Uma jovem de 21 anos, negra, que estava a caminho da casa de uma missionária para fazer um estudo bíblico, em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, foi abordada por policiais militares e acusada de roubar um celular que estava segurando.
A denúncia foi feita pelo pai da vítima, que afirmou que o aparelho em questão era o próprio celular da jovem. A jovem precisou mostrar conversas com o pai para provar que era a dona do celular.
A situação aconteceu na última quarta-feira (2) e a Polícia Militar abriu uma sindicância para investigar o caso.
De acordo com o pai da vítima, a jovem estava chegando na comunidade do Cordoeira quando foi abordada. Ela e a família participam de um projeto social na comunidade que atende crianças carentes.
A jovem ainda está muito abalada com a situação. O pai dela, Matheus Barros, contou que tinha acabado de deixar a filha no local e ela estava com o celular na mão, conversando com ele, quando foi abordada por dois policiais.
“Já na indagação, de cara, eles perguntam ‘de quem você roubou esse telefone?’. Aí ela precisou abrir conversas no telefone e mostrar conversas minhas, a nota, o recibo, o código de rastreio. E eles continuaram a duvidar e perguntaram pra ela com que dinheiro ela ia pagar. Ela tirou um cachepot da bolsa e mostrou que faz pra vender”, disse Matheus.
Cachepots são recipientes decorativos para plantas.
O pai contou ainda que os policiais deixaram a jovem seguir depois que outras pessoas começaram a chegar no local.
“As dúvidas continuam acontecendo. Aquele clima de dúvidas e pressuposições erradas. Só que eles percebem que tá chegando mais gente na rua e aí, sem retratação, sem desculpa, mandam ela embora como um cachorro: sai, sai, sai”, disse Matheus.
O pai chegou a postar um relato nas redes sociais.
“Na sequência me passou uma tristeza. Pode ser incrível, mas [a tristeza] foi pelo comportamento da minha filha, que tava assustada, desnorteada e triste e aquela tristeza me pega. Mas também o sentimento de normalidade na fala dela me chamou atenção e me revoltou mais. Ali eu percebi que o oprimido estava sendo acostumado como se tivesse tudo certo. [Ela disse] ‘pai, eles duvidaram do meu celular, mas pai, isso é normal’”, desabafou.
Matheus e a filha devem prestar depoimento nesta quinta-feira (10).
O pai da jovem disse que, no dia seguinte à abordagem, foi procurado por policiais do batalhão de Nova Friburgo.
“Na manhã seguinte, eu recebi uma ligação do projeto onde eu trabalho dizendo que tinham alguns policiais lá me procurando. Junto com eles estava o tenente Magno e disse que se compadece disso e que não é um retrato da corporação e que aquele ato não representa o todo dos policiais. O que eu acredito. E ele sugeriu que a gente desse continuidade e formalizasse toda aquela denúncia para que se abrisse uma investigação pra descobrir quem foi”.
A Polícia Militar informou, por meio de nota, que “a Corporação, como tem demonstrado ao longo de sua história, não compactua e pune com o máximo rigor desvios de conduta cometidos por seus membros. Sobre o referido episódio, o comando do 11º BPM (Friburgo), assim que tomou conhecimento dos vídeos, determinou imediatamente a instauração de um procedimento para apurar as circunstâncias do fato”.
(G1)