Amora

Dhonatas Silva

Por Dhonatas Silva (Colunista Portal Ipirá City)

O ano era 1992, Sophia havia completado seus 18 anos de idade recentemente. Era
uma menina linda, extremamente feliz com a vida que levava e com a família, além
de ser cheia de sonhos. Ela e suas melhores amigas Kiara e Isla, que tinham a
mesma idade que ela, sempre foram como carne e unha. Ela era ruiva, tinha cabelos
longos e cacheados, amava usar um chapéu vermelho bordado com um lindo
lacinho branco, feito por sua avó, dona Matilda, que a havia presenteado com ele no
seu aniversário de 15 anos. Dona Matilda, mãe de Alexander, era uma senhora
baixinha de cabelos brancos, além de avó superprotetora, também era confidente
fiel de Sophia, uma confiança que nem mesmo as melhores amigas possuíam.
Alexander e Olívia, pais de Sophia, formavam um belo casal, o pai era barbudo e um
pouco acima do peso, a mãe era ruiva e esbelta, tinha 33 anos, dois a menos que
marido. Sempre fizeram de tudo para dar a melhor vida e educação para a única
filha. A casa da família, localizada em uma pequena fazenda, ficava a uns 15 km de
Rovaniemi, capital da Lapônia, província que fica ao norte da Finlândia.


Sophia desde muito nova já ajudava a família no plantio e colheita de frutas
silvestres, que além de trazerem o sustento financeiro para a casa, também eram
ingredientes das refeições diárias. Morango, mirtilo, framboesa, lingonberry, e claro,
amora, a fruta favorita de Sophia. O Clubinho das Ruivas era o local onde Sophia,
Kiara e Isla se reuniam todos os domingos, ou sempre que precisavam, para
conversar sobre a vida, escrever poesias e desabafar seus problemas. Era uma
casa na árvore que havia sido construída pelo querido e falecido avô de Sophia, o
Sr. Bernard, que Deus o tenha. Ele a construiu em um carvalho no fundo da casa,
uma árvore que representava muito pra família, pois sempre foi um ambiente para
fotos e almoços desde as gerações passadas.


Era um sábado, 6 horas da manhã, Sophia acordou com o barulho do despertador,
então iniciou sua rotina dos dias de feira, mas aquele sábado seria diferente, pois
seria o último antes do tão esperado natal, naquela que pra quem não sabe, é a
cidade do querido Papai Noel. Ela tomou seu café da manhã preferido, uma xícara
de leite e geleia de amora com leipajuusto (queijo), em seguida escovou os dentes,
penteou os cabelos, colocou um vestido vermelho, calçou uma bota preta, e claro,
colocou seu querido chapéu. Ajudou os pais a organizar todas as frutas na carroça,
para seguirem viagem até Rovaniemi. Seguiram.


Naquela região faz frio o ano todo, parece até que só tem inverno, a impressão que
dá é que por lá é natal o ano todo, por se tratar de uma cidade turística, mas são nas
últimas semanas do ano que o local passa a ser ainda mais procurado pelos turistas.
Após chegarem ao destino, organizaram tudo e iniciaram as vendas das deliciosas
frutas. Sophia comprou um jornal para se atualizar sobre as novidades que
reservavam aquele natal, tinham muitas boas novas. A manchete mostrava que a
expectativa do número de turistas que visitariam Rovaniemi naquele final de ano era
gigantesca, algo nunca visto antes. Isso porque renomados chefes de cozinha
franceses, deixaram bem claro em entrevistas às rádios e jornais da França que
fariam uma visita na terra do velho barbudo, em busca de novas receitas para
embelezar e levar novos sabores para o próximo Bocuse d’Or, que é a maior
competição de gastronomia do mundo, e que sempre acontece durante dois dias
próximo ao final de janeiro em Lyon. Sophia ficou muito feliz, pois um dos grandes
sonhos dela era disputar essa grande competição e ser dona de um grande
restaurante em Helsinque, capital da Finlândia, para dar melhores condições de vida
à família e para conseguir realizar seus sonhos.


Venderam todas as frutas, e voltaram pra casa felizes da vida, Sophia estava
ansiosa para contar a dona Matilda sobre as novidades que lera no jornal. Foi o
caminho todo deitada no fundo da carroça, olhando pro céu, admirando a aurora
boreal e já na expectativa de passar a noite de natal em Santa Claus Village, que é
um parque de diversões em Rovaniemi, ela estava totalmente convencida de que iria
realizar aquele que era mais um dos seus sonhos, afinal, ela havia sido uma boa
menina durante todo o ano. Em sua carta para o Papai Noel seu pedido foi que
pudesse passar a noite de natal no belíssimo parque, e como ela junto com os pais
conseguiram vender todas as frutas na feira, ela estava crente de que nada poderia
estragar seu sonho, nem seu natal. Chegaram em casa.


─ Vó, a senhora não vai acreditar! Vários turistas franceses virão passar o natal
aqui, acho que é minha grande chance de tentar mostrar pra algum deles meus
talentos culinários. (RISOS)
─ Oh minha netinha querida, torcerei para que der certo, caso seja este o seu
destino. ─ Beijou a testa de Sophia.
Sophia correu para conversar com os pais a respeito do Santa Claus Village, mas
percebeu que eles discutiam, então parou atrás da porta do quarto e ficou ouvindo
pra saber do que se tratava a discussão.
─ Mas Alexander, é o sonho da nossa filha, desde pequena ela sempre viu as
amigas irem para o parque, em todas as noites de natal, ela nunca pôde ir por conta
das nossas condições, pense melhor meu amor.
Alexander estava exaltado, pois sempre teve o sonho de ter um carro, e aquele
momento era o mais propício para a sua realização, pois o vizinho, fazendeiro, viúvo
e melhor amigo dele, Bryan, estava vendendo sua Pickup 1939 por um ótimo preço.
Ele tinha a mesma idade de Alexander, mas possuía um físico atlético.
─ Olívia, você tem que entender que além de ser meu sonho de criança, esse carro
nos trará mais conforto e nos ajudará no transporte das frutas para a feira. Um dia a
nossa filha vai crescer e entender que essa baboseira de Papai Noel não passa de
uma grande mentira, ela terá que estudar e trabalhar bastante se um dia realmente
quiser passar uma noite de natal naquele lugar.
Sophia ouviu tudo e ficou paralisada atrás da porta, seus olhos transbordaram em
lágrimas de tristeza e raiva, foram as piores coisas que ela já havia escutado na
vida, e ainda pior por terem vindo das pessoas que ela mais amava e que sempre a
ensinaram a não desistir de seus sonhos, e nunca duvidar da existência do velho
barbudo. Seus pais terminaram a discussão e saíram em direção à porta para irem
jantar, ao abrirem, se depararam com a filha aos prantos. Olívia tratou de perguntar
a Sophia o que ela estava fazendo ali, e se havia escutado algo do que ela e o
marido estavam conversando.
─ Quer saber o que eu ouvi? Ouvi tudo, tudinho. Quer saber o que vim fazer aqui?
Vim dizer o quanto odeio vocês com todas as minhas forças!
Sophia correu em direção à casa da árvore e trancou a porta, Olívia ainda perguntou
se ela não iria comer, mas àquela altura, diante de tudo que ouviu, ela já não tinha
mais fome, e por lá adormeceu.
