BC endurece tom, faz alerta a novo governo e coloca Selic em “espera”, dizem economistas

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Falta de clareza sobre planos fiscais do novo governo e aumento de rumores sobre volta de medidas desenvolvimentistas colocam autoridade em compasso de espera

Em meio ao cenário de incertezas sobre os rumos da política fiscal do governo eleito, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) endureceu o recado sobre os riscos que um desarranjo fiscal pode provocar, segundo economistas ouvidos pela CNN.

A autoridade divulgou na terça-feira (12) ata das reuniões do dia 6 e 7, quando decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano.

No documento, o BC ressalta que o tema fiscal foi debatido “de forma extensa” e que não “hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, o que pode fazer com que a taxa básica de juros fique mais tempo no atual patamar ou até suba antes do previsto pela maioria no mercado.

“Consideramos um sinal mais duro em relação ao que era esperado. Tínhamos na cabeça um cenário de corte da Selic no segundo semestre de 2023, porém, esse discurso do BC foi bastante direto e objetivo, então estamos na mão agora no tamanho da PEC (de Transição) a ser aprovada pela Câmara nesta semana, e nos próximos anúncios do futuro ministério da Fazenda”, diz Stephan F. Kautz, economista-chefe da EQI Asset.

A falta de clareza sobre como o novo governo vai conduzir a alta já planejada dos custos —o que também passa pela definição da equipe econômica do governo—, faz com que o BC espere para fazer definições importantes sobre os próximos passos da política monetária, destaca Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

“O BC vai ficar em compasso de espera para o primeiro semestre. Se não houver sinais críveis de mudança, o BC, no mínimo, vai demorar mais para diminuir a taxa de juros. Aumentou muito o risco disso, mas o BC não deu sinalização de ação porque está ainda muito nebuloso o que será feito de compensação para esse começo ruim”, diz.

A autoridade responde, sobretudo, a comentários recentes vindos da equipe de transição, que podem indicar uma reversão de reformas estruturais já concluídas e, mais recentemente, a rumores da volta da política de subsídios amplamente adotadas durante governos petistas, além da ameaça à lei das estatais.

“Começam a aparecer os riscos de uso inadequado dos bancos públicos. Sem espaço via orçamento, o governo poderá usar com mais agressividade os bancos públicos para tentar estimular a economia”, diz Vale.

“A maior incerteza sobre os gastos públicos pode, sim, afetar o plano de voo do Copom. O que vemos como mais provável é que o Banco Central mantenha por mais tempo a Selic em 13,75% ao ano, adiando, portanto, o ciclo de redução de juros”, diz o C6 em nota. A instituição prevê início da queda da Selic no 3º trimestre do próximo ano, com a taxa terminando 2023 em 11,75%.

O BC diz ainda que a alta dos juros pode perder efeito, dependendo das escolhas do novo governo, e cita os diferentes canais pelos quais a política fiscal pode afetar os preços, “não só os efeitos diretos na demanda agregada, como também via preços de ativos, grau de incerteza na economia, expectativas de inflação e taxa de juros neutra”.

Fator externo

A ata cita ainda os efeitos nos preços domésticos que podem vir de um ambiente externo “adverso e volátil”, marcado pela perspectiva de crescimento global abaixo do potencial no próximo ano.

“O aperto das condições financeiras nas principais economias, as dificuldades no fornecimento de energia para a Europa e o cenário desafiador para o crescimento na China, em parte devido à política de combate à Covid-19, reforçam uma perspectiva de desaceleração do crescimento global nos próximos trimestres”.

Para o ex-diretor do BC Tony Volton, o fator externo tem mais poder de definir alterações da política monetária do BC do que o aumento de gastos do novo governo, que já está precificado.

“Acho que a trajetória da Selic deve ter mais como fator determinante o cenário externo que a questão fiscal. No caso da política fiscal, já sabemos que teremos mais gastos, a definição da âncora fiscal nova deve demorar. O ambiente externo está mais incerto”, diz.

Volpon cita os sinais do Federal Reserve (BC dos EUA) em relação a mais altas nos juros americanos e, ao mesmo tempo, os vários sinais de queda de inflação nos Estados Unidos.

“O que vai prevalecer?”, questiona. “Não é difícil desenhar um cenário onde o Fed corta juros em meados de 2023 e o nosso BC segue, apesar da questão fiscal”.

Fonte: CNN Brasil

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