O orgasmo feminino sempre esteve cercado por crenças que hoje em dia estão definitivamente desmistificadas.
A esta altura, não há dúvida de que o orgasmo, tanto para homens quanto para mulheres, cumpre ao mesmo tempo uma função psicológica e fisiológica.
Também não há discussão de que as mulheres têm o direito de sentir prazer sexual.
Por isso, especialistas em medicina sexual e sexólogos devem disseminar certezas sobre a base biológica do orgasmo feminino para todas as mulheres, não hipóteses ou opiniões pessoais.
O ‘orgasmo vaginal’ não existe
Um exemplo claro é encontrado no termo “orgasmo vaginal” ou “orgasmo ativado via vagina”. Ambos são frequentemente usados para se referir ao clímax obtido durante a penetração vaginal, sem estimulação direta do clitóris externo.
Mas a verdade é que o orgasmo vaginal não tem nenhuma base científica, já que é um órgão pouco sensível.
Na verdade, não possui nenhuma estrutura anatômica que possa provocar um orgasmo.
Uma evidência deste fenômeno é que em mulheres com agenesia vaginal (ausência congênita da vagina) as respostas sexuais da vagina artificial são idênticas às da vagina normal.
O que acontece tanto em mulheres com vagina normal quanto com vagina artificial é que a musculatura perineal (do assoalho pélvico) se contrai durante o orgasmo.
Em todas as mulheres foram identificadas contrações recorrentes de diferentes músculos da região perineal. Especialmente dos músculos bulbocavernosos e isquiocavernosos.
Ambos os músculos se estendem de ambos os lados da vulva (no espaço delimitado pelos lábios genitais).
Durante a excitação sexual (e a ereção do clitóris), eles se contraem de forma involuntária e contínua, favorecendo a excitação e provocando a ejaculação feminina.
Ao mesmo tempo, distúrbios sexuais estão associados a sintomas do trato urinário.
Mais de 40% das mulheres com infecções urinárias recorrentes, incontinência ou prolapso uretral apresentam uma deterioração em sua vida sexual.
Isso acontece porque as alterações urogenitais costumam causar baixa libido, secura vaginal e diminuição da taxa e intensidade dos orgasmos.
Todos estes fatores fazem parte do círculo vicioso de alteração estrutural e emocional que impede o desenvolvimento de uma vida sexual plena.
O que o assoalho pélvico tem a ver com orgasmos?
A hipotonia ou fraqueza do assoalho pélvico e a incontinência urinária podem interferir de forma direta nas relações sexuais.
Às vezes, pode ocorrer o vazamento de urina durante a penetração, durante o orgasmo ou ambos.
O movimento da vagina (e dos músculos que a cercam) durante a penetração facilita a perda de urina.
Nestes casos, é lógico esperar que, após o exercício (devidamente programado) do assoalho pélvico, os sintomas dessas mulheres melhorem.
De fato, os músculos do assoalho pélvico são diretamente responsáveis pela quantidade e intensidade das sensações que uma mulher sente durante a relação sexual.
Assim como a intensidade do aperto ou pressão que seu parceiro sente durante a penetração.
As contrações rítmicas do assoalho pélvico contribuem para a excitação e a capacidade de muitas mulheres atingirem o orgasmo.
Os programas de exercícios do assoalho pélvico melhoram o tônus muscular e a circulação nos órgãos pélvicos.
Isso é especialmente importante para os músculos menores do assoalho pélvico, que são responsáveis por inchar e erguer o clitóris quando as mulheres estão excitadas.
Consequentemente, a manutenção da musculatura perineal em condições saudáveis de força, resistência e elasticidade favorece o desenvolvimento de relações sexuais satisfatórias.
Por exemplo, com os conhecidos exercícios de Kegel é possível treinar e fortalecer os músculos perineais (incluindo os músculos isquiocavernosos e bulbocavernosos).
Na verdade, estes exercícios demonstraram ser um tratamento preventivo altamente eficaz para o vaginismo.
Fisioterapia e saúde sexual
Este é apenas um exemplo simples de como a fisioterapia é útil no tratamento e prevenção de disfunções sexuais.
Embora também tenham sido demonstrados efeitos benéficos da realização de massagem perineal, da aplicação de estímulos elétricos suaves, do uso de instrumentos como as bolas chinesas…
Como profissionais de saúde coletiva, os fisioterapeutas participam da educação de hábitos saudáveis e da promoção do bem-estar.
Uma vez que a saúde sexual é parte integrante do bem-estar geral, os fisioterapeutas em diferentes níveis assistenciais desempenham um papel importante na prevenção e tratamento das disfunções sexuais.
Mas é preciso fazer um esforço para difundir e normalizar esta questão.
A começar pela população em geral, dado que devido ao constrangimento e desconforto em decorrência da natureza íntima do problema, as pacientes podem não fornecer espontaneamente informações sobre sua função sexual aos profissionais de saúde.
Quanto aos profissionais de saúde, cabe ter consciência da importância e gravidade das alterações sexuais e fazer perguntas pertinentes às pacientes com quadros clínicos compatíveis com possível comprometimento sexual.
Além disso, os profissionais de saúde também devem proporcionar um ambiente seguro e aberto no qual as pacientes possam se sentir à vontade para falar sobre suas relações sexuais.
*Raquel Leirós Rodríguez é professora assistente e doutora em Fisioterapia pela Universidade de León, na Espanha.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons.