Terça, 25 de novembro de 2025
Senado vê movimento como reposicionamento: firmeza calculada, portas abertas e sem risco de bloqueio à indicação
Por Cleber Lourenço
A troca pública entre Jorge Messias e Davi Alcolumbre, a carta aberta do indicado ao Supremo Tribunal Federal e a resposta seca do presidente do Senado, consolidou a leitura predominante no Congresso: Alcolumbre marcou posição, reajustou o preço da parceria com o governo federal, mas não pretende criar entraves para que o nome de Messias avance.
A carta de Messias adotou o tom da conciliação. Em um dos trechos, ele afirma ter sido “acolhido por Vossa Excelência para trabalhar no Senado Federal”, recordando que ali desenvolveu “uma relação saudável, franca e amigável” com Alcolumbre.
Em outro ponto, ele descreve o presidente do Senado como “autêntico líder do Congresso Nacional”, destacando sua capacidade de conduzir decisões de impacto nacional. O texto busca recompor terreno e reconhece o protagonismo de Alcolumbre na sabatina.
A resposta de Alcolumbre, no entanto, foi rigorosamente protocolar. O presidente do Senado “toma conhecimento, com respeito institucional, da manifestação pública do indicado ao Supremo Tribunal Federal”, evitando mencionar o nome de Messias.
Ele enfatiza que o Senado cumprirá sua prerrogativa constitucional de sabatinar e deliberar “no momento oportuno”, reforçando ainda que cada senador votará “livremente”. A nota sinaliza distanciamento, e não hostilidade.
Apesar do tom frio, a avaliação interna é clara e unânime: Alcolumbre não vai romper, não vai travar e não pretende transformar o episódio em crise. Membros da articulação política do Palácio do Planalto afirmam que ele busca apenas reafirmar autoridade após ver seu preferido, Rodrigo Pacheco, ser preterido na disputa pela vaga no Supremo.
Mas o movimento é controlado. Alcolumbre já avisou a interlocutores que não fará campanha pelo nome de Messias, mas também não criará obstáculos ao avanço da indicação.
As pautas que ele tem priorizado reforçam essa leitura. A PEC que proíbe a reeleição de chefes do Executivo só teria validade a partir de 2028, ou seja, não afeta o presidente Lula.
Já o projeto que cria aposentadoria especial para agentes de saúde tende a travar por falta de fonte de custeio, requisito indispensável para a criação de novas despesas. São iniciativas simbólicas, pensadas para marcar posição sem atingir o governo federal.
Tensão entre Alcolumbre e líder do governo

O entrevero recente de Alcolumbre com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner, segue o mesmo padrão: tensão lateral, sem escalada rumo ao Planalto. O próprio Wagner reconheceu que não há tempo hábil para votar Messias ainda em 2025, indicando que a análise deve ficar para o início de 2026, um atraso que não traz prejuízos ao governo.
Nos bastidores, a avaliação de um interlocutor próximo ao Centrão resume o cálculo político de Alcolumbre: ele ocupa espaço relevante na máquina federal, “tem ministros, 2º e 3º escalões, tem até porteiro nomeado”, e responde a um inquérito sensível sob relatoria de Flávio Dino no Supremo.
Segundo essa leitura, “ele não tem esse poder todo para brigar com o presidente da República. Lula tem expectativa de mais quatro anos… O máximo que pode fazer é brigar com seus colegas do senado”. Ou seja, marca posição, mas preserva as pontes.
A irritação, portanto, é mais performática do que concreta. A percepção unânime no Senado é de que Alcolumbre está recalibrando sua postura, explorando novas oportunidades e renegociando sua relação com o governo, mas não pretende dificultar a sabatina. A indicação será tratada no ritmo que ele definir — e, quando for à votação, não deve enfrentar resistência organizada.
A troca de notas evidencia isso: Alcolumbre quer ser reconhecido, ouvido e valorizado, mas não tem interesse — e nem margem — para transformar o processo de indicação de Jorge Messias em conflito institucional.
Fonte: ICL Noticias /