No dia seguinte Kiara e Isla já estavam lá bem cedo, afinal, era dia do Clubinho das
Ruivas. O mordomo da casa de Kiara as levou de charrete. As meninas bateram na
porta da casa de Sophia, quem atendeu foi dona Matilda, que era a única que estava
em casa. Alexander havia ido para as plantações e Olívia saiu sem dizer pra onde
iria. Dona Matilda apenas falou para as meninas que a neta estava na casa da
árvore e que precisava muito delas. As meninas se olharam sem entender ao certo o
que a avó da amiga quis dizer e partiram às pressas para a casinha. Bateram na
porta, mas Sophia não abriu logo de imediato, primeiro tratou de perguntar quem
batera na porta, pra se certificar de que não eram seus pais.
─ Somos nós, Kiara e Isla, viemos para o nosso querido encontro de todos os
domingos, trouxemos trufas de amora, suas favoritas, podemos entrar?
Sophia então abriu a porta, suas amigas não acreditaram no que estavam vendo, ela
estava irreconhecível, seus olhos estavam tão vermelhos quanto amoras, ela havia
cortado o cabelo na altura do pescoço. Em coro as amigas perguntaram sobre o que
havia acontecido.
─ O que houve Sophia? Porque você estar assim? Porque cortou o cabelo?
─ Cortei o cabelo porque era o que meus pais mais elogiavam em mim, viviam
falando do quanto ele era bonito, e estou chorando porque descobri que não irei
realizar meu sonho de ir ao Santa Claus Village e que o Papai Noel não passa de
uma farsa. Saiam daqui, quero ficar sozinha!
As meninas ficaram assustadas e sem acreditar no que a amiga acabara de contar.
Kiara e Isla eram filhas de banqueiros de Rovaniemi, e naquele dia haviam ido com
uma baita surpresa para Sophia, levaram um ingresso para que ela pudesse passar
a noite de natal com elas e seus pais no parque dos sonhos em um belíssimo hotel,
mas saíram de lá desoladas com o que ouviram, pediram para que o mordomo as
levasse embora daquele lugar o quanto antes. Agora Sophia estava arrasada, seu
natal já havia sido destruído, não iria mais realizar o sonho e ainda por cima não
sabia se ainda tinha amigas.
Dona Matilda foi até a casinha e convenceu a neta a voltar pra casa e se alimentar.
Ela ficou triste ao ver que a neta havia cortado o cabelo, afinal, ela também era fã de
carteirinha daqueles belos cachos, mas o cabelo dela continuou lindo. Contou pra
Sophia que apesar de seus 85 anos, acreditava com todas as forças na existência
do Papai Noel, e que o filho havia dito tudo aquilo na noite passada porque quando
tinha a idade dela, o Sr. Bernard disse tudo aquilo na cara de Alexander para que
ele se empenhasse mais em trabalhar e não achasse que as coisas chegariam pra
ele simplesmente por escrever uma carta. Sophia sentiu-se mais aliviada e ao
mesmo tempo arrependida por tudo que havia dito aos pais, as amigas, e também
por ter cortado o cabelo.
Alexander terminou os afazeres da plantação, pegou a carroça e saiu em direção à
casa de Bryan, cheio de alegria, pois finalmente iria realizar o sonho de criança. No
caminho se deparou com Olívia, que parecia assustada.
─ Amor, o que faz aqui? Achei que tivesse ido pra missa.
─ E fui, mas depois que saí de lá, resolvi ir até a casa de Bryan convida-lo para ir
jantar conosco na noite de natal, como fazemos todos os anos. ─ Respondeu
assustada.
─ Há, entendi, queira me acompanhar, por favor, é um momento muito importante
pra mim, gostaria que minha digníssima esposa estivesse comigo para presenciar o
momento da compra. ─ Disse todo animado.
─ Sinto-me honrada pelo convite meu amor, mas tenho muitas coisas pra fazer em
casa, te espero pra o almoço. ─ Jogou um beijo.
Alexander notou o nervosismo da esposa, mas como confiava totalmente nela, nem
passou por sua cabeça que ela pudesse ter feito algo de errado. Ele chegou à casa
de Bryan, que por sinal estava todo suado, lhe pediu para que se sentasse e
aguardasse um pouco, pois iria se banhar, mas não iria demorar. A desconfiança
começou a tomar conta de Alexander. Ele nunca havia sequer desconfiado da
esposa, mas tudo aquilo começou a mexer com a cabeça dele, então começou a
andar pela casa. Na cozinha estava tudo arrumado, na sala também, a casa tinha 3
quartos. Alexander entrou no primeiro quarto e não viu nada de anormal, tudo bem
arrumado, o mesmo ele presenciou no segundo quarto, mas quando chegou ao
terceiro, àquele que era do vaqueiro que ajudava o Bryan nos afazeres da fazenda,
a porta estava trancada, como ficava ao lado da dispensa, Alexander resolveu subir
em uma prateleira onde ficavam algumas panelas, olhou por cima da parede e viu a
cama toda bagunçada. Uma parte da prateleira quebrou, ele caiu e torceu o pé.
Bryan que já havia terminado o banho, saiu às pressas do banheiro depois de ouvir
o barulho.
─ Alexander, o que houve? Você se machucou? Mas o que vieste fazer aqui na
dispensa? ─ Perguntou com os braços cruzados e com uma das sobrancelhas
erguida.
─ Me desculpe Bryan, mas eu estava sentado no sofá, então vi um rato passando
em direção a dispensa, não consegui pegá-lo. Machuquei meu tornozelo, não
consigo ficar de pé sozinho.
Bryan achou a explicação de Alexander um pouco estranha, mas acreditou no
amigo, apoio-o com um dos ombros e o levou até o carro. Conduziu-o até em casa,
pois o hospital mais próximo ficava em Rovaniemi, e o caso dele poderia ser tratado
com imobilização e gelo. Bryan parou o carro em frente à casa de Alexander e
chamou os familiares para que pudessem ajudar e para contar sobre o incidente.
Quando ia saindo do carro, Alexander notou algo brilhante no tapete do veículo, era
a aliança de sua esposa.
─ Mas o que significa isso? Respondam-me! Você está me traindo Olívia? Está me
traindo com o Bryan? É isso mesmo?
Dona Matilda ficou boquiaberta e sem acreditar no que estava acontecendo, Sophia
correu em direção ao quarto e começou a chorar. Olívia até tentou se explicar, mas
começou a gaguejar e não saiu nada. Então Bryan tentou acalmar a todos e explicou
o que realmente aconteceu.
─ Calma Alexander, não é nada do que você está pensando, a Olívia apenas me
pediu pra dar uma olhada no veículo, pois estava ansiosa pra ver o tão sonhado
carro que seu amado estava louco pra comprar e realizar seu grande sonho.
Alexander rebateu!
─ E perdeu a aliança e nem sentiu falta? E quanto à cama bagunçada no quarto do
vaqueiro?
Bryan retrucou!
─ Provavelmente ela ainda não tinha se dado conta de que a havia perdido, mas
você foi pra dispensa em busca de um rato ou de outra coisa? Como você mesmo
disse, o quarto é do vaqueiro, lá ele pode fazer o que bem entender, e se eu que sou
o patrão não questionei, quem é você pra falar alguma coisa?
Olívia ficou assustada com o que estava acontecendo, nunca havia visto o marido
tão transtornado, e ainda nem havia começado a fazer o almoço, pois estava
procurando a aliança, mas nem isso ela conseguiu falar. Bryan acompanhou o
amigo até o quarto, colocou-o na cama e tratou de por gelo e imobilizar o local
machucado. Despediu-se de todos e disponibilizou-se a ajudar no que fosse
necessário. Assim que Bryan saiu do quarto, Alexander começou a interrogar Olívia
em busca de respostas que o convencesse de que ela realmente não teria feito nada
do que ele estava pensando.
─ Então Olívia, pode falar agora o que realmente foi fazer na casa do viúvo, estava
muito assustada quando a vi retornando da casa dele, e ele estava todo suado
quando cheguei lá, muito estranho tudo isso, não acha?
