Por Michelle Roberts
Cheirar o odor corporal de outras pessoas pode ser útil na terapia contra a ansiedade social, segundo pesquisadores suecos que iniciaram testes com voluntários.
Os cientistas têm usado o suor das axilas nos experimentos.
O palpite deles é que o cheiro ativa vias cerebrais ligadas às emoções, oferecendo um efeito calmante — mas ainda é muito cedo para dizer se esses especialistas estão certos ou errados.
Eles estão apresentando algumas das primeiras descobertas sobre o tema em uma conferência médica que acontece em Paris, na França, durante esta semana.
Por que (e como) cheiramos?
Os bebês nascem com um olfato forte, com preferência pelos aromas que vêm da mãe e do leite materno.
O olfato ajuda os humanos a sentir o perigo — de comida estragada ou fogo, por exemplo — e interagir com o ambiente e com outros indivíduos.
Esse sentido também torna as refeições mais saborosas e pode evocar memórias importantes.
Os aromas são detectados por receptores na parte superior do nariz. Os sinais deles são então retransmitidos diretamente para o sistema límbico, uma região do cérebro associada à memória e às emoções.
Os pesquisadores suecos sugerem que o odor do corpo humano pode comunicar nosso estado emocional — feliz ou ansioso, por exemplo — e até provocar respostas semelhantes em outras pessoas que o cheiram.
Eles pediram a voluntários que doassem suor nas axilas que exalaram enquanto assistiam a um filme de comédia ou de terror.
Em seguida, 48 mulheres com ansiedade social concordaram em cheirar algumas dessas amostras. Além disso, elas receberam uma terapia mais convencional chamada mindfulness (atenção plena), na qual as pessoas são encorajadas a se concentrar no aqui e agora, em vez de divagar e repetir pensamentos negativos.
Algumas das voluntárias receberam odor corporal genuíno para cheirar, enquanto outras — o grupo controle — tiveram contato apenas com ar puro.
Aquelas que foram expostas ao suor pareciam se sair melhor após a terapia.
A pesquisadora principal, Elisa Vigna, do Instituto Karolinska em Estocolmo, avalia que “o suor produzido enquanto alguém está feliz teve o mesmo efeito do de alguém que se assustou com um filme”.
“Portanto, pode haver algo sobre os sinais químicos humanos no suor em geral que afetam a resposta ao tratamento”, continua a pesquisadora.
“Pode ser que simplesmente estar exposto à presença de outra pessoa tenha esse efeito, mas ainda precisamos confirmar essa observação. Na verdade, é isso que estamos testando agora, em um estudo de acompanhamento semelhante, onde incluímos também o suor de indivíduos que assistem a documentários emocionalmente neutros.”
O que é suor? Ele sempre tem um cheiro?
A maior parte do suor que brota da pele é inodora (ou seja, não tem cheiro algum). Mas as glândulas sudoríparas nas axilas e nas virilhas produzem certos compostos que formam o odor corporal.
Bactérias na superfície da pele e nos folículos pilosos próximos quebram esses compostos, produzindo outros que são responsáveis pelo cheiro.
Duncan Boak, representante da instituição Fifth Sense, que visa aumentar a conscientização sobre os distúrbios do olfato e do paladar, afirma que “há uma forte ligação entre o olfato e o bem-estar emocional”.
“Perder a capacidade de cheirar outras pessoas, como o parceiro e os filhos, pode causar depressão e sentimentos de isolamento nas pessoas.”
“Embora este seja um estudo preliminar e mais trabalhos sejam necessários, é muito encorajador ver mais pesquisas sobre a importância de nosso olfato para uma boa saúde mental”, conclui.
-Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cjqdyzd9jklo