Pesquisadores da Universidade de Barcelona mapearam a origem de variações genéticas que caracterizam a nossa espécie, explica a professora e especialista Tábita Hünemeier, do Instituto de Biociências da USP
Por Gabriele Koga – Domingo, 7 de agosto de 2022
Em um estudo publicado na revista Scientific Reports, uma equipe internacional de pesquisadores da Universidade de Barcelona, na Espanha, em parceria com o Instituto Europeu de Oncologia e as Universidades de Viena e Milão, realizou uma aproximação que mapeou a origem de algumas variações genéticas que caracterizam a nossa espécie.
No trabalho, a partir de um conjunto de dados disponível publicamente — dados que tiram proveito dos genomas neandertais e denisovanos, ambos parentes distantes do homem moderno, para compilar um catálogo genômico de variações específicas do Homo sapiens —, os estudiosos fizeram uma estimativa para avaliar a idade de variantes associadas a sinais de seleção positiva, como alterações específicas do tecido e mutações relacionadas com a forma da face e cerebelo e a formação do cerebelo.
De acordo com Tábita Hünemeier, professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências (IB) da USP, que não participou do estudo, há a compreensão de que a história humana não é linear e diferentes ramos de nossa árvore evolutiva não só coexistiram, como também se cruzaram, é fundamental para a ciência. “A gente tem essa ideia de que o Homo sapiens é a ponta de uma escada evolutiva. Ele é como qualquer outra espécie que passou por uma história bastante diversa e evoluiu com outras espécies até chegar aqui. De alguma maneira, se adaptou melhor e acabou sobrevivendo”, explica.
Bióloga especializada em genética de populações humanas, Tábita destaca que os períodos de coexistência entre espécies hominídeas, com maiores mudanças genéticas, foram o foco do estudo. “O primeiro pico é na separação do Homo sapiens dos outros Homos. O segundo é quando há a dispersão dos sapiens para fora da África. Eles [pesquisadores] acham esses genes de encefalização num período entre 300 500 mil anos atrás e, um pouco mais recente, encontraram as variantes de integração do neandertal e denisovano nos últimos 100 mil anos, quando essas duas espécies tiveram contato”, destaca.
A partir da nova descoberta será possível aprofundar as investigações antropológicas e genéticas para compreender as muitas complexidades da evolução, já que ainda é difícil determinar com precisão quando surgiram as variantes genéticas que nos distinguem de outras espécies humanas. “É uma construção do conhecimento importante. Acho que a gente está cada vez mais entendendo como a nossa espécie se diversificou e se diferenciou”, finaliza Tábita.
Fonte: Jornal USP