─ Está com paranoias meu bem? Você nunca teve sequer ciúmes de mim e agora
vem com uma conversa dessa, dei-me licença que irei me banhar.
Nada convencia Alexander de que ele estava enganado, e seu olhar cheio de ódio
deixava bem claro que ele não iria descansar enquanto não descobrisse a verdade.
Olívia pegou a água que havia esquentado no fogão e levou-a pra o banheiro,
despejou-a na banheira, tirou a roupa e começou a se banhar. Fechou os olhos e
logo começaram a vir as recentes lembranças de minutos atrás, ela e Bryan fizeram
um sexo selvagem no quarto do vaqueiro. Ela foi até a casa do viúvo na intenção de
convencê-lo a fazer um preço menor no carro, para que assim sobrasse dinheiro
para Sophia ir ao tão sonhado parque. Bryan concordou em diminuir o preço do
veículo, contanto que Olívia fosse pra cama com ele. Bryan e Olívia se pegaram
algumas vezes quando eram adolescentes, não chegaram a namorar porque ela já
estava prometida para Alexander, um casamento arranjado pelos pais de ambos.
Bryan se casou com a melhor amiga dela, que foi a óbito pouco tempo depois, após
uma queda de cavalo. Detalhe, ela estava grávida de 3 meses.
Olívia pediu pra entrar no carro, queria dar uma olhada no veículo, ele abriu a porta
e pediu pra que ela entrasse, assim que ela entrou ele começou a acaricia-la, tentou
um beijo forçado, mas ela não cedeu. Ele persistiu. Tentou agarra-la a força. Foi
nesse puxa encolhe que a aliança acabou caindo no carro. Olívia ameaçou ir
embora, mas Bryan conseguiu convence-la a ficar e entrar pra dentro da casa.
─ Olívia, é simples, você me dar o que eu quero e todo mundo fica feliz. Eu em
transar com você, você por conseguir o que veio a procura, seu marido que vai ter o
carro que sempre quis e sua filha que vai para o parque, e então o que me diz? ─
Disse esfregando as mãos.
─ Você é um cafajeste mesmo, né? Lembro-me que quando se casou com a Amélia,
você tinha outras três namoradas, tenho certeza de que quando nos pegávamos, eu
não era a única, não respeita nem o melhor amigo, seu…
Antes que ela pudesse concluir a fala, Bryan a beijou e a levou em direção ao quarto
do vaqueiro. O mesmo havia acabado de entrar em casa para beber água, ouviu um
barulho estranho vindo do quarto. Ele avistou de longe a chegada de Olívia, então
associou que era ela a mulher que estava com o patrão em seu quarto. Enquanto
isso Bryan tirava toda a roupa de Olívia, passava a língua em cada pedacinho do
corpo da mulher do melhor amigo. Olívia estava completamente dominada, nem
tinha mais forças pra dizer não, apertava o maldito com todas as forças e pedia pra
que não parasse de maneira alguma, estavam suados. Ela que só havia feito aquilo
com ele, além do marido, ficou encantada com a pegada firma e com o jeito que
Bryan utilizava o membro, fazia exatamente do jeitinho que ela queria que fizesse.
Acelerava, pausava, trocava de posição, pegava leve, ia com força, tapas,
mordidas…
─ Mãe, que demora é essa? Tá tudo bem aí? ─ Sophia bateu na porta e interrompeu
os pensamentos e o autoerotismo da mãe.
─ Oi Sophia, está tudo bem filha, já estou saindo.
Olívia tomou um banho rápido e saiu para conversar com a filha. Sentaram-se à
mesa para almoçar, Sophia desculpou-se com a mãe pelas coisas que havia dito na
noite anterior. Olívia desculpou-a e não escondeu a tristeza de ver a filha com o
cabelo cortado. Enquanto isso dona Matilda foi levar o almoço para Alexander no
quarto, e aproveitou para conversar com o filho.
─ Diga-me meu filho, você acha mesmo que a Olívia seria capaz de trai-lo? Sobre
aquele seu segredo, tenho certeza que ela nunca suspeitou de nada, afinal, apenas
nós dois sabemos, a terceira pessoa já não está mais entre nós.
─ Nem sei mais o que pensar minha mãe, acho que realmente confundi as coisas, a
Olívia sempre foi uma excelente mãe e uma esposa maravilhosa, não vou mais
importuná-la com esse assunto. E sobre o segredo, vamos enterrar de vez, se a
Olívia sonhar que isso um dia aconteceu, será o fim da nossa família.
No final da tarde todos sentaram na sala, em frente à lareira e ficaram jogando
conversa fora e comendo laskiaispulla (uma espécie de rosca recheada com pasta
de amêndoas ou geléia de morango e amarrações de creme chantilly). Em seguida
foram dormir. No dia seguinte Não teria aula, afinal, já era a semana do natal,
Sophia já estava ansiosa para ir em Rovaniemi durante a semana para tentar
encontrar com algum turista para poder realizar o sonho de ir disputar o Bocuse
d’Or, ela que por sinal falava muito bem o idioma francês.
O dia amanheceu, Sophia acordou assustada, mas dessa vez não foi com o barulho
do despertador, eram os pais de Kiara e Isla que estavam revoltados batendo na
porta. Alexander os atendeu e os convidou para entrar. Thomas, pai de Kiara e
Henry pai de Isla, se sentaram e começaram a falar os motivos que os levaram a ir
até lá.
─ Minha filha Kiara chegou ontem em casa transtornada, chamando eu e minha
esposa de mentirosos. ─ Disse Thomas, enfurecido.
─ Com Isla não foi diferente, e ainda por cima rasgou o ingresso do Santa Claus
Village na nossa cara, minha esposa não quer mais ver nossa filha andando com
ela. ─ Bradou Henry.
─ Calma rapazes, tudo não passou de um mal entendido, minha filha ficou atrás da
porta ouvindo a minha conversa com Olívia, e acabou entendendo tudo errado,
fiquem tranquilos.
Alexander conseguiu convencer os pais das meninas sobre o assunto e a permitirem
que as elas pudessem continuar a amizade com Sophia. Ela que ouviu tudo do seu
quarto, ficou feliz por saber que poderia continuar a amizade com as meninas. Ao
saírem, Thomas e Henry revelaram que as meninas estavam no carro, e que não
quiseram descer porque ainda estavam chateadas com Sophia, mas após os
esclarecimentos de Alexander, eles as convenceram a descerem do carro e irem até
o quarto da amiga, permitiram inclusive que passassem o dia por lá, e informaram
que iriam busca-las no final da tarde. Despediram-se, e as meninas correram para
ver Sophia. Tomaram café da manhã juntas. Leite com korvapuusti (pão doce). Em
seguida foram para o Clubinho das Ruivas, e gritaram em coro, ─ Domingou na
segunda (RISOS). Trataram de fazer o que normalmente teriam feito um dia antes,
mas não deixou de ser legal como sempre. Chegou o horário do almoço, e então
dona Matilda tocou o sino no fundo da casa para sinalizar que o almoço estava
pronto.
Blém-blém
─ Venham minhas queridas, hoje pra o almoço teremos poronkäristys (rena
salteada).
As meninas correram e pularam de felicidade, lavaram as mãos e se sentaram para
almoçar, dona Matilda já tinha levado o almoço do filho no quarto, Olívia estava
estendendo roupas no varal quando o vaqueiro de Bryan se aproximou. Ele era
forte, alto, 40 anos, vindo da República Democrática do Congo, conheceu o Bryan
em uma de suas viagens. O patrão lhe ofereceu o emprego e o convidou para vir
morar com ele, isso foi logo após a morte de Amélia. Bomani não hesitou e aceitou a
proposta, viu que seria uma grande chance de melhorar de vida.
