Atraso no desenvolvimento infantil pode estar relacionado à pandemia, diz estudo

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Cientistas identificaram alguma suspeita de atraso no desenvolvimento de 22% das crianças avaliadas em estudo realizado em Minas Gerais

Crianças nascidas após 2020 praticamente não conhecem um mundo livre de máscaras e de algum tipo de restrição, que inclui o distanciamento social. Desde o início da pandemia de Covid-19, cientistas avaliam os potenciais impactos da infecção pelo coronavírus em gestantes e bebês em formação.

Um dos pontos em investigação é a possibilidade de imunização dos recém-nascidos, pela transmissão através da placenta de anticorpos durante a gestação de mães que entraram em contato com o vírus ou que foram vacinadas contra a doença.

Cientistas brasileiros vão além e buscam identificar possíveis atrasos no desenvolvimento infantil provocados pelo contexto pandêmico.

Os estudos são conduzidos por pesquisadores da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com o Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad) e com a Secretaria Estadual de Saúde (SES-MG).

pesquisa, que teve início em abril de 2021, está acompanhando 560 bebês nascidos durante a pandemia. Os bebês que participam da pesquisa nasceram no início de 2021 nos municípios de Uberlândia, Ipatinga, Contagem, Nova Lima e Itabirito.

Os critérios para a escolha dos cinco municípios foram a taxa de prevalência de Covid-19, o número de nascimentos por mês e a existência de rede de apoio para necessidade de reabilitação das crianças com alterações nos testes de neurodesenvolvimento.

Os especialistas avaliam o grau de desenvolvimento dos bebês através de duas metodologias, as escalas Bayley e ADL (Avaliação do Desenvolvimento da Linguagem). Ainda em andamento, a avaliação conta com o uso de brincadeiras e de atividades lúdicas com os pequenos participantes.

Até o momento, os especialistas identificaram que tanto as crianças que apresentaram anticorpos quanto as que não tiveram possuem alguma suspeita de atraso no desenvolvimento – um índice de cerca de 22%.

De acordo com Vivian Azevedo, professora do curso de fisioterapia da UFU e responsável pela coleta de dados em Uberlândia, essas informações apontam para o fato de que o ambiente familiar em que esses bebês estão inseridos é o maior responsável por possíveis comprometimentos no desenvolvimento e na linguagem.

“Através do SWYC, que é um questionário de triagem realizado pelo telefone, percebemos que cerca de 52% dos bebês apresentavam suspeita de algum tipo de problema de comportamento, como irritabilidade e inflexibilidade”, afirma Vivian, em comunicado.

A primeira triagem foi feita aos seis meses de vida, por meio de inquérito telefônico realizado com as mães. Chamou a atenção dos pesquisadores a presença de fatores de risco no ambiente familiar, como uso abusivo de álcool e drogas (32%), insegurança alimentar (29%) e depressão materna (16%).

“Comparando com estudos anteriores, a vulnerabilidade psicossocial encontrada nessa amostra foi superior à observada antes da pandemia”, afirma a professora Cláudia Lindgren, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, em comunicado.

Acompanhamento contínuo

Agora, aos 12 meses de vida, os bebês estão passando por avaliação do desenvolvimento e da linguagem para confirmação do diagnóstico.

“Fazemos uma série de testes para confirmar a suspeita de atraso e, se necessário, começar uma intervenção o mais cedo possível e minimizar os possíveis prejuízos em longo prazo”, diz Cláudia.

Foram testadas cerca de 4 mil pessoas, entre mães e bebês. Dessas, 1.917 foram elegíveis para estudo e 279 crianças (15%) apresentaram anticorpos contra o SARS-CoV-2. O teste do pezinho foi escolhido por ser um dos principais testes neonatais e usado na detecção de várias outras doenças.

A pesquisa de anticorpos contra o coronavírus foi feita na primeira semana após o parto. As crianças foram separadas em dois grupos: um com 196 mães com sorologia positiva para Covid-19 e outro com 364 mães que testaram negativo.

As especialistas apontam que não foi observada diferença no desenvolvimento dos bebês entre os dois grupos.

“Nossa hipótese é que os riscos ambientais se sobrepõem aos efeitos diretos da infecção pelo SARS-CoV-2 nos bebês durante a gestação, ou seja, os problemas de desenvolvimento e comportamento estão mais relacionados com o estresse psicossocial vivido pelas famílias durante a pandemia”, observa a professora.

Desde abril de 2022, os casos com suspeita de atraso estão sendo avaliados presencialmente com testes para diagnóstico de problemas de desenvolvimento e de linguagem, que vão gerar evidências mais robustas sobre o cenário. O acompanhamento deverá durar dois anos e será feito via inquéritos por telefone, consultas e testes de desenvolvimento dos bebês dos dois grupos estudados.

Fonte: CNN Brasil

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