Pesquisadoras coletaram os dados por meio de uma videoconferência em que orientaram os tutores no ambiente familiar dos gatos, garantindo um comportamento espontâneo e natural dos animais durante o experimento
Texto: Redação – Arte: Gabriela Varão – Sábado, 1 de abril de 2023
Na ciência cidadã, são as pessoas de fora da Universidade e do meio acadêmico que coletam os dados para um estudo científico: eles seguem um roteiro, filmam (ou tiram fotos) e enviam os dados a um cientista. Pesquisadoras do Instituto de Psicologia (IP) da USP inovaram no método ao usar uma videoconferência para coletar informações sobre o comportamento de gatos. Elas orientaram os tutores sobre como fazer o experimento e gravaram a videochamada, enquanto o participante realizava com o gato a tarefa proposta. O método foi denominado por elas como “ciência cidadã síncrona”: quem coleta o dado é o próprio pesquisador, que está presente virtualmente durante todo o procedimento, em conjunto com o(a) tutor(a) do gato.
Um dos pontos principais do novo método é permitir aos pesquisadores observarem um comportamento espontâneo e natural dos felinos. Quem é tutor de gato sabe que a maioria desses animais não gosta muito de sair de suas casas rumo a ambientes desconhecidos, chegando, muitas vezes, a mudar de comportamento quando vão ao veterinário ou a qualquer outro lugar. Outra vantagem é o encurtamento das distâncias com o uso de recursos tecnológicos, como internet e computadores.
O artigo descrevendo o estudo Synchronous citizen science: A new method for cat behavior research foi publicado na edição de fevereiro de 2023 da revista científica Journal of Veterinary Behavior. De acordo com as autoras, Naila Fukimoto e Natalia Albuquerque, do IP, e a professora Carine Savalli Redigolo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o trabalho é inovador ao adaptar o método, já usado em outros campos de pesquisa, para a área de comportamento animal. “Para gatos, que foi o que testamos, esse método foi realmente muito bom, porque o gato fica na sua casa, com o seu tutor; os tutores usaram a comida preferida do seu gato e um brinquedo novo, enviado por nós, então a situação é quase que totalmente corriqueira e positiva”, destaca Naila ao Jornal da USP.
De acordo com as pesquisadoras, o estudo sobre comportamento de gatos domésticos, inicialmente previsto para ser feito de forma presencial, precisou se adaptar à quarentena ocasionada pela pandemia de coronavírus e usou uma abordagem criativa e inovadora para a coleta de dados, com resultados bastante interessantes.
O artigo apresenta o resultado da aplicação do método em uma amostra piloto com cinco gatos e seus respectivos tutores, realizada entre julho e outubro de 2021. O experimento foi conduzido durante uma videochamada e duas interações humano-gato foram gravadas, uma com o alimento predileto do felino e outra com um brinquedo novo, que foi enviado pelas pesquisadoras para que todos os animais participantes interagissem com o mesmo objeto. O objetivo foi comparar como o gato se comportaria nessas duas interações altamente motivadoras.
Fotos cedidas pelas pesquisadoras
Segundo as autoras, o diferencial do método é contar com a presença virtual da pesquisadora durante todo o experimento, garantindo, dessa forma, que todas as instruções sejam seguidas. A orientação e o monitoramento foram fundamentais para a padronização do procedimento e precisão dos dados obtidos.
“O criativo método deu tão certo, que foi adotado para conduzir a pesquisa na amostra total, que incluiu 48 duplas de tutores e gatos, com grande sucesso e confiabilidade dos dados”, comenta Carine Redigolo.
De acordo com Natalia, gatos são animais que geralmente ficam estressados ao sair de casa e podem mudar seu comportamento em um ambiente desconhecido. “Com a ciência cidadã síncrona, o bem-estar dos participantes, das pesquisadoras e, principalmente, dos gatos, foi priorizado, uma vez que esses animais puderam participar da pesquisa em seu ambiente familiar com o mínimo de perturbação, o que também garantiu que os comportamentos exibidos por eles durante o experimento fossem espontâneos e naturais”, complementa Naila Fukimoto.
O artigo pode ser encontrado neste link.
Mais informações: e-mail [email protected], com Naila Fukimoto; [email protected], com Carine Savalli Redigolo, e [email protected], com Natalia Albuquerque
Com informações das pesquisadoras
Fonte: Jornal USP