─ Boa tarde Sra. Olívia, tudo bem? Vim trazer o cavalo e a carroça para o boi, ops,
quer dizer, para o Sr. Alexander a pedido do meu patrão garanhão.
─ O que quis dizer com boi? Não entendi a piada. ─ Mentira, ela entendeu sim.
─ Quer que eu desenhe? Seu marido sabe que a senhora esteve ontem na casa do
meu patrão?
─ Claro que sabe, fui até lá convidar o Bryan para um jantar aqui em casa na noite
de natal, e aproveitei para dar uma olhada no carro que meu marido pretende
comprar.
─ Nossa, e o carro estava no meu quarto, não foi? Entrei para beber água e escutei
um barulho estranho, mas enfim, não vai me convidar também para esse jantar?
Sabe que agora ele depende de mim para acontecer, não sabe? ─ Falou em tom de
deboche.
─ Fale baixo, por favor, pode vim sim para o jantar, mas pelo amor de Deus, não
conte para ninguém sobre o que aconteceu ontem, meu marido, minha filha e minha
sogra jamais me perdoariam, isso acabaria com minha família, minha reputação,
com a minha vida, eu te imploro. Quanto você quer para fingir que não sabe de
nada?
─ Quero a senhora novamente no meu quarto e na minha cama, mas dessa vez,
comigo, topa? É pegar ou largar. Se disser que não, faço questão de explanar o
ocorrido na grande noite de natal. (RISOS)
─ Tudo bem, eu aceito! ─ Falou cabisbaixa, com voz trêmula.
─ Olha só, quão decidida ela é. Podemos hoje então. Faltam apenas 3 dias para a
grande noite, hoje meu patrão irá para Helsinque negociar algumas cabeças de
gado e só retornará no dia 24, então o que me diz?
─ Combinado então, estarei lá às 17 horas.
─ Perfeito, meu patrão sairá às 16 horas, nada poderá dar errado. Até mais ver. ─
Jogou beijo.
O desespero tomou conta de Olívia, que até se sentou. Dona Matilda percebeu a
palidez da nora e aproximou-se.
─ O que houve minha querida, ainda é sobre aquela situação de ontem? Fique
tranquila, meu filho já se convenceu de que você jamais faria uma coisa dessas com
ele, nós te amamos.
Aquelas palavras mais pareciam facas sendo cravadas no coração de Olívia, que
aos prantos pôs a cabeça no colo da sogra e chorou. Ficaram ali por alguns minutos,
depois entraram para almoçar. As meninas estavam no quarto de Sophia, já
planejando a grande noite de natal, Kiara e Isla não conseguiam conter a felicidade
em ajudar a realizar o sonho da melhor amiga. As horas passaram, faltavam alguns
minutos para o horário que Olívia havia marcado com o vaqueiro, ela estava ansiosa
e morrendo de medo, mas não via outra alternativa para que seu grande segredo
não fosse revelado, senão ir ao tal encontro.
Os pais das meninas chegaram para busca-las. As levaram. Alexander estava no
quarto com Sophia ouvindo o rádio, dona Matilda, sentada na varanda fazendo
crochê, e Olívia, bem, essa saiu dizendo que iria tomar um ar, colher uma folhas
para chá, mas não iria demorar. Olívia foi andando até a casa de Bryan, a cada
passo que dava o nervosismo aumentava. Bomani já estava todo perfumado,
sentado na sala, ele passava uma mão na outra, mordia os lábios e já fantasiava o
que iria fazer com Olívia. Bryan que já estava no meio do caminho, lembrou que
havia esquecido o relógio de bolso que iria levar para consertar em Helsinque.
Voltou para casa às pressas. Olívia caminhava em passos lentos, imaginando
chegar e orando por um milagre que pudesse salvá-la daquela situação. E o milagre
chegou.
─ Olívia? O que faz aqui? Está indo pra minha casa?
─ Oi Bryan, seu vaqueiro sabe do que aconteceu entre nós, se autoconvidou para o
jantar na noite de natal e ameaçou contar tudo quando estivéssemos todos reunidos,
caso eu recusasse ir pra cama com ele. ─ Disse apavorada.
─ E você aceitou a proposta dele?
─ Não vi outra alternativa. ─ Começou a chorar.
─ Mas porque você não me procurou pra me contar sobre isso antes? ─ Perguntou
inconformado.
─ Nem raciocinei direito, só queria que esse pesadelo acabasse logo.
Bryan ofereceu-se para levar Olívia até em casa, ela recusou e perguntou o que ele
iria fazer. Ele apenas disse para que ela ficasse tranquila, pois ele iria resolver tudo
assim que chegasse em casa. Despediram-se.
Bryan seguiu para casa, além do relógio de bolso, agora tinha mais um motivo para
ir até lá. Assim que chegou se deparou com o vaqueiro todo arrumado e perfumado.
─ Olha só, vai ter alguma festa aqui pelas redondezas e eu nem estou sabendo, é
Bomani? ─ Foi bem sarcástico ao perguntar.
─ Pa-pa-patrão? O que faz aqui? E-e-eu na verdade nem irei sair. Me deu vontade
de me arrumar, é que raramente tem algum evento, e minhas roupas podem não
caberem mais em mim sem eu sequer ter as usado. ─ Sorriu de nervoso.
─ Há entendi, e porque não deixou para usar na grande noite de natal, lá na casa de
Olívia? Ela me falou que o convidou, afinal, como você mora comigo, ela o vê como
parte da família também.
─ Há, é verdade, ela me convidou mesmo, eu até iria comentar com o senhor, mas
não sabia que iria retornar tão cedo. Ela comentou algo mais? ─ Perguntou
assutado.
─ Não, não, porquê? Tem algo mais que ela deixou de me falar?
Bomani desconversou e respirou aliviado, ele temia perder o emprego, e só o medo
que sentiu ao achar que o patrão sabia da proposta que ele havia feito para Olívia, já
foi suficiente para o assunto morrer pra ele. Bryan que conhecia um pouco do
funcionário, percebeu que ele havia ficado balançado, e sabia que dificilmente
voltaria a importunar a esposa do amigo. Ele pegou o relógio e seguiu a viagem.
Passaram-se os dias, e finalmente chegou a grande noite de Natal. Sophia iria
passar a noite mais especial do ano no lugar que sempre sonhou. E em sua casa
teria o tão esperado jantar.
(Bi-bi-bi)
─ Mãe, pai, vó, são os senhores Thomas e Henry, com suas esposas e as meninas.
Vieram me buscar. Beijo, amo vocês, feliz natal!
─ Divirta-se minha netinha, e não se preocupe que separei um pouco da ceia pra
você provar depois. Eu e sua mãe fizemos glöggi ( bebida quente), joulukinkku
(pernil de Natal) com batata, cenoura e rutabaga (couve-nabo), rosolli e salada de
cogumelos, salmão defumado frio e arenque em conserva com bastante endro. Para
sobremesa teremos piparkakku (biscoitinho) e riisipuuro (mingau de arroz).
─ Hum, que delícia, se eu não estivesse indo para onde estou indo, nem iria mais
(RISOS). Tchau mãe, tchau pai.
Alexander e Olívia se despediram da filha e já aguardavam pela chegada dos
convidados. Que não demoraram a chegar. Bateram na porta, e Olívia foi atendêlos.
─ Boa noite Bryan, boa noite Bomani, sejam bem vindos, podem entrar.
Eles entraram, cumprimentaram dona Matilda que estava na cozinha nos últimos
preparativos e sentaram à mesa, junto com Alexander.
─ Fala meu amigo, como você está hein? O pé melhorou?
