Articulador de Uiramutã (RR), Giovany Sacramento, em breve embarcará em um novo desafio profissional e leva junto as experiências dos avanços reais e positivos na promoção, realização e garantia dos direitos de crianças e adolescentes por meio do Selo UNICEF
Terça, 8 de fevereiro de 2022
“Aprender para ensinar”. Este é o propósito de vida de Giovany Sacramento, articulador do Selo UNICEF, no município de Uiramutã, em Roraima, desde a edição anterior, na qual contribuiu, juntamente com a gestão municipal, no recebimento da certificação pelos avanços na garantia dos direitos de crianças e adolescentes. Apesar da dedicação às ações da iniciativa, o articulador se despede da função. Perto de completar 50 anos de vida, Giovany não sabe dizer não quando um desafio bate à porta. Em janeiro de 2022, deixará a articulação para assumir um novo desafio no Rio de Janeiro.
Ele já morou em várias cidades do país e continua seu caminho em busca de novas oportunidades. Desta vez, leva na bagagem muitas experiências e aprendizados proporcionados pelo Selo UNICEF. “Recebo com muita alegria e com uma confiança bem maior do que se tivesse acontecido há cinco anos, por exemplo. Antes do Selo UNICEF, eu não tinha noção do articulador existente dentro de mim. O Selo UNICEF tirou esse articulador de um sono profundo e é justamente esse ‘lado’ que tem atraído pessoas e gerado oportunidades”, declara.
O grande interesse de Giovany pela transformação da realidade da infância e adolescência brasileira tem raízes na sua história pessoal. A trajetória do articulador é marcada pela ausência e abandono, realidade que ele percebe ser comum a muitos meninos e meninas do país. “Venho de um tipo de lar bastante conhecido por todos nós, onde o enredo gira em torno de pai ausente, mãe agressora e abandono. Minha história é a principal fonte do meu interesse”, salienta.
Se lhe faltou uma referência familiar para inspirar sua trajetória, sobraram-lhe referências externas ao seio da família, que o incentivaram a ir adiante e a trilhar um caminho diverso que passa pelas múltiplas profissões que possui. Ele é geógrafo registrado no CREA, pós-graduado em Geoprocessamento e Análise Ambiental, também com formação em Teatro pela UnB e Língua Portuguesa, por meio Faculdade Dulcina de Morais, com pós-graduação em Docência no Ensino de Inglês e Espanhol. Atualmente, cursa pós-graduação em Psicologia Social. “Não escolhi tais formações, ao longo dos meus 49 anos, elas me escolheram”, declara. Não é difícil imaginar que Giovany é referência e inspiração por onde passa, deixando um exemplo de dedicação e responsabilidade aos compromissos assumidos.
O articulador nasceu no interior de Goiás, município de Goianésia. Com menos de três anos de idade, mudou-se para outros interiores goianos como Uruaçu e Anápolis. Viveu dois anos em Belém, no estado do Pará. Oito anos de sua vida passou em Goiânia, de onde se mudou para Nova Lima, em Minas Gerais. Lá residiu por alguns meses até seguir para Brasília onde viveu por mais oito anos. Mudou-se para Roraima e está em Uiramutã há sete anos. Agora vai trocar o interior de Roraima pela cidade maravilhosa, Rio de Janeiro. Foi conhecendo e tendo contato com diversas realidades das infâncias e adolescências brasileiras, ele descobriu que o caminho para mudar os cenários complexos e plurais dos meninos e meninas passa pelo aprimoramento das políticas públicas. “As políticas públicas são o mínimo para garantir que outras crianças não sofram as barbaridades que todos sabemos que acontecem todos os dias em todos os lugares do mundo. Sem elas a rede de apoio perde autonomia e a criança fica desassistida e sujeita a maus tratos dentro e fora de casa”, garante.
Essa rede de apoio da qual Giovany fala passa pela habilidade de escuta. Saber ouvir sentimentos é qualidade rara nos dias de hoje e o Selo UNICEF também foi importante nesta descoberta para ele. Quando questionado sobre uma experiência ímpar que viveu na edição anterior, destaca um diálogo com uma mãe em 2018. “Foi a primeira vez que uma pessoa se postou diante de mim pra relatar o ocorrido com sua filha. A dor da mãe reverberava em mim e levei algum tempo para entender que eu deveria ouvi-lá até o fim”. Certamente este foi um legado deixado pelo Selo UNICEF. “Antes do Selo UNICEF, posso resumir minha atuação profissional a atividades que aconteciam em grupo, porém não geravam acesso aos seres humanos dentro de cada pessoa. Após o Selo UNICEF, passei a me desenvolver mais como ser humano e ver as pessoas da mesma forma”. O articulador destaca o quanto é desafiador lidar com questões ligadas à criança e ao adolescente, pois nos remonta a um universo inimaginável. “Antes do Selo, eu tinha que produzir independentemente dos problemas, após o Selo passei a ver que os problemas são a causa da ‘baixa produtividade’”, afirma.
Tantas experiências e aprendizados proporcionados pelo Selo UNICEF chegaram gradativamente à vida de Giovany. Ele acompanhou o início dos trabalhos da edição 2017-2020 como facilitador do tema Evasão Escolar. Logo foi chamado para coordenar a Busca Ativa Escolar em Uiramutã e após dois anos assumiu a articulação do Selo UNICEF. Quando o resultado da certificação do município veio, a euforia tomou conta do coração do articulador. “No momento, eu estava numa situação em que precisava me conter, mas por dentro explodiam fogos multicoloridos em todas as direções. Procurava sempre dar o meu melhor, mas o frio no estômago foi inevitável. Esse frio no estômago se transformou na certeza de que mesmo sob condições extremamente desfavoráveis o esforço sempre vale a pena. É gratificante saber que um processo de melhora foi executado e que pude contribuir com o meu melhor para que tudo fosse feito da melhor forma gerando boas sementes que certamente trarão resultados positivos também a longo prazo”, destaca.
De malas prontas rumo a um novo desafio, o Selo UNICEF tem um lugar cativo na trajetória desse profissional. Por isso, ele deixa uma mensagem a quem vai seguir no projeto até 2024. “Que todos compreendam que trabalhar pela causa não se resume a atividades, relatórios e preenchimentos de formulários. Precisamos colocar nossos corações e compreender que somos os poucos com quem crianças e adolescentes em risco – e isso independe de classe social – podem contar”, ressalta o articulador.
Fonte: selounicef