Obra retrata mulher negra ao lado de mulher branca em posições iguais, raridade na época
Uma pintura do século 17 que mostra uma mulher negra com seu companheiro branco foi colocada sob proibição de exportação temporária para reduzir o risco de a obra de arte sair do Reino Unido.
A pintura anônima, descrita em um comunicado do Departamento de Digital, Cultura, Mídia e Esporte (DCMS) na sexta-feira (10) como “extremamente rara”, está avaliada em R$ 1.732.729,61.
O bloqueio vai durar até 9 de março de 2022, quando poderá deixar o país, a menos que um algum colecionador do Reino Unido compre a obra.
Intitulada “Pintura Alegórica de Duas Senhoras, Escola de Inglês”, a peça apresenta uma babá negra e sua companheira branca como lado a lado, usando roupas, cabelos, joias e maquiagem semelhantes.
Era incomum uma babá negra ser retratada em uma pintura na década de 1650, especialmente uma adulta, em oposição a uma criança no lugar de subordinação, gerando um “importante debate sobre raça e gênero durante o período”, segundo o comunicado à imprensa.
A pintura também é única porque as duas mulheres são mostradas usando “remendos de beleza” semelhantes, um tipo de adorno cosmético facial que estava na moda no século 17.
Os padrões em seus rostos marcavam “um pecado de orgulho”, de acordo com a declaração.
O estilo da obra se correlaciona com as xilogravuras (arte de se fazer gravuras em madeira ou a impressão obtida por meio desta técnica) populares da época, o que significa que a composição é alegórica e está ligada a versos satíricos, sermões e panfletos.
O ministro das Artes do Reino Unido, Stephen Parkinson, conhecido como Lord Parkinson de Whitley Bay, decidiu bloquear a exportação com a ajuda do Comitê de Revisão sobre a Exportação de Obras de Arte e Objetos de Interesse Cultural (RCEWA, em inglês) — órgão independente que oferece aconselhamento imparcial sobre objetos de importância nacional para o país.
“Esta pintura fascinante tem muito a nos ensinar sobre a Inglaterra no século 17, incluindo nas áreas importantes de raça e gênero, que continuam a atrair atenção e pesquisa hoje”, disse Parkinson.
“Espero que uma galeria ou museu no Reino Unido possa ser encontrado para comprar esta pintura para o país, para que muito mais pessoas possam fazer parte da pesquisa e discussão contínua sobre ela”, acrescentou.
“Esta pintura anônima é uma grande raridade na arte britânica, como uma obra de meados do século 17 que retrata uma mulher negra e uma mulher branca em igualdade de status.
Não é um retrato de pessoas reais, pelo que sabemos, mas a ideia revela que é na verdade uma imagem moralizante severa que condena o uso de cosméticos, e especificamente adesivos de beleza elaborados, que estavam em voga na época”, disseram os membros da RCEWA Pippa Shirley e Christopher Baker no comunicado do DCMS.
“Embora não seja distinto artisticamente, o imaginário relaciona-se de maneiras fascinantes aos estereótipos contemporâneos de mulheres, moda e, por meio da justaposição das figuras, raça.
“O fato de ter surgido recentemente, e apenas uma outra pintura relacionada ser conhecida até agora, e que poderia ser usada para explorar aspectos importantes da cultura negra na Grã-Bretanha do século 17, torna particularmente importante que permaneça neste país para que seu significado possa ser amplamente estudado e compreendido.”
Pesquisas adicionais podem mostrar como a imagem se conecta com obras de arte e textos contemporâneos e os propósitos para os quais ela pode ter sido criada e usada, acrescentaram Shirley e Baker.
Fonte: CNN Brasil