O g1 ouviu a chefe do Signal, aplicativo que criou criptografia usada no WhatsApp, um integrante do comitê do Facebook para moderação de conteúdo e o cofundador de uma startup que atua contra contas falsas na internet. Eles se mostraram céticos em relação ao futuro do Twitter.
Por Victor Hugo Silva, g1
O início da gestão de Elon Musk no Twitter tem sido alvo de críticas por especialistas em tecnologia. As reclamações giram em torno da falta de clareza sobre como a empresa será administrada a partir de agora e sobre os planos do bilionário para moderação de conteúdo e o combate às contas falsas.
O g1 perguntou sobre a mudança no comando do Twitter para três participantes do Web Summit, feira de tecnologia e inovação que aconteceu em Lisboa na última semana:
- Meredith Whitakker, chefe do aplicativo de mensagens Signal, que criou a criptografia usada pelo WhatsApp;
- Alan Rusbridger, integrante do Comitê de Supervisão do Facebook, que analisa postagens controversas na rede social;
- Ludwig Thoma, cofundador da Trusted Account, startup Trusted Account, que oferece um serviço de verificação de contas em plataformas na internet.
Eles têm dúvidas sobre o que o empresário pretende fazer no comando da empresa e se mostraram céticos em relação ao futuro da rede social.
Como o Twitter será administrado?
“Não está claro para mim qual será o modelo de negócios ou como ele vai dar certo”, disse Meredith Whittaker, presidente da Signal Foundation, responsável pelo aplicativo de mensagens Signal, que tem foco em privacidade.
“Eu acho que o que está claro é que confiamos nessas empresas por nossa conta e risco. Porque a qualquer minuto, alguém pode vir e comprá-las, um conselho pode decidir ir em outra direção”, afirmou. “Em qualquer momento, elas têm o poder, nós não”.
Meredith também contesta a ideia de que as redes sociais foram criadas para os usuários interagirem. “Esse é o negócio de publicidade deles, seu gerador de faturamento, sua máquina de lucro”.
“Disseram-nos que é o nosso espaço, nossa praça. E isso obviamente não é verdade”, disse a chefe do Signal, em referência à fala de Musk sobre o plano de criar uma “praça digital comum” para a humanidade.
Como ficará a moderação de conteúdo?
Musk, que já se declarou como um “absolutista da liberdade de expressão”, dá sinais de que planeja mudar a moderação de conteúdo na rede. Sem citar a concorrência, ele indicou que poderá seguir o modelo adotado pelo Facebook: o de um conselho independente para casos importantes.
Alan Rusbridger, um dos membros do chamado Comitê de Supervisão do Facebook, brincou que não há novidade no plano de Musk. “Ele falou que precisava criar um conselho sobre conteúdo. Então, nós levantamos as mãos e dissemos: ‘Estamos aqui, por que não vem falar conosco?'”, disse em entrevista ao g1.
“Se Musk criar um conselho de conteúdo, ele terá que ser global, pensar sobre direitos humanos, que é o que fazemos, e ter diferentes tipos de especialistas e vozes”, analisou.
Para Rusbridger, Musk já entendeu que deve agir com cuidado para evitar prejuízo com publicidade. Na semana passada, as montadoras General Motors e Volkswagen e a seguradora Allianz afirmaram que pretendem pausar gastos com propaganda na rede social.
“Ele percebeu que o Twitter precisa cumprir a lei e não pode afastar anunciantes. Os anunciantes não querem estar em um espaço que é como a selva”, disse o integrante do conselho do Facebook.
O comportamento de Musk enquanto usuário do Twitter também é visto como um problema. “Para mim, ele pensa muito em voz alta. Ele lança essas ideias à noite, faz enquetes para um milhão de pessoas que dizem: ‘Faça isso ou faça aquilo’. Então, eu não acho que realmente existem planos”, resumiu Rusbridger.
Qual o plano para evitar contas falsas e de spam?
Em abril, quando fez a proposta para comprar o Twitter, Musk disse que pretendia eliminar contas falsas e de spam. Os questionamentos do empresário sobre a quantidade desses perfis na base de usuários da rede social fizeram o negócio ficar travado por quase seis meses.
Agora no comando da empresa, Musk poderá colocar em prática seu plano de limitar essas contas. Ele coloca as fichas no Twitter Blue, em que usuários poderão pagar US$ 8 para ter o selo de verificado, que indica que se trata de uma conta autêntica.
Ludwig Thoma, cofundador da startup Trusted Accounts — Foto: Nina Bröll/Startupland
“Pelo que ouvi desde a aquisição, sou cético, para dizer o mínimo”, afirmou Ludwig Thoma, cofundador da startup Trusted Account, que fornece um serviço de verificação de usuários para limitar contas falsas em plataformas.
Para Thoma, a cobrança de US$ 8 para usuários receberem um selo de verificado não é uma medida que limita contas falsas. “As contas gratuitas ainda serão a grande maioria no Twitter e é aí que os trolls vivem”, explicou.
“Caso ele [Musk] realmente consiga combater os trolls, isso pode ajudar outras plataformas a melhorarem sua proteção também. A questão é que até agora não vi ou ouvi falar da solução que ele tem em mente”, disse Thoma.
“Priorizar contas pagas para evitar trolls automatizados realmente levaria a uma sociedade dividida por classes em que pessoas que podem pagar por uma assinatura do Twitter são ouvidas e as outras não”.
Fonte: O Globo