Cientistas desenvolveram um dispositivo usado no pulso que pode revolucionar o tratamento de ataques cardíacos ao acelerar o diagnóstico — sem a necessidade de coletar sangue – um dos métodos atuais.
Mais de 700 mil pessoas visitam a emergência hospitalar na Inglaterra e no País de Gales por causa de dores no peito. Elas representam 25% das internações hospitalares.
Esses pacientes geralmente apresentam sintomas variados, problemas de saúde complexos relacionados e costumam tomar vários medicamentos. Analisá-los é uma tarefa difícil.
Isso geralmente inclui revisar o histórico médico, fazer um rastreamento cardíaco da atividade elétrica do coração (o eletrocardiograma) e fazer uma radiografia do tórax.
O eletrocardiograma, ou ECG, pode mostrar alterações no ritmo cardíaco associadas a um ataque cardíaco em cerca de 50% dos pacientes.
O restante não apresenta ritmo alterado e necessita de investigações mais aprofundadas, o que inclui exames de sangue importantes.
Um dos testes é para uma proteína encontrada nas células do coração chamada troponina. Esta proteína desempenha um papel fundamental em fazer com que as células musculares do coração se contraiam e relaxem.
Quando as células ficam sem oxigênio devido a um bloqueio nas artérias que fornecem sangue ao coração, as células começam a morrer e liberam troponina no sangue.
A troponina pode ser medida em um laboratório hospitalar a partir de uma amostra retirada de um paciente — normalmente de uma veia na dobra do cotovelo ou de um cateter nas costas da mão.
Este teste é repetido duas ou três horas após o paciente ser admitido no hospital.
Uma alteração na quantidade de troponina no sangue pode indicar um ataque cardíaco. Isso é especialmente útil para os pacientes que não apresentam alterações no ECG.
Pacientes com diagnóstico de ataque cardíaco precisam de tratamento urgente, normalmente por cirurgia, onde um cateter é inserido na artéria bloqueada no coração e um balão é inflado para abrir o bloqueio. Este procedimento é chamado de angioplastia.
Em muitos casos, um dispositivo chamado stent é inserido junto com o balão. Quando o balão é esvaziado, o stent fica no lugar para manter a artéria aberta.
Mas este exame de sangue de troponina requer que alguém tire sangue. É comum que as pessoas tenham medo de agulhas — a fobia de agulha afeta entre 4% e 10% da população. A ansiedade e o estresse podem piorar a dor no peito.
Sem necessidade de teste de sangue
O novo dispositivo usado no pulso pode medir a troponina sem coletar uma amostra de sangue.
Este dispositivo é usado no pulso como um smartwatch. Ele usa luz infravermelha através das camadas da pele (transdermicamente) para detectar a troponina no sistema sanguíneo.
Um estudo recente, publicado no European Heart Journal – Digital Health, mostrou que este dispositivo consegue detectar 90% dos ataques cardíacos em cinco minutos.
“Com esse nível de precisão, se você usar este dispositivo e o resultado for positivo, você tem quase certeza de que esse paciente pode ser internado para testes de diagnóstico, tratamento e intervenção rápidos”, afirma o principal autor do estudo, Partho P. Sengupta.
Se estudos maiores confirmarem essas descobertas iniciais, esse dispositivo revolucionário para detecção de troponina pode ser útil para detectar ataques cardíacos em clínicas de atendimento ou em serviços de emergência que atendem pacientes com dor no peito.
Isso também significa que os pacientes não precisariam esperar que as amostras de sangue fossem enviadas ao laboratório, analisadas e devolvidas ao hospital.
É importante que os pacientes tenham um suprimento de sangue em funcionamento pleno para o coração o mais rápido possível para impedir que mais células cardíacas morram. Como diz o ditado em cardiologia: tempo é músculo.
Este novo dispositivo usado no pulso pode acelerar o diagnóstico e o tratamento de pacientes com dor no peito.
A tecnologia também poderia ser usada para outros testes para detectar coágulos sanguíneos, gravidez ectópica ou sepse. E pode ser a salvação para quem tem fobia grave de agulha.
* David C Gaze é professor em Patologia Química da Universidade de Westminster.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).