Além do grito: o significado da Independência em um Brasil em construção

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Por Portal Ipirá City – Domingo, 7 de setembro de 2025

O dia 7 de setembro de 1822 é mais do que uma data no calendário cívico. É um símbolo fundador, um marco que deveria representar o nascimento de uma nação soberana. O grito às margens do Ipiranga, imortalizado na pintura de Pedro Américo, encapsula o momento dramático em que o Brasil rompeu os laços coloniais com Portugal. No entanto, a história real por trás do quadro é tão complexa quanto o próprio país que dela surgiu.

A Independência do Brasil não foi uma ruptura radical e sangrenta como em outras colônias americanas, mas uma transição negociada, conduzida pela elite branca e escravocrata, que temia tanto a volta do status colonial quanto uma revolução popular que ameaçasse suas propriedades e privilégios. D. Pedro I não agiu apenas por um arroubo de bravura; ele foi a peça central de um cálculo político que buscou preservar a unidade territorial e, paradoxalmente, a estrutura social baseada na escravidão. O resultado foi um país independente na forma, mas que carregava no seu DNA as mesmas desigualdades e exclusões do período colonial.

Este é o grande paradoxo que o 7 de setembro nos convida a refletir: celebrarmos uma independência que libertou o Estado, mas não o povo. A abolição da escravatura ainda estava 66 anos no futuro, e a proclamação da República, 67. A grande maioria da população permaneceu à margem do projeto de nação, sujeita a um sistema que perpetuava a hierarquia e a negação de direitos.

Por que, então, a data merece ser lembrada e refletida? Precisamente por esse paradoxo. O 7 de setembro não é a celebração de um ponto final, mas de um começo imperfeito e cheio de contradições. É o marco zero de um projeto de Brasil que está em permanente construção. O grito de “Independência ou Morte!” ecoa através dos séculos não como uma afirmação concluída, mas como um verbo contínuo, um desafio que se renova a cada geração.

O verdadeiro significado da data, portanto, transcende o fato histórico. Ele nos questiona: que independência estamos construindo hoje? A independência política conquistada em 1822 precisa ser complementada, diariamente, com conquistas sociais e econômicas. A soberania de uma nação se mede não apenas pela sua capacidade de autodeterminação no cenário internacional, mas pela dignidade e pela liberdade concretas de seu povo.

Ser independente no século XXI significa lutar por um país com menos desigualdades, onde a educação de qualidade seja um direito universal e um passaporte para a verdadeira autonomia do cidadão. Significa construir uma economia inovadora e soberana, que gere oportunidades para todos. Significa erradicar as heranças perversas do nosso passado colonial, como o racismo estrutural e a concentração de terra e renda. Significa, acima de tudo, entender que a pátria é feita de pessoas, e que sua grandeza só será real quando for compartilhada por todas elas.

Neste 7 de setembro, que possamos olhar para o passado não com um saudosismo cego, mas com a lucidez de quem aprende com as complexidades da história. E que possamos olhar para o futuro com a determinação de completar a obra inacabada da nossa independência. Que nosso patriotismo não se restrinja a hastear bandeiras, mas se manifeste no compromisso inflexível com um Brasil mais justo, democrático e verdadeiramente livre para todos os seus filhos. Essa é a independência que ainda vale a pena proclamar.

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