Pesquisadores da Faculdade de Odontologia da USP estão empregando modelos virtuais e impressões 3D para obterem resultados mais precisos nos tratamentos que envolvem próteses dentárias
Por Antonio Carlos Quinto – Quinta, 13 de maio de 2021
José Pimentel Girard – Foto: Arquivo pessoal
Os tratamentos que sugerem o uso de próteses totais suportadas por implantes têm agora ferramentas digitais que contribuem para que os procedimentos de reabilitações sejam mais eficientes e reduzam a possibilidade de erros. “Porém, cabe avaliar o impacto dessas novas ferramentas”, adverte o cirurgião-dentista José Pimentel Girard. O método fotoelástico, usado em pesquisa para analisar a força aplicada pelo indivíduo sobre dentes e estruturas protéticas, ao mastigar, pode prever com maior exatidão como será a distribuição das tensões sobre essas próteses, uma vez instaladas na boca. “Ou seja, o esforço que é feito no processo de mastigação”, explica Girard, que é doutorando do curso de Pós-Graduação do Departamento de Prótese da Faculdade de Odontologia (FO) da USP.
Girard e colaboradores, orientados pela professora Dalva Cruz Laganá, do Departamento de Prótese, vêm desenvolvendo uma pesquisa empregando o método fotoelástico para avaliar as novas tecnologias. “Estamos realizando as análises em tratamentos de reabilitação oral, com próteses e implantes osseointegrados”, descreve. De acordo com ele, as próteses totais (dentaduras) são empregadas como tratamento para desdentados totais. “A incidência destes pacientes é muito grande e pode ser considerado um problema mundial de saúde pública”, estima. “O número de desdentados totais vem aumentando, segundo um estudo atual”, conta o pesquisador, ressaltando que no Brasil os índices também seguem essa tendência.
Tratamentos mais adequados
“Quando um paciente opta ou tem a recomendação de reabilitar sua cavidade oral, a prótese total é comumente indicada, principalmente para uma população mais carente economicamente”, explica o pesquisador. Com o surgimento de novas tecnologias, novas opções de tratamento envolvendo próteses totais surgiram, havendo a necessidade de se avaliar o seu impacto. A partir dessa necessidade, surgiu uma pergunta clínica que deu origem à pesquisa: “Qual o impacto de novas tecnologias no tratamento de reabilitação oral? Notamos então, que fazer a análise das tensões mastigatórias que incidirão sobre tais aparelhos protéticos seria importante”, descreve.
A partir daí, os pesquisadores passaram a verificar qual seria o método mais indicado para obter resultados que possibilitassem a avaliação de tais tensões. Testaram em laboratório o método de elementos finitos, outro de avaliação por eletrocondução e a avaliação por fotoelasticidade. “Optamos por usar nas pesquisas o método da fotoelasticidade, já que o mesmo é amplamente difundido na odontologia e permite avaliar, por meio de simulações em laboratório, as tensões mastigatórias”, conta Girard.
Pacientes virtuais
A tecnologia proporcionou o desenvolvimento de “pacientes virtuais”, praticamente reproduzindo características reais de um paciente, bem como o desenvolvimento de novos dispositivos de pesquisa que foram impressos em 3D. “Dessa forma, constituímos em nosso estudo um modelo principal [modelo mestre-referência] e corpos de prova que foram utilizados para os testes. A partir deles, foram confeccionados modelos com material resinoso, dando origem aos modelos fotoelásticos.”
Girard conta que utilizou um modelo mestre de uma mandíbula humana desdentada total. A partir daí, a opção de tratamento foi de se instalar nesse paciente virtual quatro implantes dentários para suportar uma prótese total. “No tratamento real, os implantes são os que sustentam a prótese total”, descreve o cirurgião-dentista. Em seguida, a prótese é fixada sobre os quatro implantes. Pacientes portadores desse tipo de prótese devem ser submetidos a exames periódicos para controle e prevenção, evitando problemas como a peri-implantite, que pode até provocar a perda dos implantes. O modelo mestre, então é moldado para gerar o modelo fotoelástico, que passará a ser avaliado pelo método da fotoelasticidade, que dá ênfase à análise das tensões.
O modelo de resina fotoelástica é sensível à luz polarizada (direcionada). Recebe as tensões, simulando a carga exercida durante o processo de mastigação e é iluminado pela luz polarizada. As tensões podem ser identificadas na forma de franjas coloridas que, na física, são denominadas de “franjas de tensão”. Essas imagens podem ser fotografadas ou até mesmo filmadas.
A partir de padrões pré-concebidos, nos é permitido saber, pelas imagens das franjas coloridas, como as tensões vão se comportar na boca do paciente. “Isso permite avaliar o impacto das próteses, ajudando a desenvolver tratamentos mais adequados, menos traumáticos e com maior conforto”, afirma Girard. Por meio dos padrões e distribuição das franjas é que são feitas avaliações qualitativas e quantitativas para promover a distribuição ideal das tensões.
De acordo com o cirurgião-dentista, já existem várias publicações internacionais mostrando a importância do uso do método fotoelástico, sendo que pesquisadores da FO são referência na sua utilização. Informações do site Jornal USP.
Mais informações: e-mail [email protected], com José Pimentel Girard