Por Elaine Alves
Com apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, professor do Instituto de Geociências vai visitar 24 cidades de São Paulo que são referência na história dos dinossauros do Brasil e mapear os pontos turísticos científicos
Entre as 54 espécies de dinossauros encontradas no Brasil, existem algumas que já viveram no território que hoje conhecemos como o Estado de São Paulo. E é pensando nisso que Luiz Eduardo Anelli, paleontólogo e professor do Instituto de Geociências (IGc) da USP, desenvolveu a expedição Trilha dos Dinossauros, projeto com o objetivo de difundir e popularizar o patrimônio científico e cultural pré-histórico brasileiro. A iniciativa tem apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP e, a princípio, oito cidades do Estado serão visitadas durante abril e, ao todo, 24 cidades farão parte da Etapa São Paulo.
Para o professor, a Trilha dos Dinossauros é uma oportunidade de compreensão do mundo atual a partir do passado. “A era dos dinossauros foi um momento importante na história do mundo, no qual houve muitas transformações geológicas, como vulcanismos que alteravam as condições químicas da atmosfera. Todas essas transformações ficaram marcadas nas rochas, e a partir disso podemos entender como nasceu o mundo em que nós vivemos atualmente. Ele nasceu na época dos dinossauros”, explica.
Uma rota científica em São Paulo
Cidades como Taubaté, Itatiaia e Santo André possuem algo em comum: todas essas localidades abrigam um vasto material sobre dinossauros, ainda pouco conhecido pela população do Estado de São Paulo e de outras regiões do Brasil. São sítios geológicos, paleontológicos e museus com diversos fósseis em exposição. Santo André, por exemplo, é um dos pontos de parada da rota e possui o único esqueleto de Tyrannosaurus rex em exposição na América do Sul.
Luiz Eduardo Anelli, paleontólogo, professor do IGc e idealizador do projeto Trilha dos Dinossauros – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Em outros municípios escolhidos pelo professor Luiz Anelli também é possível encontrar recursos importantes para o estudo dos dinossauros brasileiros: em São José dos Campos está localizado o Museu Interativo de Ciências, que tem em seu acervo o único esqueleto do dinossauro brasileiro Oxalaia quilombensis e do pterossauro Tropeognathus. O Museu de História Natural de Taubaté dispõe de diversos esqueletos de dinossauros completos em exposição, incluindo um crânio de Tyrannosaurus rex, e fósseis originais escavados na região, com o único esqueleto da ‘ave do terror’ conhecido no Estado de SP. Na capital, os museus de Zoologia e de Geociências da USP, o Parque Água Branca e o Catavento Cultural contam com diversos esqueletos de dinossauros e de outros animais pré-históricos brasileiros. Já em Itatiba e Itapira é possível visitar diversos esqueletos de dinossauros no Zoológico de Itatiba e no Museu de História Natural, respectivamente.
No que diz respeito a sítios geológicos, a formação geológica atual do Parque Nacional de Itatiaia possui remanescentes de um vulcão de até 5 mil metros de altura, que existiu na região cerca de 70 milhões de anos atrás, na era dos dinossauros. E a Pedra do Baú, na Serra da Mantiqueira, conta com estruturas geológicas formadas durante a primeira fratura do supercontinente Gondwana, a separação da América do Sul e da África. Confira o cronograma da Trilha dos Dinossauros mais abaixo.
As viagens dessa expedição serão feitas para delinear em quais áreas existem museus, universidades e regiões geológicas que possam se tornar pontos turísticos científicos. Anelli explicou que esse passo será filmado e fotografado, mas não será aberto ao público, já que caberá à Secretaria de Turismo de São Paulo sinalizar aos visitantes quais locais fazem parte da trilha em um momento futuro. O paleontólogo e a escritora Celina Bodenmüller, que o auxilia na parte administrativa do projeto, planejam escrever um guia sobre a rota, e a Secretaria será orientada a distribuí-lo para as pessoas que chegam às cidades.
Entretanto, a Trilha dos Dinossauros oferecerá um programa livre para quem quiser participar. O professor vai ministrar palestras para universitários, professores e alunos do ensino fundamental e médio da rede pública e privada, realizar visitas guiadas aos museus citados anteriormente, dentre outras atividades. Além disso, ele lançará seu livro Novo Guia Completo dos Dinossauros do Brasil em cada cidade visitada.
