As incríveis imagens do lendário navio naufragado de Shackleton, que afundou em 1915 na Antártida

cultura
  • Rebecca Morelle e Alison Francis
  • BBC News

Depois de mais de 100 anos escondido nas águas geladas da Antártida, o lendário navio Endurance do explorador Ernest Shackleton, que afundou em 1915, foi revelado em detalhes extraordinários em 3D.

Pela primeira vez, podemos ver a embarcação, que está a 3.000 metros de profundidade no Mar de Weddell, como se a água turva tivesse sido drenada.

A varredura digital, feita a partir de 25 mil imagens em alta resolução, foi realizada quando o navio foi encontrado em 2022.

As imagens foram divulgadas agora como parte de um novo documentário chamado Endurance, que será exibido nos cinemas.

A equipe analisou cuidadosamente as imagens em busca de pequenos detalhes, cada um dos quais conta uma história que liga o passado ao presente.

Na foto abaixo, você pode ver os pratos que a tripulação utilizava nas refeições diárias, deixados espalhados pelo convés.

Pratos utilizados pela tripulação do Endurance nas refeições, entre os restos do navio.

Na seguinte, há uma bota que pode ter pertencido a Frank Wild, o segundo no comando depois de Shackleton.

Bota do explorador entre os restos do navio.

Talvez o mais extraordinário de tudo seja uma pistola de sinalização mencionada nos diários que a tripulação mantinha.

Pistola de sinalização, entre os restos do navio.

A pistola de sinalização foi disparada por Frank Hurley, o fotógrafo da expedição, quando o navio que havia sido o lar da tripulação se perdeu no gelo.

“Hurley pega esta pistola de sinalização e a dispara no ar com uma grande detonação, como um tributo ao navio”, explica John Shears, que liderou a expedição que encontrou o Endurance.

“E depois, no diário, ele fala sobre tê-la deixado no convés. E lá estamos nós. Voltamos mais de 100 anos depois, e lá está a pistola de sinalização, é incrível.”

Uma missão condenada ao fracasso

Ernest Shackleton foi um explorador anglo-irlandês que liderou a Expedição Imperial Transantártica, que se propôs a fazer a primeira travessia terrestre da Antártida.

Mas a missão estava condenada ao fracasso desde o início.

O Endurance encalhou em um bloco de gelo semanas depois de partir da Geórgia do Sul.

A embarcação, com a tripulação a bordo, ficou à deriva durante meses até finalmente ser dada a ordem de abandonar o navio. E acabou afundando em 21 de novembro de 1915.

Shackleton e seus homens foram forçados a viajar centenas de quilômetros sobre gelo, terra e mar até chegar a um lugar seguro. Milagrosamente, todos os 27 membros da tripulação sobreviveram.

Sua extraordinária história foi registrada em seus diários, assim como nas fotografias de Frank Hurley, agora colorizadas para o documentário Endurance.

Ernest Shackleton a bordo del Endurance
BFI/Frank Hurley

O barco propriamente dito permaneceu perdido até 2022.

Sua descoberta virou notícia no mundo todo — e as imagens do Endurance revelaram que está incrivelmente conservado pelas águas geladas.

O novo modelo em 3D foi feito usando robôs subaquáticos que mapearam os destroços do naufrágio de todos os ângulos, tirando milhares de fotografias. As imagens foram então reunidas para criar uma cópia digital da embarcação.

Embora os vídeos filmados a esta profundidade possam mostrar apenas partes do Endurance na escuridão, o modelo em 3D revela o naufrágio de 44 metros de comprimento por completo, da proa até a popa.

As imagens registram até mesmo os sulcos esculpidos no sedimento, à medida que o navio deslizava até parar no fundo do mar.

O modelo mostra como o navio foi esmagado pelo gelo — os mastros tombaram, e partes do convés ficaram destruídas —, mas a estrutura em si está praticamente intacta.

Os descendentes de Shackleton dizem que o Endurance nunca vai ser erguido do fundo do mar. E sua localização, em uma das partes mais remotas do planeta, significa que visitar o naufrágio novamente seria extremamente desafiador.

Mas Nico Vincent, da companhia Deep Ocean Search, que desenvolveu a tecnologia para as varreduras, em parceria com a empresa Voyis Imaging e a Universidade McGill, no Canadá, afirma que a réplica digital oferece uma nova maneira de estudar a embarcação.

“É algo absolutamente fabuloso. O naufrágio está quase intacto,, como se tivesse afundado ontem”, diz Vincent, que também foi co-líder da expedição.

Ele acredita que o modelo em 3D poderia ser usado por cientistas para estudar a vida marinha que colonizou o naufrágio, para analisar a geologia do fundo do mar e para descobrir novos artefatos.

“Portanto, esta é realmente uma grande oportunidade que podemos oferecer para o futuro.”

As imagens pertencem ao Falklands Maritime Heritage Trust, uma ONG com sede em Londres que busca preservar a história marítima das Ilhas Falklands (denominação britânica para as ilhas Malvinas). A organização também financiou e organizou a expedição para encontrar o navio de Shackleton.

O documentário Endurance estreou no Festival de Cinema de Londres em 12 de outubro.

* Com informações adicionais de Kevin Church. O navio Endurance, do explorador Ernest Shackleton, que afundou em 1915 — Foto: Falklands Maritime Heritage Trust

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