─ Oi Bryan, sim, já está melhor, acredito que amanhã eu já consiga fazer algum
trabalho na roça. Olha só, que surpresa boa! Que milagre você por aqui Bomani,
bom te ver, seja muito bem vindo.
─ Obrigado senhor, e caso precise de alguma ajuda, se meu patrão me permitir,
posso vim lhe ajudar com algum serviço, enquanto recupera o machucado do seu
pé.
─ Muito gentil da sua parte Bomani, mas acredito que amanhã eu já consiga pegar
no pesado. (RISOS)
Dona Matilda começou a colocar os pratos sobre a mesa e pediu a ajuda de Olívia
para servir os rapazes. Começaram a jantar.
Enquanto isso, as meninas estavam se divertindo, tiraram várias fotos com o Papai
Noel, não tinham hora pra dormir, afinal, era noite de natal. Por volta das 3 da
madrugada, as meninas sentaram na escada da entrada do hotel para conversar.
─ Meninas, amanhã, ou melhor, hoje, mais tarde, esperarei vocês lá em casa para
experimentar da ceia que minha mãe e minha avó fizeram (…)
Durante o tempo em que Sophia comentava com Kiara e Isla sobre o que a mãe e a
avó haviam feito para a ceia de natal, um rapaz francês aproximou-se, se sentou e
ficou ouvindo a conversa. Ele era filho de um dos chefes de cozinha mais
conceituados da França. O pai estava conversando sobre negócios com os amigos,
então ele resolveu dar uma volta do lado de fora do hotel.
─ Boa noite meninas, tudo bem? Desculpe atrapalhar vocês, mas acabei ouvindo a
conversa e fiquei curioso para saber que comidas são essas que essa moça linda
está falando, a propósito, que cabelo lindo, e que belo chapéu.
─ Boa noite, tudo bem? Chamo-me Sophia, e essas aqui são minhas amigas, Kiara
e Isla. ─ Ficou toda vermelha por conta dos elogios do rapaz.
─ Prazer em conhecê-las, chamo-me Bernard. Eu e meu pai viemos conhecer um
pouco da culinária daqui da Finlândia, com a intenção de inovar no próximo Bocuse
d’Or.
─ O quê? Sério? É meu sonho participar dessa competição, apesar de falar bem o
francês, não tenho condições de sequer ir até lá, quem dirá me inscrever e passar
alguns dias na França.
─ Você parece ser bem sonhadora, e posso ver no brilho dos seus olhos que irá
conquistar tudo o que almeja. ─ Sem querer querendo, ele já estava conquistando
Sophia.
Naquele momento, ela começou a sentir algo que nunca havia sentido antes, estava
apaixonada. Bernard, que por sinal tinha o mesmo nome do seu querido e falecido
avô, conseguiu toca-la com suas palavras, com sua simpatia, além do olhar
penetrante e do belo sorriso. Ele era uma grande oportunidade para ela conseguir
realizar o sonho de participar do Bocuse d’Or, mas ela em nenhum momento olhou-o
com interesse, pelo contrário, beijá-lo já era seu novo sonho de consumo. As
meninas perceberam o clima que rolou entre os dois e deram um jeitinho de deixálos a sós.
─ Queridos, eu e a Isla vamos no meu quarto pegar um casaco, pois está muito frio
aqui. ─ Falou Kiara, puxando Isla pelo braço.
─ Também irei com vocês, meninas! ─ Exclamou Sophia, doida pra Bernard pedir
pra ela ficar.
─ Calma Sophia, já, já elas voltam, enquanto isso, te faço companhia. ─ Era tudo
que Sophia queria ouvir.
─ Então tá bom, podem ir, mas não demorem. ─ Ela falou com um olhar de:
demorem o máximo que puderem.
Os dois pombinhos começaram a conversar, se conhecer. Estavam bem pertinho,
até que Sophia espirrou, e Bernard não hesitou em tirar o casado de pele e colocar
sobre ela. Foi o estopim para que o silêncio tomasse conta do ambiente e os olhares
fixados um no outro começassem a se aproximar, até que…
─ Bernard? O que está fazendo aqui fora? Está muito frio. Quem é essa garota?
Muito bonita por sinal.
─ Oi pai, tudo bem, já vamos entrar. Essa aqui é a Sophia. Se o senhor não
aparecesse aqui, eu iria leva-la para conhecê-lo. Presenciei-a comentando com as
amigas sobre várias comidas típicas daqui da região.
─ Olha só, quem sabe não é justamente o que precisamos para o Bocuse d’Or?
(RISOS). Prazer em conhecê-la querida, meu nome é Richard.
─ O prazer é todo meu senhor, um dos meus sonhos é participar desse evento M-AR-A-V-I-L-H-O! ─ Sophia falou com um grande e belo sorriso.
Entraram e se sentaram no barzinho do hotel. Sophia começou a falar sobre a
culinária, sobre a família, sobre seus sonhos. Contou praticamente toda sua vida em
poucos minutos, enquanto Bernard estava paralisado admirando o bater dos seus
lábios conversando, e Richard com olhar de maldade, se imaginando aos beijos com
ela. Nenhum dos dois estava prestando atenção no que Sophia falava, até que ela
parou e quis saber um pouco sobre eles também.
─ E vocês? Pretendem ficar aqui até quando? Querem ir até a minha casa amanhã?
Ou melhor, hoje, mais tarde, para provar também da ceia que minha mãe e minha
avó fizeram? Não sei se dará pra todos, afinal, minhas amigas também irão, mas se
não der, eu posso fazer outro prato pra vocês experimentarem.
─ Hã? Quem? O que é que tem sua avó? ─ Disse Richard assustado, afinal, não
prestou atenção em nada do que ela havia dito.
─ E você Bernard? Entendeu alguma coisa do que falei?
─ E-e-eu, sim, sim, claro. Amanhã, ou melhor, hoje iremos até a sua casa, com
certeza. ─ Esse deu sorte, fez leitura labial, mas também não escutou nada.
Sophia despediu-se dos rapazes e seguiu para encontrar as amigas no quarto. Elas
já estavam dormindo. Resolveu dormir também. Enquanto isso Bomani e Bryan já
estavam voltando pra casa, após uma noite bem agradável.
Assim que o dia amanheceu, Sophia pediu para que os pais das amigas as
permitissem passar o dia na casa dela, e falou para Bernard e seu pai seguirem o
carro, pois iriam até sua casa. Assim fizeram. Chegando lá, Richard voltou os olhos
apenas para Olívia. Ele havia se separado recentemente da mãe de Bernard, após a
mesmo tê-lo pego em flagrante a traindo com uma irmã dela. Parece que ele não
aprendeu a lição e já estava procurando mais uma confusão.
─ Pai, mãe, vó, estes são Bernard e Richard, eles são franceses e vieram passar o
Natal aqui em busca de novos conhecimentos e ingredientes gastronômicos.
Os pais de Sophia e dona Matilda foram muito gentis com os convidados.
Apresentaram várias receitas, enquanto todos comiam do que sobrou da ceia, e não
foi pouca coisa. No quesito comida, as mulheres da casa eram bem exageradas.
Sophia cozinhava tão bem quanto à mãe e avó, que foram as suas professoras.
O dia foi bem proveitoso pra todos. No final da tarde os pais de Kiara e Isla, foram
busca-las. Richard comentou que iria apenas ao lado de fora fumar um cigarro e
depois ele e Bernard voltariam para o hotel. Eles viajariam dois dias depois.
Enquanto isso, Sophia convidou Bernard para conhecer o Clubinho das Ruivas.
Olívia e Alexander seguiram em direção à casa de Bryan para comprar o tão
sonhado carro. Dona Matilda, que não para quieta, foi lavar os pratos e arrumar a
cozinha.
