Cantora optou pela simplicidade punk da sua conexão com a plateia na primeira apresentação sul-americana da Holy Fvck Tour
Lembre das turnês mundiais que desembarcaram pelo Brasil este ano. Se pensar em Kiss, lembrará de Paul Stanley voando pela plateia; em Rosalía, lembrará do balé perfeitamente coreografado. Mesmo o Coldplay, que ainda não chegou, deve trazer nas próximas semanas o espetáculo de chuva de confetes e fogo de artifício da turnê Music of the Spheres. Não é uma regra – mas é exatamente o esperado para shows em 2022: uma sequência de efeitos especiais captados na íntegra e à exaustão por diferentes ângulos da plateia. E tudo certo: é assim que a banda toca esses dias. Nesse sentido, porém, não deixa de ser uma surpresa boa quando uma apresentação baseada apenas em música e conexão com a plateia desembarca por aqui. E é exatamente esse o acerto de Demi Lovato no show em São Paulo.
Quem a ver de perto em sua segunda apresentação no palco Espaço Unimed, nesta quarta (31), não dará de cara com pirotecnia ou com takes perfeitamente calculados para as redes sociais. Em vez disso, verá uma artista completamente entregue e conectada ao público – que, no primeiro show, não estourou a lotação da casa, apesar de fazer-se ouvir como tal.
Demi desembarca no Brasil com sua Holy Fvck Tour, a novíssima turnê lançada há menos de três semanas nos Estados Unidos. Por aqui, ela se apresenta em três cidades e segue para a Colômbia, para a Argentina e para o Chile, antes de desenrolar o restante das datas americanas. No line-up, as músicas de seu ainda mais recente disco Holy Fvck, lançado em 19 de agosto, apareceram entre alguns sucessos anteriores de Demi e de versões, tudo com a roupagem rock que é a assinatura da cantora no momento.
Mais que uma atitude roqueira, aliás, Demi Lovato traz para o palco uma banda 100% feminina que segura à perfeição a proposta pop-punk da cantora – por vários momentos, a sensação era de estar à frente do The Donnas, icônico quarteto californiano, em hiato desde 2012. O destaque aqui é a guitarrista Nita Strauss, que acompanhou a banda de Alice Cooper por oito anos antes de junta-se à Holy Fvck Tour – com a bênção de Cooper, diga-se de passagem: “Eles me abraçaram, muito felizes, e me deram todo o apoio. Alice disse, ‘Nós estamos tão orgulhosos'”, disse Nita ao Loudwire Nights.
Demi, por sua vez, segura bem os vocais e a postura roqueira. Em seu álbum, Holy Fvck, ela detalha nas letras a experiência pessoal de superar a dependência química. Já na sequência inicial do show, aparece de look vermelho e guitarra em mãos para a sequência de “HOLY FVCK”, “FREAK”, “SUBSTANCE” e “EAT ME” – as faixas mais pesadas, letra e música, do novo disco. Entre uma faixa e outra, integrage com a plateia. Arrisca um português, “eu te amo São Paulo”, e apresenta a banda. Em “Confident”, a música para repentinamente. Demi pede atenção a uma fã que passava mal em meio a plateia. Providencia água e atendimento médico. Perguntam se todos estão bem e tomando água. Situação resolvida, retoma a música da ponte. E segue o show até perceber outra pessoa passando mal na plateia. Repete o processo. E segue o show.
No palco, Demi assume o caminho da franqueza para estabelecer sua relação com a plateia. E isso é para lá de punk. Ela conhece bem o público e o público a conhece. De seus 30 anos recém-completos, ela passou 21 diante do olhar de uma geração que a viu atravessar suas muitas fases. Do início nas telas do Disney Channel, pelo power pop, pelas experiências R&B, até essa fase mais roqueira; mas principamente pelas idas e vindas de uma artista que entrega em letras no palco a sinceridade crua de sua própria experiência pessoal – que é, acima de qualquer pirotecnia, uma das maiores qualidades de rockstar de Demi Lovato.
Fonte: Rollingstone