Na passagem de dezembro para janeiro, as vendas no comércio varejista no país aumentaram 2,5%. É a primeira alta estatisticamente significativa desde setembro do ano passado, quando o crescimento foi de 0,8%. Depois disso, o comércio passou por dois meses de estabilidade (-0,3% em outubro e 0,2% em novembro) e um de queda (-1,4% em dezembro). Com isso, em janeiro, o setor operava 5,7% acima do patamar pré-pandemia, registrado em fevereiro de 2020, e 0,8% abaixo de seu nível recorde, alcançado em outubro de 2020. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada hoje (14) pelo IBGE.
“O comércio varejista veio de dois meses mais fracos, em que os resultados foram bastante abaixo do que poderíamos ter visto. Esse é um comportamento que foi observado não só em 2024, mas também em outros anos, quando, por exemplo, houve queda nas vendas no fim de 2022 e uma recuperação em janeiro”, lembra o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Cinco das oito atividades investigadas na pesquisa avançaram em janeiro deste ano. Dentre elas, os destaques foram as de tecidos, vestuário e calçados (8,5%) e de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (6,1%), que exerceram as principais influências sobre o resultado total do comércio varejista.
“Setorialmente, os resultados vieram com muita amplitude de crescimento em setores que tiveram queda grande no Natal, depois de concentrar as vendas na Black Friday. Isso aconteceu em tecidos, vestuário e calçados, móveis e eletrodomésticos (3,6%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação e outros artigos de uso pessoal e doméstico (5,2%), que, juntos, puxaram o crescimento do varejo em janeiro”, destaca o pesquisador.
Uma das mais prejudicadas durante a pandemia de Covid-19, a atividade de tecidos, vestuário e calçados registrou queda de 6,9% em dezembro. “Esse setor ainda está longe de se recuperar das perdas da pandemia. Entre as atividades pesquisadas, é a segunda que está mais distante do patamar de fevereiro de 2020, perdendo, nesse sentido, apenas para o segmento de livros, jornais, revistas e papelaria, que está 46,7% abaixo desse nível”, pontua Cristiano. Com o resultado de janeiro, o setor de tecidos se encontrava 19,3% abaixo do nível pré-pandemia. No ano passado, foram sete meses no campo negativo.
Ele observa que um dos fatores que atingiram o setor de tecidos foi a crise contábil de grandes cadeias de lojas. “No final de 2022 e ao longo do ano seguinte, algumas empresas revisitaram seus balanços e tiveram que fechar lojas físicas, o que acabou deixando o patamar bem abaixo”, explica o gerente da pesquisa. Além desse setor, ele destaca, entre os mais afetados pela crise, o de outros artigos de uso pessoal e doméstico, que abarca lojas de departamento, e o de móveis e eletrodomésticos.
Outro setor em alta em janeiro foi o de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,9%). O segmento, que é o de maior peso na pesquisa (55,5%), está no terceiro mês seguido no campo positivo. “Há uma influência do componente inflacionário e também do maior consumo das famílias, especialmente de alimentos e bebidas”, ressalta. Em janeiro, o setor estava 9,9% acima do patamar pré-pandemia.
Ele completa que a característica observada no segmento de hiper e supermercados difere de outras atividades, que são mais relacionadas às promoções. “Nesses outros setores, o consumo foi mais concentrado em novembro, que é o mês da Black Friday. Então muitas pessoas antecipam as compras de Natal por conta dos preços. E em janeiro há outra onda de promoções, com as queimas de estoque”, analisa.
O varejo ampliado, que tem duas atividades adicionais nesse indicador, cresceu 2,4% de dezembro para janeiro, com alta em veículos, motos, partes e peças (2,8%).
Por outro lado, três atividades do varejo restrito ficaram no campo negativo em janeiro: livros, jornais, revistas e papelaria (-3,6%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,1%) e combustíveis e lubrificantes (-0,2%). Quando considerado o varejo ampliado, há também a variação negativa do setor de material de construção (-0,2%).
Entre as que tiveram queda nas vendas, destaca-se a atividade de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria, que é a terceira de maior peso na pesquisa e exerceu a principal influência negativa no mês. “Nesse setor, também houve o componente inflacionário, com a reposição de patamares de preço de dezembro para janeiro, além do resultado menor das empresas que atuam na parte perfumaria e cosméticos”, observa.
Seis atividades avançam na comparação com janeiro do ano passado
Em janeiro, as vendas no varejo aumentaram 4,1% em relação ao mesmo período do ano passado. Esse crescimento foi disseminado por seis dos oito setores do varejo restrito: artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (7,1%), hiper e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (6,4%), equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (4,3%), tecidos, vestuário e calçados (0,7%), combustíveis e lubrificantes (0,6%) e móveis e eletrodomésticos (0,3%).
Já os setores de livros, jornais, revistas e papelaria (-9,0%) e de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,2%) recuaram nesse período. No varejo ampliado, as três atividades adicionais consideradas nesse indicador ficaram no campo positivo: veículos, motos, partes e peças (11,9%), material de construção (0,4%) e atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo (16,1%).
“Nessa perspectiva de longo prazo, fica mais evidente a relação com a queda na taxa básica de juros, que causou a expansão do crédito, ainda que de forma lenta. Outro fator é o aumento da população ocupada e da massa de rendimento, que também impactou esse crescimento de 4,1% no ano”, aponta Cristiano.
Mais sobre a pesquisa
A PMC produz indicadores que permitem acompanhar o comportamento conjuntural do comércio varejista no país, investigando a receita bruta de revenda nas empresas formalmente constituídas, com 20 ou mais pessoas ocupadas, e cuja atividade principal é o comércio varejista.
Fonte: Agência IBGE / Foto: Helena Pontes/Agência IBGE