No caminho até a casa de Bryan, o casal encontrou Bomani, que estava passeando
a cavalo. Perguntaram pelo patrão, e ele respondeu que o mesmo estava na
varanda da casa deitado na rede. Seguiram o destino. Bomani continuou o passeio.
Estava andando sem rumo, tentando espairecer, havia tomado algumas doses de
Kilju (bebida alcoólica artesanal), passou em frente à casa de Sophia e reconheceu
um antigo amigo.
─ Richard? Não acredito velho, é você mesmo? ─ Desceu do cavalo e correu para
abraça-lo.
─ Bomani? Quanto tempo meu amigo, calma, não me aperte tanto. Derrubou meu
cigarro, viu só? ─ Richard odiava bebida alcoólica.
Os dois se conheceram lá na França, muitos anos antes de Bomani conhecer e vir
trabalhar com Bryan. Quando ele chegou refugiado da República Democrática do
Congo, Richard lhe deu abrigo e emprego em seu restaurante, trabalharam juntos
por alguns anos. Richard odiava bebida alcoólica, porque perdeu muitos familiares e
amigos por doenças, brigas e acidentes provenientes do seu uso.
─ Então Richard, o que faz aqui na Finlândia? Achei que tivesse parado de fumar.
Você me contou histórias de pessoas que perdeu por conta de bebidas alcoólicas,
mas cigarro também mata, viu? E como veio parar logo aqui, próximo a fazenda
onde trabalho? Rapaz o mundo é pequeno mesmo viu, ainda bem que não sou seu
inimigo. ─ Sorriu e cambaleou.
─ Como vim parar aqui é uma longa história, mas daqui a dois dias, eu e meu filho
retornaremos pra França. Sobre o cigarro, eu até parei, fazia muito tempo que não
fumava. Mas hoje, depois de ter passado o dia todo admirando Olívia, não resisti e
tive que fumar pelo menos um pra relaxar. Que mulher, que mulher! ─ Falou
gesticulando com as mãos o famoso “Mamma Mia”.
─ O Bernard também está aqui? Meu Deus, a última vez que o vi, ele deveria ter uns
8 anos. Peraí. Você disse Olívia? Rapaz não olhe mais pra aquela mulher meu
amigo, é um conselho que lhe dou. Esses dias eu quase perdi meu emprego. Ela e
meu patrão estavam se pegando no meu quarto. Tentei chantageá-la. Falei que se
não fosse pra cama comigo, eu iria contar tudo para o marido dela. Estava quase
tudo certo para acontecer, mas meu patrão voltou de viagem mais cedo, ela não
apareceu por lá, nem toquei mais no assunto. O marido é bom de tiro viu, eu mesmo
não quero mais saber dela.
─ Hum… olha só, ela trai o marido. Bom saber. Estava pensando em levar Sophia
conosco para nos ajudar na preparação do prato que iremos fazer para o Bocuse
d’Or. Já sei como chantageá-la para deixar-me levar a filha comigo. Melhor ainda
seria se eu tivesse algo para chantagear o pai também.
Quando Richard acabou de fechar a boca, ouviu-se um barulho vindo da cozinha.
Saíram correndo para ver o que tinha acontecido. Dona Matilda havia passado mal.
Ela tomava medicamentos, pois tinha diabetes. Ficou tonta, e por acidente, acabou
pegando muitos comprimidos de hipoglicemiantes e os ingeriu de uma só vez.
Começou a delirar. Quando os rapazes chegaram na cozinha, ela estava caída
conversando sozinha.
─ Alexander, Alexander meu filho, não se preocupe, ninguém vai saber do seu
segredo. ─ Falava enquanto revirava os olhos.
Richard que não é bobo nem nada, começou a se passar por Alexander.
─ Mas que segredo minha mãe? Do que a senhora está falando?
─ Da Amélia. Você não lembra que vocês tinham um caso, e que o filho que ela
carregava no ventre, era seu? Inclusive nunca lhe contei isso, mas suspeito que a
Sophia não é sua filha, pois percebi que o vestido estava um pouco apertado na
Olívia no dia do casamento, até contei os meses, Sophia nasceu bem grandinha pra
ter sido de apenas sete.
Bomani e Richard se olharam com os olhos esbugalhados, estavam perplexos. Dona
Matilda adormeceu. Eles a levaram para o sofá, e saíram para retomar o papo que
agora teria muitos assuntos interessantes. Assim que chegaram ao lado de fora,
Bernard estava vindo do fundo da casa, fechando a braguilha da calça. Richard
tratou de perguntar o que ele e Sophia tanto faziam na casa da árvore e o porquê de
está fechando a braguilha.
─ Ah pai, ela estava me mostrando algumas poesias que fez junto com as amigas.
Além de linda, é cozinheira e poetiza. Sobre a braguilha, apenas fiz xixi ali atrás da
árvore.
Richard respirou aliviado, imaginou que o filho tivesse feito algo a mais com Sophia.
Chamou-o para voltarem ao hotel, pois já estava tarde, despediram-se de Bomani e
seguiram. Bomani retornou para casa, e no caminho voltou a se encontrar com
Olívia e Alexander.
─ Opa, olha só, o casal mais bonito que eu conheço. Parabéns pela conquista.
Acredito que esse carro será de grande valia para vossa família. ─ Disse em tom
irônico.
─ Muito obrigado. Meu marido estava aguardando esse momento há muito tempo,
não vejo a hora de chegarmos em casa para mostrarmos a surpresa para minha
sogra e minha filha. Tchau, até mais ver.
Seguiram. Chegando em casa não viram ninguém. Os convidados já haviam ido
embora, Sophia estava no quarto, e dona Matilda que já havia se recuperado, foi até
a casa da árvore procurar pela neta. Chegando lá se deparou com um pouco de
sangue no chão de madeira, e em um cantinho da casinha, encontrou o chapéu de
Sophia, também com algumas manchas de sangue, destacaram-se ainda mais no
lacinho branco. Dona Matilda já fazia ideia do que poderia ter acontecido, e por ser
fiel confidente da neta, tinha certeza de que ela seria a primeira pessoa que Sophia
contaria. E foi. Ela seguiu em direção ao quarto da neta para conversar a respeito do
que acabara de ver na casinha da árvore.
Toc-Toc-Toc
─ Quem é? ─ Perguntou Sophia, que estava chorando agarrada ao travesseiro.
─ Sou eu meu amor, vovó. Posso entrar?
─ Claro vó, entre. Chegou bem na hora.
Assim que dona Matilda entrou no quarto, Sophia correu para abraça-la. Ela sabia
que a vó a ouviria e a entenderia. Pediu para que ela se sentasse e começou a
contar tudo que havia acontecido na casinha da árvore.
─ Vó, não farei rodeios. Sei que para a senhora posso falar tudo sem receio.
Confesso que fui eu quem convidou o Bernard para ir até lá, também admito que
estava com muita vontade de beijá-lo desde a primeira vez que o vi. Depois que
entramos até tentei mostrar umas poesias pra ele, mas…
─ Mas ele te forçou a fazer algo? Ou foi a primeira vez dos seus sonhos?
─ Não vó, claro que não. Ele não forçou nada! Sei que sou sonhadora, mas nunca
sonhei com isso, nem fazia ideia de como era, e tenho certeza de que tenho muito
que aprender. Se for só aquilo, não é bom como já ouvi alguns adultos comentando.
Só fiquei deitada, e ele por cima de mim, forçou até conseguir penetrar. Senti muita
dor, sangrei. Sem contar que foi muito rápido, menos mal, pois assim sofri menos. A
demora foi mais por conta do nosso desespero tentando limpar o máximo que
conseguimos, e mesmo assim ficaram vestígios. Eu nem percebi que o chapéu
também estava melado, nem que havia o esquecido lá.
