Por Rebeca Fonseca
Óleo Sobre Tela apresenta aproximação entre as artes em 19 filmes
Até o dia 16 de julho, o Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp) apresenta a mostra Óleo Sobre Tela. A curadoria traz 19 filmes cuja narrativa ou fotografia promovem a intersecção entre a pintura e a sétima arte. “Essa relação nos interessa pois transfigura os temas e as técnicas da nova arte, exibida em outra tela”, destaca o texto de apresentação, divulgado pelo Cinusp.
No dia 5 de julho, às 19 horas, acontece uma sessão especial do documentário Acaba de Chegar ao Brasil o Bello Poeta Francez Blaise Cendrars (1972), de Carlos Augusto Calil. O filme celebra 50 anos da Semana de Arte Moderna e reconstitui a passagem do escritor Cendrars pelo Brasil em 1924.
A programação normal começa com a história da vida do poeta armênio Sayat Nova em A Cor da Romã (1969). As imagens são abstratas e o simbolismo da poesia transborda para a fotografia. Sergei Parajanov dirige o longa-metragem e cria uma narrativa visual atraente e que se aproxima de forma subjetiva da vida do poeta.
Outra produção russa selecionada foi Andrei Rublev (1966), que retrata um período da vida do pintor de catedrais que empresta seu nome ao título do filme. O pintor italiano Caravaggio também tem sua história recuperada no filme homônimo de 1986. A obra coloca o próprio artista como personagem principal da viagem ao seu passado para rememorar triunfos e fracassos de forma não cronológica.
Em O Mistério de Picasso (1956), de Henri-Georges Clouzot, os espectadores podem acompanhar o pintor espanhol em seu estúdio. Se no filme de Clouzot o processo criativo é de um artista real, em O Retrato de Jennie (1948), de William Dieterle, o público acompanha o fictício Eben Adams criando suas obras. Ao longo do filme, a pintura da narrativa se incorpora à forma do filme.
Treze quadros do norte-americano Edward Hopper constroem a vida de uma atriz em Shirley: Visões da Realidade (2013), de Gustav Deutsch. Já no filme de época Barry Lyndon (1975), de Stanley Kubrick, um homem irlandês busca ascender socialmente. O longa se aproxima da estética de pintura realista francesa do século 18.
Correntes artísticas da França também aparecem em As Duas Faces da Felicidade (1965), de Agnès Varda, e em Um Dia No Campo (1946), de Jean Renoir, que se inspiram na estética impressionista. O Gabinete do Dr. Caligari (1920), de Robert Wiene, se insere na corrente cinematográfica do expressionismo alemão e apresenta o drama que a visita a um parque de diversões causa na vida de um homem.
Dois narradores discutem o significado de diferentes obras de um artista em A Hipótese do Quadro Roubado (1978), de Raúl Ruiz. O filme é um passeio por dentro de obras fictícias e a tentativa de desvendar um mistério. O Moinho e a Cruz (2011), de Lech Majewski, também guia o público por uma pintura: A Procissão ao Calvário, do pintor renascentista flamengo Pieter Bruegel.
Já A Batalha dos Kerjnets (1971) mistura planos de fundo abstratos e figuras estáticas de afrescos para ilustrar um embate entre russos e tártaros nos séculos 14 e 16. The Dante Quartet (1987), de Stan Brakhage, e Com Amor, Van Gogh (2017), de Dorota Kobiela e Hugh Welchman, também serão exibidos em uma sessão dupla. Cada frame de ambos os filmes foi pintado. O primeiro é uma representação visual de A Divina Comédia, de Dante Alighieri, e o segundo, uma investigação sobre a morte de Van Gogh.
De Akira Kurosawa, Sonhos (1990) apresenta oito curtas-metragens. O diretor cria imagens hipnotizantes que evidenciam sua relação com a pintura e o desenho. Jean-Luc Godard funde cinema e pintura em Paixão (1982), que acompanha a preparação de um filme sobre antigos pintores.
Os espectadores podem assistir ainda ao nacional Filme de Amor (2003), de Júlio Bressane. O longa traz referências a obras de Balthus e Sandro Botticelli e se inspira no mito das Três Graças — Amor, Beleza e Prazer — para acompanhar um grupo de três amigos em um final de semana de experimentações sexuais.
A mostra Óleo Sobre Tela, do Cinema da USP Paulo Emílio (Cinusp), está em cartaz até 16 de julho, de segunda a sexta-feira, com sessões às 16 e às 19 horas, nas salas do Cinusp no Centro Cultural Camargo Guarnieri (Rua do Anfiteatro, 109, Cidade Universitária, em São Paulo) e no Centro Universitário Maria Antonia (Rua Maria Antonia, 258/294, Vila Buarque, região central de São Paulo, próximo às estações Santa Cecília e Higienópolis-Mackenzie do Metrô). Entrada grátis. Mais informações e a programação completa da mostra estão disponíveis no site do Cinusp.
Fonte: Jornal USP