Uma análise dos resultados com mapas por Estados e os últimos dados das projeções
JORGE GALINDO|KIKO LLANERAS02 NOV 2020 – 14:56 EST
Joe Biden é o favorito para ganhar as eleições. Tem uma vantagem de nove pontos nas pesquisas, o dobro do que Hillary Clinton tinha há quatro anos. A projeção diária do EL PAÍS dá ao candidato democrata 85% de probabilidade de ser eleito, uma liderança considerável. Mas 85% não é 100%, e Donald Trump mantém uma chance em seis de vencer.
As surpresas são uma possibilidade. As pesquisas são uma aproximação, embora não haja nada melhor para prever eleições. Graças às pesquisas realizadas, sabemos algumas coisas com certo grau de certeza. Entre elas, que os jovens votarão no candidato democrata e que Trump ganhará em Oklahoma. Mas não podemos esperar que essas previsões sejam exatas e garantam o vencedor em Estados com disputa acirrada, como a Flórida e a Pensilvânia.
Por isso, as previsões se expressam em probabilidades. É uma forma de ressaltar a incerteza de um resultado eleitoral. A seguir, vamos explorá-la propondo cinco resultados possíveis, Estado por Estado. Nos primeiros ganha Biden, e os últimos são as surpresas de Trump.
1. A vitória “normal” de Biden
Um cenário provável é que Biden e Trump vençam nos Estados onde neste momento têm vantagem. Nesse caso, se as pesquisas acertarem em todos os lugares, Biden ganharia com 351 votos eleitorais contra apenas 187 de Trump.
Que o mapa seja exatamente esse é improvável (há combinações demais). Mas há muitos resultados parecidos ―mudando-se de cor um dois, ou quatro Estados― e em todos Biden vence. Por isso ele é o favorito, porque Trump precisa de uma surpresa considerável para vencer
2. Uma vitória acachapante de Biden
Uma primeira surpresa seria que Biden se saísse melhor do que apontam as pesquisas. Nessa linha, talvez seja mais provável que, em vez de ganhar por 8 pontos, ele ganhe por 10. O mapa seguinte representa o resultado assumindo que o democrata vence em todos os Estados onde tem 33% de probabilidades, segundo o modelo estatístico do FiveThirtyEight. É um cenário possível, que poderia superar os 400 votos eleitorais e resolveria todas as incógnitas na noite desta terça-feira.
3. Trump se sai melhor que o esperado… e quase ganha
O triunfo de Trump passa por uma vitória “surpresa” ―o que, por definição, não pode ser previsto― ou por seguir um caminho estreito. O primeiro Estado fundamental é a Flórida, que tem 29 delegados e é o mais volátil de todos: nas últimas cinco eleições, a balança pendeu três vezes para o lado republicano e duas para o democrata. Trump precisa começar revertendo ali a desvantagem de três pontos que tem nas pesquisas. Depois, deve assegurar a vitória onde é líder ― Iowa (+1 pontos nas pesquisas), Texas (+2), Ohio (+2), Alaska (+6)― e vencer em outros Estados disputados, como a Geórgia (0) e a Carolina do Norte (-3). Se somar um Estado mediano em jogo, como Minnesota, seria um dos resultados mais acirrados da história recente.
Neste mapa, faltariam apenas dois delegados para Trump. Para somá-los, ou compensar outro Estado onde possa perder, o atual presidente tem três alternativas principais, exploradas a seguir. Nenhuma é impossível, mas todas passam por uma vitória em Estados onde neste momento as pesquisas o colocam longe de Biden.
4. Trump ganha outra vez graças ao Cinturão da Ferrugem
O primeiro cenário para uma vitória do republicano consiste em voltar a vencer nos Estados dessa zona de passado industrial e hoje em decadência: Pensilvânia, Michigan, Wisconsin e Minnesota. Em todos eles, como nos condados semirrurais de Ohio e Iowa, Trump obteve em 2016 as maiores vitórias em relação a 2012, garantindo os 307 delegados que lhe deram a Casa Branca.
Portanto, as pesquisas falharam ali porque não incluíram pessoas brancas da classe trabalhadora em número suficiente em suas amostras. Os institutos de pesquisa corrigiram esse erro e estão prevendo uma vitória democrata. Mas o presidente continua popular nas fileiras republicanas, e isso deixa aberta a possibilidade de que, mesmo que as áreas urbanas do Nordeste e do Sudoeste votem nos democratas, o Meio-Oeste voltará a dar a vitória a Trump.
Este cenário exige um erro considerável das pesquisas. Trump precisa vencer em três ou quatro Estados onde esteja cinco, oito ou nove pontos atrás de Biden. A Pensilvânia, a que tem mais ao seu alcance ―modelo do FiveThirtyEight—, só lhe dá 14% de opções. Biden parece um candidato mais competitivo do que Clinton no Meio-Oeste rural e industrial: ele próprio é de Scranton, Pensilvânia, tem um perfil centrista e não é malvisto entre os homens como sua antecessora, Hillary Clinton.
5. Vitória surpresa de Trump no Oeste
O segundo caminho mais provável para Trump seria manter os feudos republicanos no sul (Geórgia, Texas, Arizona) e recuperar vários dos recentemente perdidos, como Nevada, Novo México e Colorado.
Também não é um cenário muito provável: são Estados em que Clinton venceu em 2016 e onde Biden também mantém uma vantagem de 6, 11 e até 12 pontos. Seria uma surpresa. Mas é consistente com um objetivo do Partido Republicano desde os anos 1960: manter uma base forte de eleitores brancos no Sul, à qual agora poderia agregar eleitores de origem latina. Uma parte dos hispânicos é liberal-conservadora no âmbito econômico e social, e isso a distancia do voto progressista. A campanha de Trump tentou desafiar o estereótipo do voto azul hispânico, especialmente na Flórida (onde há muitos norte-americanos de ascendência cubana, venezuelana e colombiana, que desconfiam da política de esquerda).
6. A surpresa combinada: Nordeste e outra coisa
A terceira rota é híbrida: requer que Trump melhora e ―muito― suas pesquisas do Nordeste e ganha os Estados (branco, semiurbanos e semirrurais, de renda bastante alta) do Maine e New Hampshire, mas também leve alguns Estados dos cenários 4 ou 5 (Oeste ou Cinturão da Ferrugem).
Este cenário também é um exemplo de todas as surpresas possíveis, mas pouco prováveis. Sempre existe a possibilidade de um cisne negro, um acontecimento extraordinário de natureza hoje imprevisível: que um grupo ignorado da população vote de forma surpreendente, que haja uma reviravolta de última hora ou um acidente. O ano de 2016, com as vitórias de Trump e o Brexit, tem sido um lembrete de que eventos extraordinários às vezes acontecem. Embora seja um aviso que 2020 talvez nem precise.>
Fonte: El País