O livro Novo Guia Completo dos Dinossauros do Brasil, de Luiz E. Anelli, em parceria com a Editora Peirópolis e a Edusp, descreve em linguagem acessível a formação da vida, a história da Terra e da geologia do Brasil, dando enfoque aos dinossauros que um dia habitaram o território brasileiro
Cronograma da Trilha dos Dinossauros – primeira etapa
10/4 – Itatiaia: Exame do vulcanismo alcalino ocorrido no final da era dos dinossauros
11/4 – Itatiaia: Exame das rochas e produção de vídeo sobre o vulcanismo
13/4 – Pedra do Baú e Bauzinho: Exame das rochas e produção de vídeo sobre o vulcanismo
14/4 – Taubaté: Palestra em escola pública
15/4 – Taubaté: Palestra e visitas guiadas ao Museu de História Natural de Taubaté
16/4 – Taubaté: Coleta de fósseis
17/4 – Taubaté: Palestra para a turma de Biologia da Universidade de Taubaté
18/4 – São José dos Campos: Palestra para professores do Centro de Ciência de São José dos Campos
19/4 – São José dos Campos: Palestra em escola pública de São José dos Campos
20/4 – Santo André: Palestra e treinamento para monitores na instituição Sabina Escola Parque do Conhecimento
21/4 – São Paulo: Palestra no Instituto de Geociências da USP
22/4 – São Paulo: Visita guiada ao Museu de Zoologia
23/4 – São Paulo: Palestra e treinamento no Catavento Cultural
24/4 – Itatiba: Palestra em escola pública de Itatiba
25/4 – Itatiba: Palestra e visita guiada ao Museu e Zoológico de Itatiba
26/4 – Itatiba: Aula em escola pública de Itatiba
26/4 – Itapira: Palestra em escolas públicas de Itapira
27/4 – Itapira: Visita guiada ao Museu de Itapira
A expedição Trilha dos Dinossauros seguirá com pelo menos mais duas etapas: uma delas será realizada em maio e a outra ainda está a definir. Na segunda etapa, o professor vai visitar as cidades de Campinas, Rio Claro, São Carlos, Botucatu, Araraquara e Monte Alto.
Além disso, um próximo projeto que irá abranger os estados da região Sul do Brasil já está em planejamento. Anelli acredita que essas iniciativas são essenciais para difundir o conhecimento pré-histórico brasileiro. “Nós temos um tesouro no quintal da nossa casa inexplorado, que é o conhecimento científico e cultural do mundo dos dinossauros. Esse é o recado que nós queremos dar para a população no Estado de São Paulo e em seguida para a região Sul do Brasil: Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul”, finaliza.
Logo da Trilha dos Dinossauros, projeto organizado pelo paleontólogo e professor Luiz Eduardo Anelli, que tem por objetivo criar uma rota científica turística nas cidades de São Paulo
Exemplos de dinossauros que habitaram o território de São Paulo milhões de anos atrás
Ornitópode, um dinossauro que viveu há 140 milhões de anos, quando um deserto de dunas ocupava todo o Estado de São Paulo. O animal deixou uma das duas únicas marcas de urina de dinossauro conhecidas no mundo nas areias deste local
Brasilotitan, uma espécie de dinossauro que viveu 80 milhões de anos atrás, durante o período no qual vulcões estavam ativos na região leste do Estado de São Paulo. Nessa época, a América do Sul e a África haviam se separado havia pouco tempo.
O Austroposeidon é o maior dinossauro já descoberto no Estado de São Paulo, chegando a atingir 25 metros de altura. Ele viveu há 80 milhões de anos e seus restos foram encontrados na região do atual município de Presidente Prudente.
O paleontólogo, escritor e professor Luiz Eduardo Anelli também é autor de outros livros sobre dinossauros direcionados ao público infantojuvenil. Além de Novo Guia Completo dos Dinossauros (2022), ele escreveu ABCDinos (2017) e Novos Dinos do Brasil (2020).
Para mais informações sobre a Trilha dos Dinossauros, fique de olho no Instagram do projeto e contate o professor Luiz Anelli pelo e-mail: [email protected].
Fonte: Jornal da USP