Público pediu cessar-fogo em Gaza. Eventos anteriores foram vetados por virarem palco de discursos antissemitas e de glorificação da violência. Em Israel, insatisfação com sequestro de 240 também enseja protestos.
Domingo, 5 de novembro de 2023
Cerca de 8,5 mil pessoas participaram de uma marcha pró-Palestina de teor “predominantemente pacífico” em Berlim neste sábado (04/11), informou a polícia.
Atendendo a uma convocação de organizações de esquerda árabes e alemãs, os manifestantes pedem um cessar-fogo e o fim dos bombardeios na Faixa de Gaza.
Alguns dos presentes tinham o rosto coberto, outros agitavam bandeiras palestinas, exibiam cartazes ou gritavam palavras de ordem como “pare o genocídio em Gaza” – acusação contestada por apoiadores de Israel – ou “liberdade para a Palestina”.
A região entrou no 29º dia de conflito, deflagrado quando integrantes do grupo radical islâmico Hamas invadiram Israel, massacrando cerca de 1.400 pessoas, a maioria civis, e sequestrando outros mais de 240. Desde então, Gaza está sob bombardeio intenso, e a população civil sofre enquanto o Hamas – acusado de usar inocentes como escudo humano ao passo que se mantém entrincheirado debaixo de uma extensa rede de túneis – continua a lançar foguetes na direção de Israel, que enfrentou ataques vindos ainda da Síria e do Líbano.
O Hamas aposta no prolongamento do conflito às custas da população civil como estratégia para forçar Israel a aceitar um cessar-fogo – endossado por parte da comunidade internacional – e uma troca de reféns por prisioneiros palestinos, segundo fontes da organização ouvidas pela agência de notícias Reuters.
Cerca de mil policiais acompanharam o ato deste sábado a fim de prevenir eventuais confrontos – manifestações anteriores foram marcadas por violência e palavras de ordem de teor antissemita e de apoio ao Hamas, organização considerada terrorista pela Alemanha e outros países do Ocidente.
Segundo a imprensa alemã, foram registradas 64 queixas – 16 delas por suspeita de “incitação ao ódio contra um povo”.
Na Alemanha, a incitação ou glorificação da violência contra grupos étnicos ou nacionais é proibida pela Constituição. O país considera a segurança de Israel uma “responsabilidade histórica”, razão pela qual não tolera questionamentos à existência do Estado judeu – o Hamas tem por missão estatutária a aniquilação de Israel – e ao seu direito de defesa.
Polícia barrou outras manifestações antes
Um dia após os atentados terroristas do Hamas de 7 de outubro, dezenas de pessoas chegaram a se reunir no distrito de Neukölln para celebrar o massacre e distribuir doces a passantes. O ato foi posteriormente dispersado pela polícia, mas gerou mal-estar e indignação na opinião pública.
Dias depois, alegando preocupações de segurança, a polícia anunciou a proibição pontual de atos que representassem possíveis “perigos para a segurança e para a ordem pública”. A medida afetou 20 de um total de 45 protestos desde a eclosão do conflito – a liberdade de reunião em locais públicos é um direito fundamental garantido pela Constituição alemã, mas manifestações precisam ser comunicadas previamente à polícia.
Um ato pró-Palestina também neste sábado na cidade de Düsseldorf reuniu outras 17 mil pessoas e transcorreu pacificamente, segundo a agência de notícias dpa. Houve apreensões de cartazes que relativizavam o Holocausto.
A polícia também apura a exibição de cartazes exigindo a criação de um califado islâmico em uma manifestação realizada na sexta em Essen.
No final de semana anterior, outras 10 mil pessoas marcharam em Kreuzberg, outro distrito de Berlim.
Falando à rádio Deutschlandfunk, o Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha condenou as mensagens antissemitas em atos pró-Palestina e pediu cautela aos que se juntam a manifestações do tipo, citando “violações muito claras, violações antissemitas, de ódio a judeus”.
Em Paris, palco de outro ato pró-Palestina e pró-cessar fogo neste sábado, parte da multidão acusava Israel de ser “assassina” – o chefe de polícia havia anunciado previamente que não toleraria comportamentos antissemitas e glorificação do terrorismo. No mesmo dia, segundo a Reuters, na também francesa cidade de Lyon, um homem esfaqueou uma mulher judia na porta de casa, pichada com uma suástica. A polícia procura o autor do crime.
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Cessar-fogo atenderia apenas aos interesses do Hamas, afirmam aliados de Israel
Israel rejeita a ideia de um cessar-fogo, no que é apoiado pelos Estados Unidos. “Um cessar-fogo apenas manteria o Hamas no poder, permitindo que se reagrupem e repitam o que fizeram em 7 de outubro”, afirmou neste sábado o secretário de Estado americano Anthony Blinken. O emissário da Casa Branca, contudo, reiterou o apoio americano a “pausas humanitárias” que permitam um fluxo de ajuda humanitária e a retirada de civis de Gaza.
Segundo a Sociedade do Crescente Vermelho egípcia (braço da Cruz Vermelha), 1.102 estrangeiros e palestinos com dupla nacionalidade deixaram Gaza pela fronteira de Rafah, aberta pela primeira vez neste sentido só na quarta semana de conflito. A saída, porém, teria sido barrada neste sábado pelo Hamas, segundo do Crescente Vermelho Palestino.
Também no sábado, falando a membros do partido dos Verdes, o vice-chanceler alemão Robert Habeck defendeu que o Hamas “precisa ser destruído porque [o grupo] está destruindo o processo de paz no Oriente Médio“.
Ministro do Exterior da vizinha Jordânia, Ayman Safadi disse discordar que a ação militar israelense seja autodefesa. “Não pode ser justificado sob nenhum pretexto e não trará paz nem segurança à região.”
Protestos também em Israel
Milhares também foram às ruas em Israel para pedir a libertação dos mais de 240 reféns mantidos há 29 dias em Gaza pelo Hamas. É a segunda semana de protestos, e segundo o jornal israelense Haaretz há atos marcados em Haifa, Tel Aviv, Jerusalém, Beer Sheva, Eilat, dentre outras cidades.
Pessoas se reuniram em frente à residência oficial do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, para pedir sua renúncia do cargo – o premiê tem evitado se pronunciar sobre a responsabilidade e eventuais falhas do governo em relação ao 7 de outubro, dizendo que prestará contas quando a guerra declarada contra o Hamas terminar.
Alguns familiares dos reféns têm passado as noites acampados em barracas armadas em frente ao quartel-general de defesa em Tel Aviv. O Hamas alega que mais de 60 reféns estariam desaparecidos como consequências dos bombardeios em Gaza – não é possível verificar essa informação de forma independente.
ra (ots, dpa, AP, Reuters)