Desde que a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) divulgou, na tarde de segunda-feira (29), o resultado da seleção do vestibular do segundo semestre deste ano, alunos receberam suas colocações com estranhamento. As dúvidas só aumentaram no dia seguinte, quando os vestibulandos inundaram redes sociais, especialmente o Twitter, com denúncias e prints. Eles afirmam que pessoas que tiveram notas menores ficaram mais bem ranqueadas no resultado, enquanto aqueles que acertaram mais questões da prova ocupam colocações inferiores.
Para aumentar o descontentamento dos vestibulandos, muitos deles falaram para a reportagem que entraram em contato com a universidade e o Instituto Avalia, que organizou e avaliou a prova, mas ambos não deram informações precisas.
Segundo eles, o instituto chegou a enviar e-mails informando que não havia erro, o que aumentou a ansiedade de estudantes como Ana Cecília Vieira, 17 anos. Moradora de Juazeiro, ela conta que se dedicou aos estudos para realizar o vestibular da Uneb pela primeira vez.
O susto de Ana veio quando comparou sua colocação, na posição 2.266º, com a de uma colega que ficou em 22º lugar. A desconfiança de que algo estava errado é porque sua amiga, e concorrente na prova, teve notas menores do que Ana na redação e em todas as disciplinas, com exceção de Língua Portuguesa. Enquanto a estudante de 17 anos tirou 9 na redação, a colega pontuou 7,5. Mesmo com notas inferiores, a amiga ficou com escore de 25.071, e Ana com 11.320.
“Eu fiquei muito assustada com a minha colocação. Depois comecei a ver reclamações de meus amigos e outras pessoas nas redes sociais. Foi aí que percebi que houve um erro no sistema da Uneb e do Instituto Avalia”, afirma Ana Cecília. Ela e a colega prestaram vestibular para Medicina em Salvador, como ampla concorrência. No total, 16 vagas foram disponibilizadas para o curso.
O CORREIO buscou posicionamentos da Uneb e do instituto responsável pela avaliação da prova durante toda a tarde de terça-feira (30), mas não obteve retorno. A partir das 16 horas, vestibulandos relataram que não conseguiam mais entrar no link do Instituto Avalia em que as notas e as colocações do vestibular apareciam. Alguns relataram à reportagem que o Instituto Avalia informou a um deles que “medidas cabíveis” serão tomadas até amanhã (31).
Como Ana Cecília, vários outros alunos que tentaram vaga no vestibular ficaram decepcionados com o resultado da prova e com os problemas em relação a notas e classificações. Amanda Bastos, 24, tentou pela segunda vez passar em Medicina na Uneb. Apesar de ter acertado 69 das 85 questões da prova e ter tirado 9,5 na redação, ficou no 4.953º lugar na colocação da ampla concorrência.
“Realmente é muito frustrante, eu já estudo há muito tempo e consegui acertar mais de 80% da prova. Estava esperançosa que, se não passasse, pelo menos teria uma colocação boa para saber que estava chegando perto do meu objetivo”, afirma Amanda.
“QUANDO OLHEI O RESULTADO TIVE CRISE DE ANSIEDADE, CHOREI E NÃO CONSEGUI DORMIR DIREITO”, COMPLETA.
As reclamações não são restritas a quem faz parte da ampla concorrência. Alice Maria Braga, 20, concorre na modalidade de candidatos pretos e pardos que estudaram em escola pública e também percebeu o erro. “Fiquei muito triste ao ver os prints e com um sentimento forte de revolta. Não sei se seria aprovada, mas quero que a justiça seja feita e o processo seja mais transparente”, diz a vestibulanda de Feira de Santana que tenta uma vaga em Medicina na capital.
Um print que circula nas redes sociais indicaria que o vestibulando que ficou em 4º lugar na mesma modalidade de Alice teria tido escore de 28.4375 mesmo tendo tirado 4,25 na redação, que vale 10. Alunos que tentaram outros cursos, como Direito, também denunciam divergências entre acertos e pontuações no resultado. A universidade disponibilizou 860 vagas.
Estudantes que prestaram o vestibular da Uneb criticam ainda o fato de que a universidade não foi responsável pela organização e avaliação das provas. “Uma semana antes do vestibular descobrimos que a banca responsável não seria a própria Uneb, embora estivesse no edital tal informação. Ficamos completamente perdidos e em busca de outras provas realizadas pela banca”, conta Rafaela Silva, de 21 anos. O Instituto Avalia tem sede em Maringá, no Paraná.
Fonte: Correio da Bahia