─ É meu bem, a primeira vez é sempre complicada pra mulher, você ainda deu sorte
que foi dentro de uma casa. A minha primeira vez foi em um curral, sobre forragens.
Mas as suas próximas serão melhores, pode ter certeza. ─ Riram muito juntas.
Dona Matilda prometeu para a neta que lavaria o chapéu logo cedo. Foram para a
sala, lá encontraram Olívia e Alexander, que as convidaram para conhecerem o
novo integrante da família. Após conhecerem o carro, que na verdade já era um
velho conhecido, foram jantar e posteriormente dormir.
No dia seguinte, logo cedo, Richard e Bernard foram visitar a família de Sophia. Eles
mal sabiam, mas o objetivo dos dois era levar a jovem para a França com eles
apenas para os ajudarem na competição de gastronomia mais famosa do mundo.
Richard tinha um plano, mas não sabia o que o aguardava. Sophia convidou Bernard
para ir com ela ao seu quarto, enquanto os demais ficaram reunidos na sala
conversando, então Richard deu início ao plano.
─ Bem, eu e meu filho viajaremos amanhã para a França, e como vocês sabem, o
grande sonho de Sophia é disputar o grandioso Bocuse d’Or. Pensei direitinho e
acredito que essa é uma grande oportunidade para ela realizar esse sonho, e quem
sabe dar um grande passo para o próprio futuro. Tenho certeza que com ela do
nosso lado, nossa chance de sermos campeões é gigantesca, e então, o que me
dizem?
A princípio, Olívia e Alexander disseram NÃO! Enquanto dona Matilda apenas ficou
em silêncio, ela também tinha um plano.
─ Pois bem. Não era bem isso que eu esperava ouvir de vocês, mas acredito que
posso fazê-los mudarem de ideia. Olívia, podemos conversar a sós?
Eles foram para o fundo da casa, e Richard começou com as chantagens.
─ É o seguinte, eu tentei numa boa, mas como vocês não são tão bons de negócios,
então terei que usar outra estratégia. O que aconteceria se seu marido ficasse
sabendo que você o traio com Bryan no quarto do vaqueiro?
─ Não sei do que você está falando.
─ Sério? E se ele ficasse sabendo que não é o pai de Sophia, e que o verdadeiro pai
é o melhor amigo dele?
─ Meu Deus do céu, quem te contou isso? Anda, fala seu desgraçado! ─ Falou
enfurecida e assustada.
─ Calma, calma. Mais ninguém precisa saber disso, basta você permitir que eu leve
a sua filha conosco. Ela vai apenas para realizar o sonho, depois ela volta. ─ Falou
certo de que já havia convencido um, agora faltava o outro.
Olívia acabou aceitando a proposta, ela não tinha outra alternativa. Seu futuro e o de
sua família estavam completamente nas mãos de Richard. Voltaram para a sala.
─ Minha sogra, meu marido, eu aceitei a proposta de Richard, realmente vejo como
uma grande oportunidade para ajudarmos nossa filha a realizar o grande sonho
dela. É algo que dificilmente conseguiríamos ajudá-la a realizar.
Dona Matilda continuou em silêncio, mas Alexander se exaltou e não se conformou
de Olívia ter aceitado a proposta de Richard, principalmente por ele e o filho serem
desconhecidos. O chantagista então convidou o pai para conversar a sós.
─ Calma Alexander, tenha calma homem. Vamos lá fora, tenho algo a lhe dizer.
Seguiram para o fundo da casa, chegava o momento de Richard dar a cartada final.
─ Então Alexander, quero lhe fazer apenas uma pergunta. O que aconteceria se a
Olívia soubesse que você a traia com a falecida esposa do seu melhor amigo, e que
inclusive a mesma estava esperando um filho seu?
─ Mas quem te falou isso? Só quem sabe desse segredo somos eu e minha mãe.
Seríamos 3 se Amélia ainda estivesse viva. ─ Falou intrigado.
─ Mas somos 3 meu amigo. (RISOS)
Voltaram para a sala. Richard já havia convencido o pai e a mãe, nem estava
preocupado com o que dona Matilda teria a dizer. O erro dele foi esse. Dona Matilda
resolveu romper o silêncio.
─ Seu Richard, agora você vai me ouvir. Os pais da minha neta podem até terem
concordado em deixa-la ir com vocês, e ela irá. Mas seu filho terá que casar com
ela?
─ Meu filho, casar com ela? ─ Soltou altas gargalhadas.
─ Você que vai escolher. Posso acionar a polícia acusando-o de sequestro, ou
posso acusar seu filho de estupro. E então, o que me diz?
─ Sobre o sequestro não me preocupo, já que Sophia já tem 18 anos e os pais dela
me autorizaram a levá-la. Mas quanto ao estupro, a senhora tem provas? Porque até
onde sei, meu filho e ela apenas ficaram lendo poesias.
─ Humrum, e quanto a esse chapéu dela que encontrei lá na casa da árvore, sujo de
sangue. Não vai me dizer também que é ketchup.
Richard não teve mais como se defender. Afirmou que o filho se casaria com Sophia
o quanto antes. Aproveitou e contou que o seu casamento com a mãe de Bernard foi
por esse mesmo motivo, e que o filho era um homem íntegro, que iria honrar os
princípios da família. Dona Matilda lembrou de um detalho e não hesitou em falar.
─ Então estamos resolvidos. Lembrei-me que dias atrás Bryan havia comentado
comigo que caso conseguisse vender o carro, ele e Bomani iriam até a França para
comprar um carro novo, pois tinha um modelo francês exclusivo que ele se
apaixonou ao ver da última vez que esteve por lá. Dependendo do dia que eles
forem viajar, podem fazer companhia pra Sophia. É bom ter alguém de confiança por
perto.
Olívia e Alexander ficaram assustados com a questão da filha não ser mais virgem,
e principalmente por ficarem sabendo daquela maneira. Mas concordaram com o
casamento, desde que a filha continuasse morando com eles.
Sophia e Bernard saíram do quarto e vieram para a sala, nem imaginavam o que os
aguardava. Richard tratou de tomar a iniciativa e informar aos futuros noivos sobre o
casamento.
─ Bernard, Sophia, sentem-se, por favor. Bernard lembra-te que contei o motivo pelo
qual eu e sua mãe nos casamos? Pois, bem, por ironia do destino você passará pelo
mesmo processo que eu. Lembra-te também da passagem da Bíblia Sagrada que li
pra você nesse mesmo dia? Êxodo 22:16 Se um homem seduzir uma virgem que
ainda não tenha compromisso de casamento e deitar-se com ela, terá que pagar o
preço do seu dote, e ela será sua mulher. ─ Falou olhando fixamente nos olhos do
filho.
─ Lembro sim meu pai, e sim, eu aceito me casar com você Sophia. E você? Aceita
se casar comigo?
─ Claro que sim. ─ Respondeu sem pensar.
Mas a verdade é que eles tinham tudo pra dar certo, e mesmo sendo um casamento
meio que, meio não, completamente obrigatório, eles se gostavam de verdade, e
esse gostar tinha tudo pra se tornar um verdadeiro amor.
No dia seguinte, dia em que Richard e Bernard viajariam e levariam Sophia junto,
Bryan também iria com Bomani para a frança. Foram todos juntos, inclusive no
mesmo vagão. Richard assim como na vinda, pagou para que o trem levasse seu
carro. Chegaram após 2 dias de viajem. Faltava pouco menos de um mês para o
Bocuse d’Or. Bryan e Bomani hospedaram-se num hotel a poucos metros da casa
de Richard. Eles iriam seguir as orientações de dona Matilda e vigiar Sophia de
perto.
