Medicamento para hipertensão inibe crescimento de tumor cancerígeno em animais

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Fármaco reduziu migração e metástase de células cancerígenas. Pesquisadores planejam iniciar testes em seres humanos no ano que vem

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O medicamento ambrisentan, usado no tratamento da hipertensão arterial pulmonar, foi capaz de inibir o crescimento e a migração de células cancerígenas, além de reduzir o surgimento de novos tumores (metástases), mostraram os testes de laboratório em culturas celulares (in vitro) e em animais. A descoberta foi feita em pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP. O medicamento é aplicado de forma menos invasiva, por via oral, podendo ser usado nas fases iniciais do câncer. Os pesquisadores planejam iniciar os testes em seres humanos no ano que vem.

O estudo foi coordenado pelo pesquisador Otávio Cabral Marques, do Departamento de Imunologia do ICB, e está descrito em artigo publicado na revista Scientific Reports. O medicamento escolhido para a pesquisa é um antagonista seletivo do receptor de endotelina tipo A, ou seja, tem a função de inibir esse receptor, que é expresso no endotélio (camada que reveste a parede interna dos vasos sanguíneos), células tumorais e em células do sistema imune. Outros estudos já comprovaram que o receptor de endotelina tipo A está envolvido no crescimento tumoral e na metástase de vários tumores. Assim, esse alvo serviria para diferentes tipos de câncer.

A equipe começou com os testes in vitro para verificar a migração das células, usando diferentes linhagens tumorais, como leucemia, câncer de ovário e de pâncreas. As células foram tratadas com a droga e algumas receberam um estímulo; em seguida, os pesquisadores quantificaram as células que migraram. O medicamento impediu tanto a migração induzida quanto a espontânea.

Redução da metástase

Otávio Cabral Marques: testes em pacientes com o medicamento devem ser realizados no início do próximo ano – Foto: Arquivo pessoal

O próximo passo foi testar o fármaco em camundongos no estágio inicial de câncer de mama. Os animais receberam o tratamento durante duas semanas antes da implantação do tumor até duas semanas depois e apresentaram uma redução de 43% da metástase. “Uma vez que esse modelo de tumor é implantado nos camundongos, a metástase ocorre muito rapidamente. Por isso o tratamento precisou começar antes”, esclarece Marques.

A hipótese dos pesquisadores é que, em futuros testes clínicos, se a droga for administrada no início da doença, antes do desenvolvimento da metástase, será possível impedir ou reduzir o crescimento do tumor, melhorando o prognóstico. “Nosso objetivo é verificar se o medicamento pode ser aliado ao tratamento tradicional e reduzir a necessidade de quimioterapia”, afirma. A vantagem é que o fármaco é aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e já passou por testes de segurança. Além disso, é uma droga oral, não invasiva.

O grupo também pretende investigar se seria possível modificar o método de entrega do fármaco e administrá-lo diretamente no tumor para obter um resultado mais eficiente. O coordenador do estudo está em contato com o Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) para testar o ambrisentan em pacientes e a expectativa é que essa etapa tenha início no próximo ano.

Os resultados da pesquisa são apresentados no artigo Ambrisentan, an endothelin receptor type A-selective antagonist, inhibits cancer cell migration, invasion, and metastasis, publicado pela revista Scientific Reports no último dia 28 de setembro.

(Com informações da Acadêmica Agência de Comunicação, Assessoria de Imprensa do ICB)

Mais informações: e-mail [email protected], com Otávio Cabral Marques

Fonte: Jornal USP

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