O professor, poeta e ativista cultural Antonio Carlos Pires Santos, conhecido como Puluca Pires, evoca uma rica tapeçaria de lembranças da cidade de Ipirá. Sua narrativa começa com a curiosa história de sua infância, marcada pelas mudanças geográficas e sociais ao longo dos anos.
A Praça e as Primeiras Lembranças
Puluca nasceu em uma praça histórica, onde atualmente se localiza o Hotel de Pato Bar. Com apenas 30 dias de vida, sua família mudou-se para o outro lado da praça, perto da casa de Emílio, vizinha à famosa casa de Dona Lulinha do licor. Essas mudanças, aparentemente pequenas, moldaram sua percepção de um Ipirá que tinha como epicentro a praça, o Puxa, o Campo do Gado e a Praça do Mercado, com a Praça Santana se destacando lateralmente.
A Infância e os Tanques
Os tanques, fundamentais na infância de Puluca e de toda a sua geração, eram cenários de aventuras e travessuras. As crianças, escondendo-se dos pais, iam tomar banho nesses reservatórios de água(Tanque de beber e Santana). A técnica da unha usada pela mãe de Puluca para descobrir a escapulida ao tanque era infalível: passar a unha na perna para verificar se havia sujeira acumulada. No entanto, a curiosidade e o desejo de explorar sempre os levavam de volta ao tanque, mesmo sabendo que poderiam receber uma bronca.
A Transformação da Cidade
Puluca observa com nostalgia a transformação de Ipirá, onde a expansão urbana avançou além das casas populares, modificando a paisagem que outrora conhecera. Esta mudança é simbolizada pela ausência das águas dos tanques, que inspirou Puluca a escrever uma poesia musicada por Raimundo Sodré, capturando a falta que essas águas fazem na cidade.
Poesia
Água pura e cristalina num sem fim de correnteza
A sede dos desalmados
Acabou toda a beleza
Devastaram, assorearam
Destruíram a natureza
De tudo que tinha lá
Só restou desolação
Chora, chora Ipirá
Lamenta, meu camisão
Na bica da caboronga
Fio d’água escorrer
As margens do Rio do Peixe
Água suja de se ver
Tanque velho, tanque novo
De Santana e de beber
De ver tanta água secar
Já secou meu coração
Chora, chora e Ipirá
Lamenta meu camisão
O Papel das Culturas Populares
Em 2013, como delegado da sociedade civil de Ipirá na Conferência Territorial de Cultura da Bacia do Jacuípe, Puluca destacou a importância de revitalizar as Culturas Populares. Ele defendeu a necessidade de fortalecer este setor, frequentemente negligenciado pelo poder público municipal. Puluca ressaltou que a conferência era uma oportunidade para o fortalecimento conjunto desse aspecto cultural vital.
As palavras de Puluca Pires Santos não apenas contam uma história pessoal, mas também refletem o desejo de preservar e valorizar a rica herança cultural de Ipirá, garantindo que as novas gerações possam reconhecer e celebrar as tradições de sua cidade natal.