Onze pessoas da mesma família foram resgatadas em situação de trabalho análogo à escravidão em uma fazenda na cidade de Santa Inês, região do Vale do Jiquiriçá, após uma ação conjunta entre o Ministério do Trabalho e Emprego, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Defensoria Pública da União (DPU) ao longo desta semana. Além dos adultos, oito menores de idade, incluindo um adolescente de 14 anos, também foram resgatados e encontravam-se trabalhando na propriedade.
Ao Blog do Valente, a auditora do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Liane Durão, relatou detalhes desse caso. A denúncia chegou até a equipe através de um servidor do município, que encontrou os trabalhadores após percorrerem cerca de vinte quilômetros ao saírem da fazenda onde estavam alojados. Uma força-tarefa foi montada, envolvendo a auditora fiscal do trabalho, representantes do Ministério Público do Trabalho, Defensoria Pública da União, justiça e direitos humanos, além de uma assistente social. A equipe realizou entrevistas com os trabalhadores e, no dia seguinte, dirigiu-se à fazenda com o apoio da Polícia Rodoviária Federal para verificar as condições dos alojamentos.
“Alojamentos precários, sem água potável, com instalações elétricas improvisadas, rachaduras nas paredes e falta de higiene adequada. Além disso, o banheiro era compartilhado por dezenove pessoas e não havia água encanada, sendo necessário utilizar baldes. O local onde o veneno era armazenado também foi considerado inadequado e interditado,” disse auditora ao Blog do Valente.
Os trabalhadores relataram que recebiam notas para comprar alimentos em um único mercado determinado pelo patrão, e esses valores seriam descontados de seus salários. No entanto, ao receberem o pagamento, constataram que ainda estavam em débito com o empregador, mesmo após terem trabalhado por trinta dias.
A entrevista também abordou as declarações do ex-prefeito da região, que alegou perseguição política como motivo das denúncias. A auditora destacou que o trabalho da fiscalização não está relacionado a questões políticas e que sua equipe atua de forma isenta, independentemente do governo vigente.
Em relação à água, o empregador afirmou que era encanada e possuía a mesma qualidade da água que ele consumia. No entanto, os trabalhadores relataram que a água caía apenas nos primeiros dias e que tiveram que improvisar uma forma de obtê-la.
“Os trabalhadores relatavam que pegavam a água de forma improvisada que caía numa espécie de vala. Água vinha do local da ordenha do das vacas,” disse Liane Durão ao radialista Leo Valente.
A auditora explicou que o caso será devidamente analisado, garantindo ao empregador o direito à defesa, mas ressaltou que a falta de água foi apenas um dos problemas encontrados. As condições degradantes dos alojamentos, a falta de registro de funcionários, o armazenamento inadequado de veneno e a ausência de proteção individual também foram fatores determinantes para caracterizar o trabalho em condição análoga à escravidão.
Fonte: Blog do Valente