O casamento foi marcado para o dia 23 de janeiro, um sábado, uma semana antes
do grande evento gastronômico. Richard fez toda correria para os preparativos, e
deixou os pombinhos responsáveis apenas de criarem o prato que viria a ser
apresentado no evento. Bryan já havia comprado o carro que tanto queria, mas ele e
Bomani iriam esperar pelo casamento, para depois retornarem pra casa. Sophia
telefonava todos os dias para conversar com a família e mantê-los atualizados sobre
tudo. Eles insistiam em dizer que não queria que ela morasse longe deles, mas
Sophia tratou de confirmar que isso não iria acontecer. Ela estava correndo atrás
dos sonhos dela e já tinha combinado com o futuro marido que assim que possível,
eles iriam abrir um restaurante em Helsinque e levá-los para morar com eles.
Chegou o tão esperado dia do casamento, os familiares e as amigas de Sophia
haviam chegado um dia antes. E ela que já era linda, ficou ainda mais vestida de
noiva. Dona Matilda, Olívia, Kiara e Isla não conseguiram conter as lágrimas ao vê-la
entrar na igreja com Alexander. Ela utilizou um longo e belo vestido branco, com
lindos detalhes de renda na parte das costas, um longo véu branco também de
renda, um salto alto Stiletto Strass dourado, e os mesmos brincos e broches e colar
de esmeralda que Olívia utilizou em seu casamento. A cerimônia foi extremamente
deslumbrante. Quando a noiva jogou o buquê, as amigas agarraram-no juntas. E
acredite, nos dias em que ficaram lá na França, Kiara e Isla acabaram conhecendo
seus futuros maridos. Chegou o dia de todos retornarem para a Finlândia, inclusive
os guarda costas de Sophia. A própria dona Matilda que os contratou, disse que não
seriam mais necessários os seus serviços. Os familiares foram pra casa, mas já na
esperança de receber o telefonema de Sophia falando que estaria vindo embora.
Enfim chegou o também tão esperado dia do maior evento gastronômico do mundo,
o Bocuse d’Or. E não é que eles venceram mesmo? Richard ficou responsável por
apresentar o prato e receber o prêmio, mas quem realmente fez teve todo o trabalho
foram os pombinhos. Na entrada serviram bolo de peixe finlandês com cobertura de
camarão, e para sobremesa, tortinha finlandesa com calda de frutas vermelhas e
chantilly. Venceram com unanimidade. Richard recebeu o troféu e uma bela quantia
em dinheiro, prêmios estes que ele fez questão de entregar aos verdadeiros
campeões.
Os meses foram passando e Sophia percebeu que seu fluxo menstrual estava
atrasado. Começou a ter enjoos. Será que essa gravidez iria adiar os planos dela e
do marido de terem o próprio restaurante? Que nada. Assim que ela contou para o
sogro, no mesmo dia ele pegou o primeiro trem direto para Helsinque. Estava tão
feliz que na hora que recebeu a notícia a primeira coisa que fez foi correr para a
estação de trem. Seria seu primeiro neto. Ele queria retribuir realizando o sonho
daqueles que realizaram o seu. Faltava Sophia ligar para dar as boas novas à
família.
─ Alô, vó?
─ Oi minha querida, que saudade. Já está vindo pra casa? ─ Começou a chorar. Ela
sempre chora quando fala com a neta por telefone.
─ Ainda não vovó, mas tenho uma notícia maravilhosa para dar a vocês.
─ Pois fale logo minha filha, que não estou me aguentando de curiosidade.
─ Eu estou grávida vó! ─ Falou chorando de tanta felicidade.
─ Obrigado meu Deus, oh minha querida, que felicidade, que benção. Seus pais
foram para Rovaniemi, mas assim que chegarem darei a notícia. Beijo minha
querida, amamos vocês.
─ Também amo vocês vovó. Beijo, tchau.
Assim que os pais de Sophia chegaram, dona Matilda tratou de dar a notícia. Ambos
se sentaram na hora, a princípio não acreditaram, tiveram que ligar para ouvir da
boca da própria filha, para aí sim a ficha cair. Quem não gostou muito disso foi dona
Matilda que foi toda empolgada pra contar e saiu como mentirosa. Mas enfim, depois
que eles finalmente acreditaram na gravidez de Sophia, dona Matilda tratou de
reunir os dois para uma conversa muito séria.
─ Escutem aqui vocês dois. No dia em que foram buscar o carro na casa de Bryan,
eu passei mal e sem querer tomei comprimidos demais, acabei delirando. Não lhes
contei isso no mesmo dia, porque só lembrei-me depois. Mas tem males que vem
para o bem. Como eu estava sob o efeito dos remédios, acabei revelando pra
Richard segredos de vocês dois, segredos estes que ele utilizou para convencê-los
a permitirem a ida de Sophia para a França. Pois bem, esta criança que a nossa
menina carrega no ventre é a nossa chance de voltarmos a ser uma família de
verdade, sem mentiras, sem traições, e coberta de amor. E espero que nenhum de
vocês venha me interrogar sobre o segredo do outro, pois não irei falar, e nem
tentem me obrigar a tomar mais remédio em excesso. Alexander e Olívia
concordaram com tudo que dona Matilda havia dito, e refletiram bastante, cada um
perante seus erros. Como pode uma criança que ainda nem nasceu mudar tantas
vidas?
Os meses foram passando. O restaurante já estava pronto pra ser inaugurado, e já
tinha até data marcada, 30 de setembro de 1993. Bernard e Sophia utilizaram o
dinheiro da premiação do evento para comprar a casa própria, localizada na mesma
rua do restaurante. Os familiares se mudaram para morar na casa de Sophia em
Helsinque. Quanto à fazenda eles deixaram aos cuidados de Bomani, que estava
com uma namorada que conheceu na França, Bryan também estava de namorada
nova. Kiara e Isla também casaram com franceses, mas resolveram ir morar no país
dos noivos.
A inauguração do restaurante foi um sucesso. No mesmo dia recebeu o prêmio de
melhor restaurante da cidade. Foi capa da maioria dos jornais da Europa. Dois dias
após a inauguração, Sophia começou a sentir contrações. Mas nem precisou sair de
casa, dona Matilda era parteira. Ela já possuía todos os instrumentos necessárias
em casa. Estava chegando o momento do nascimento do bebê.
─ Queiram nos dar licença, por favor, já tenho tudo que preciso aqui para a
realização do parto. Precisarei apenas da presença de Olívia para dar força à filha
nesse momento.
─ Vó, vai doer muito? Estou com medo vó. ─ Disse Sophia, bastante nervosa.
─ Calma minha filha, sua avó sabe o que está fazendo. Foi ela que fez o meu parto,
e eu estou aqui do seu lado, tenha fé que dará tudo certo. ─ Olívia tentou tranquilizar
a filha.
─ Já está vindo Sophia, força! Vamos, força! Isso meu bem, já está quase lá. Só
mais um pouco, vamos!
─ Unhééé-unhééé-unhééé.
─ Ai meu Deus, que linda! Minha filha, ela é igualzinha a você quando nasceu. ─
Disse Olívia, toda emocionada.
Dona Matilda finalizou os procedimentos, banhou o bebê e levou para que Sophia
pudesse ver pela primeira vez o rostinho daquela que seria o seu mais novo e
verdadeiro amor.
─ Ai vó como ela é linda. ─ Sophia não conseguiu conter as lágrimas.
─ Como ela irá se chamar, minha netinha? ─ Perguntou a bisavó babona.
─ Amora

FIM.

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