualmente sofrendo grandes picos de casos.
O Reino Unido se destaca como o único país que tem uma alta carga de casos e ainda é capaz de sequenciar uma grande proporção de suas amostras – 13% no mês passado e em média durante a pandemia.
Os Estados Unidos estão atrasados, com apenas 2,6% de casos sequenciados nos últimos 30 dias e 4% em geral, de acordo com o banco de dados.
Mesmo um pequeno sequenciamento pode ser útil. A África do Sul, por exemplo, só sequenciou 0,3% de seus casos no mês passado e 0,8% de casos em geral durante o curso da pandemia.
Entretanto, o Ministério da Saúde do país e seus cientistas concentraram seus esforços onde era importante. Quando perceberam que os casos Covid-19 começaram a crescer a uma taxa muito mais alta na província de Gauteng em comparação com o resto do país, eles visaram amostras sequenciadas na região – e, ao fazer isso, identificaram a nova variante.
Fonte: CNN Brasil